• 𝗠𝗔𝗡𝗨𝗔𝗟 𝗗𝗘 𝗦𝗢𝗕𝗥𝗘𝗩𝗜𝗩Ê𝗡𝗖𝗜𝗔 𝗗𝗢 𝗔𝗠𝗢𝗥 •
─── 𝓦allker 𝓢cobell 𝓢arah 𝓐nnlyn ───
Sarah nunca imaginou que seus dias de colégio seriam vividos entre paredes luxuosas, corredores cheios de segredos e alunos acostumados ao peso d...
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!Sarah Annlyn ¡
EU ENCARAVA A fachada da nova escola, com seus prédios de tijolos claros e janelas perfeitamente alinhadas, como se cada detalhe tivesse sido desenhado para transmitir organização e poder. Não era só uma escola, era um campus inteiro, um daqueles lugares em que os alunos moravam e estudavam no mesmo espaço.
Era o primeiro dia de aula, e o pátio estava lotado. Por todos os lados, havia estudantes arrastando malas de rodinhas, carregando caixas cheias de coisas pessoais ou equilibrando bolsas de marca no ombro. Alguns se despediam dos pais com abraços rápidos; outros, nem se davam ao trabalho de olhar para trás.
Continuei observando em silêncio pela janela do carro. Peguei minha câmera digital, que descansava no banco ao meu lado, e registrei a cena. O clique foi baixo, mas reconfortante. Às vezes, eu preferia estar desse lado da câmera, o lado que observa, que registra, em vez de ser o foco. É mais fácil olhar para o mundo quando ele está preso dentro de uma moldura.
─── Uau, tem tantas atividades extracurriculares legais... Eu ficaria maluca aqui! ─── disse minha mãe no banco do motorista, folheando o pacote de papéis de informações que havia recebido. Seu tom era empolgado, quase infantil, como se estivéssemos diante de um parque de diversões e não de uma escola.
─── Mãe... você vai ficar bem? ─── perguntei, virando o rosto para encará-la.
─── É claro que vou! Agora estou tomando aqueles remédios super chiques e coloridos ─── ela respondeu com um sorriso, como se aquilo fosse uma piada que deveria me tranquilizar.
Mas eu continuei séria, estudando cada detalhe de sua expressão. Não conseguia evitar o pensamento: será que ela tinha me colocado em uma escola interna apenas para que eu parasse de me preocupar com ela?
─── Eu tô bem, amor! Vai lá, aproveita sua adolescência. Tenho certeza de que você vai conhecer um monte de gente legal e descolada aí ─── ela disse, soltando uma risada leve.
─── É... tomara ─── forcei um sorriso, mas por dentro torcia pelo contrário.
Bastava um rápido olhar para perceber o tipo de gente que estudava ali. A maioria era loira ou morena com cabelos perfeitamente alinhados, roupas caras que pareciam recém-tiradas de um catálogo de moda. Ricos, populares e esnobes, era a tríade que parecia dominar aquele lugar.
Eles andavam em grupos, rindo alto de piadas que provavelmente não tinham graça alguma, ou cochichando algo nos ouvidos uns dos outros para, segundos depois, gargalharem ainda mais alto. Seus olhares, afiados e avaliadores, passavam pelas pessoas como quem examina um produto em uma vitrine.
E eu sabia, sem a menor dúvida, que aquele não era o meu tipo de gente. Não precisava de muita imaginação para prever: aquilo tudo seria um inferno.
Suspirei fundo antes de abrir a porta do carro e colocar os pés no chão. O vento frio cortou meu rosto no mesmo instante, fazendo-me estremecer. Não estava acostumada com aquela temperatura; era como se o ar gelado quisesse me lembrar, a cada segundo, de que eu estava longe de casa. Meus cabelos, antes soltos, começaram a grudar no gloss que eu havia passado pela manhã, criando uma sensação incômoda. Bufei baixinho, prendendo-os rapidamente em um coque meio torto, só para me livrar daquela batalha contra o vento.
Segui até o porta-malas acompanhada de minha mãe, que caminhava ao meu lado com passos apressados. Ela parou, observou as caixas, e com um suspiro pegou uma delas - justamente a mais pesada.
─── Você precisa mesmo de todos os seus livros? ─── perguntou, arqueando uma sobrancelha com aquele tom de reprovação misturado a carinho.
─── Deixa eu te ajudar aí ─── respondi, pegando a caixa de suas mãos com um certo esforço e colocando-a sobre minha mala quadrada de viagem. ─── É meu kit de sobrevivência.
Tentei disfarçar o cansaço no sorriso que dei em seguida, tirando meu celular do bolso para procurar as informações do meu quarto. Minha mente estava dividida entre a ansiedade pelo novo e a vontade de voltar correndo para o que eu conhecia.
─── Você vai se sair muito bem, eu sei disso! ─── disse minha mãe, sorrindo de um jeito que só ela conseguia. Pegou minha última bolsa, mas hesitou antes de me entregar. ─── E... eu tenho uma surpresa pra você.
Meu olhar se desviou da tela do celular, indo diretamente para ela, embora minha cabeça permanecesse imóvel. Minha mãe não era de guardar segredos, na verdade, sempre me contava tudo. Então, se ela tinha escondido algo, só podia ser porque sabia que eu não ia apoiar de imediato.
Ela enfiou a mão no bolso do casaco e tirou uma caixinha minúscula. Era preta, coberta por pequenas bolinhas brancas, do tipo que você guarda joias ou coisas importantes.
─── Obrigada, mãe ─── agradeci, ainda sem entender direito. Peguei a caixa e, assim que a abri, meu coração deu um salto. Dentro, repousava uma chave de carro. ─── O que...?
Ela coçou a garganta, como se buscasse coragem, e apontou discretamente com a cabeça para trás de nós. Virei-me e, a alguns metros, vi um Nissan Sentra branco. O carro brilhava como se tivesse acabado de sair de um lava-rápido, mas carregava um arranhão discreto na parte da frente, no lado direito. Mesmo assim, parecia perfeito para mim.
─── É pra mim? ─── perguntei, a voz quase saindo num sussurro incrédulo.
─── Achei que você ia querer sair de vez em quando. Você completou dezesseis anos há dois meses, mas eu só consegui juntar o dinheiro agora. Espero que tenha gostado.
─── Mãe, tá brincando? Eu amei! Mas... como conseguiu dinheiro pra outro carro?
─── Eu estava economizando, e... sua tia queria vender o carro dela para trocar por outro mesmo.
Um sorriso involuntário se espalhou pelo meu rosto. Abracei-a com força, sentindo aquele calor familiar que me fazia esquecer, por alguns segundos, todo o frio ao redor.
─── Obrigada, mãe! Isso foi incrível.
─── Agora vai lá ─── ela disse, com um sorriso orgulhoso. ─── Você tem um ensino médio pra conquistar