Um Brinde Quebrado parte 1

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Introdução: Um casamento arranjado, nada será mais como foi antes.

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Capítulo 1 – Como Tudo Que Começou Se Tornou O Fim.

Eles haviam se casado naquela manhã, forçados por alianças familiares antigas e interesses maiores que suas vontades. O salão estava cheio de sorrisos falsos, discursos ensaiados e brindes sem alma. Mal trocaram palavras no altar — apenas olhares carregados de raiva e desafio.

No fim do dia, quando as portas da mansão se fecharam, a tensão explodiu.

— Eu não sou sua esposa — ela disse, a voz firme, os olhos queimando de indignação. — Isso aqui é uma prisão com alianças.

— E você acha que eu queria isso? — ele rebateu, jogando o paletó no sofá com desprezo. — Se fosse por mim, você já estaria longe daqui.

Ela não respondeu. Apenas se virou e subiu as escadas, batendo a porta do quarto de hóspedes com força suficiente para tremer a parede.

Ele ficou sozinho na cozinha. O silêncio era mais barulhento que os gritos. Pegou um copo. Depois outro. O terceiro escorregou das mãos e se espatifou no chão. O quarto? Ele quebrou de propósito. Um estouro de frustração. Um grito mudo. Mas na raiva, os estilhaços traíram seu corpo.

Sangue escorreu pela palma da mão.

Minutos depois, ela apareceu na cozinha, ainda irritada, mas algo nela mudou ao vê-lo curvado sobre a pia, a mão pingando vermelho.

— Idiota — murmurou, se aproximando.

— Dá o fora, eu me viro.

Ela não respondeu. Pegou um pano limpo, puxou sua mão com força e começou a limpar o corte com cuidado. O silêncio voltou, mas dessa vez era outro. Menos afiado.

— Você devia aprender a lidar com raiva de outro jeito — disse, sem encará-lo.

Ele a observou. Os olhos já não pareciam tão frios.

— E você devia parar de fugir sempre que as coisas apertam.

Ela soltou um riso curto, quase imperceptível.

— Toca aqui, doutor do caos — ela brincou, apontando para o corte limpo.

Ele riu também. Pela primeira vez no dia. Um som sincero. Raro.

Naquela noite, ela voltou para o quarto de hóspedes.

Na seguinte, já não fazia mais sentido.

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Capítulo 2 – Silêncios Menos Afiados

A noite seguinte começou como a anterior: cheia de silêncio. Mas, dessa vez, era diferente.

Ela ainda dormia no quarto de hóspedes, mas algo dentro dela estava em conflito. Pensava no corte da mão dele, na expressão endurecida que desabou por um instante enquanto ela cuidava do machucado. Pela primeira vez, viu algo ali que não fosse desprezo — talvez cansaço, talvez dor antiga.

Ele também não dormia. Ficava virando de um lado para o outro, com a mão enfaixada e a mente cheia dela. Da forma como suas mãos tremeram, mesmo quando sua voz permaneceu firme. Do jeito como ela o olhou sem querer, e desviou rápido. Era ódio... ou era medo de sentir alguma coisa além dele?

No terceiro dia, ela apareceu na cozinha antes dele.

Preparou café.

Ela mesma se estranhou.

Quando ele desceu, sem camisa, com o curativo manchado, parou no batente da porta e arqueou uma sobrancelha.

— Isso é um pedido de paz? — perguntou, desconfiado.

Ela bufou, entregando uma xícara sem responder.

— A gente vai ter que dividir esse teto por um tempo. Não estou te oferecendo paz. Estou oferecendo café. Que é mais útil.

Ele sorriu de canto.

— Justo.

Sentaram-se em silêncio. O som das colheres mexendo o açúcar parecia mais íntimo do que qualquer palavra. Quando seus olhos se encontraram, durou um segundo a mais do que o necessário.

Na semana seguinte, os insultos foram ficando mais leves. Ele zombava do jeito metódico com que ela dobrava os panos da cozinha. Ela implicava com a forma como ele deixava os sapatos pela casa. E, no meio disso, piadas começaram a surgir. Sorrisos. Um jantar que não foi tão desconfortável. Uma série assistida juntos, meio sem querer.

Até que numa noite chuvosa, a energia caiu.

Ela entrou na sala com uma vela acesa. Ele estava no sofá, bebendo vinho em silêncio.

— Quer dividir?

Ela hesitou. Mas sentou-se ao lado.

— Já que estamos aqui à força… pelo menos o vinho é bom — murmurou.

— Pelo menos você é melhor companhia agora — ele retrucou, com um olhar enviesado.

Ela o encarou, pronta para rebater, mas o jeito que ele olhava... havia algo diferente.

Menos raiva. Mais cuidado.

— Você está me olhando estranho — ela disse, baixinho.

— Estou tentando entender como alguém tão irritante pode ter mãos tão gentis — respondeu ele.

O coração dela falhou uma batida. Foi imperceptível, mas ela sentiu.

— Vai ver é o vinho — ela devolveu, desviando os olhos.

Ele se aproximou, só um pouco.

— Vai ver não é.

O silêncio voltou. Mas dessa vez era quente.



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Capítulo pequeno, vou lançar as partes com dois a três capítulos. Espero que gostem!!

How I see it.Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora