A noite trouxe uma brisa suave que atravessava as folhas como um sussurro. Pela primeira vez em semanas, a Clareira parecia em paz.
Newt dormia, respirando devagar, coberto por uma manta fina. O ciclo não terminara ainda, mas estava a enfraquecer — as ondas de calor e confusão tornavam-se mais espaçadas, e o corpo já começava a recuperar. A mente, no entanto... essa ainda estava em conflito.
Na penumbra da tenda, Thomas observava-o em silêncio. O rosto de Newt, mesmo adormecido, parecia carregado por um peso invisível. Pequenas contrações na testa, movimentos leves dos olhos por trás das pálpebras — sonhos.
Ou talvez, memórias.
De repente, Newt soltou um gemido baixo e virou-se bruscamente. A respiração acelerou, e uma palavra escapou-lhe entre os lábios:
— Thomas...
Thomas congelou.
— Newt?
Newt sentou-se de repente, ofegante, os olhos vidrados.
— Havíamos estado aqui antes... Não aqui, mas... juntos. Eu lembro de uma sala branca. De ti a sorrir. A dizer que ia ficar tudo bem.
Thomas sentiu o coração apertar.
— Uma sala branca?
Newt assentiu com a cabeça, tentando agarrar-se à imagem fugaz.
— Era antes do Labirinto. Antes da Clareira. Eu não devia lembrar. Mas lembrei de ti. Tão claro.
— Newt... eu também sonhei contigo.
Os olhos de Newt encontraram os dele.
— O quê?
— Na primeira noite aqui. Sonhei contigo. A sorrir. A dizer o meu nome. Mas eu não sabia o que significava.
Um silêncio caiu entre os dois. Não vazio, mas cheio de algo maior do que eles entendiam.
— Achas que... nos conhecíamos? — perguntou Newt, a voz trémula.
Thomas olhou para as próprias mãos. — Acho que sim. E acho que há muito mais por trás disto tudo do que nos disseram.
⸺⸺⸺
No dia seguinte, Teresa entrou na tenda com o rosto sério. Trazia um papel amassado nas mãos.
— Encontrei isto perto da zona sul. Deve ter caído da Mapa Base.
Era uma folha velha, parcialmente queimada, com palavras escritas à mão.
"Monitoramento hormonal – Sujeito Omega 217: Newt. Resposta ao Sujeito Alpha 219: Thomas. Compatibilidade incomum detectada."
O silêncio na tenda foi absoluto.
Thomas aproximou-se devagar e leu o papel com atenção. — Então... fizeram experiências. Juntaram-nos de propósito.
Newt segurou a borda da manta com força.
— Eles sabiam.
Teresa pousou uma mão no ombro de Newt. — Sabiam e esconderam tudo. Mas agora já não és só um número. Já és mais do que isso. Aqui, contigo mesmo.
Thomas ajoelhou-se diante dele.
— Se te conheci antes... então o que sinto agora não é só novo. É antigo. É reencontro.
Newt desviou os olhos, emocionado. — E mesmo assim... não lembro do som da tua voz de antes. Só sei que quando falas agora... sinto que é familiar.
Thomas estendeu-lhe a mão.
— Então vamos redescobrir tudo. Juntos. Lento. No teu tempo.
Newt olhou para a mão estendida... e aceitou.
Não por necessidade.
Não por instinto.
Mas porque, em meio às ruínas da memória, a única certeza era Thomas.
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Reflexo do Labirinto
AdventureApós escaparem do Labirinto, Newt e os Clareirenses descobrem que a liberdade era apenas mais uma fase do jogo. Perdido entre memórias, perigos e a ameaça de um clone criado para substituí-lo, Newt terá de provar que ser um ômega não o torna fraco...
