Pov Enid
Caminho para a Mansão Addams -19:45pm
Minhas mãos ainda tremiam.
O vento noturno cortava meu rosto enquanto eu caminhava ao lado da Wednesday, nossos passos ecoando nas calçadas vazias. Ela não tinha soltado minha mão desde o beco - sua pele, áspera dos socos, estava firme em volta dos meus dedos, como se tivesse medo que eu sumisse se soltasse.
Eu devia estar assustada. Devia estar chorando. Mas tudo que eu sentia era um calor estranho no peito, uma certeza de que, enquanto ela estivesse ali, nada mais podia me machucar.
- É longe? - perguntei, minha voz saindo rouca.
Wednesday olhou para mim, seus olhos negros escaneando meu rosto como se procurasse por feridas.
- Mais três quarteirões.
Nós continuamos em silêncio. O bairro estava cada vez mais escuro, as casas mais espaçadas, até que finalmente viramos em uma rua arborizada, no fim da qual uma mansão preta se erguia contra o céu noturno.
Casa dela.
Minhas pernas quase falharam quando a visão bateu - torres pontiagudas, janelas estreitas. Wednesday apertou minha mão, puxando-me para frente.
— Não mordo — ela murmurou, e eu quase ri. Quase.
Subimos os degraus da varanda, e ela tirou uma chave do bolso. A porta rangeu ao abrir, revelando um saguão escuro cheio de sombras dançantes. O cheiro era de madeira encerada, velas antigas e algo mais profundo - como terra molhada.
Wednesday me puxou para dentro e fechou a porta atrás de nós.
- Ninguém vai te machucar aqui - ela disse, simples, como se estivesse anunciando um fato científico - e se eu fosse te machucar seria de um jeito bom - isso saiu como um sussurro e eu ignorei o que ela falou porém corei, e corei pra caralho.
Pov Wednesday
Mansão Addams, 19:52pm
Eu a levei direto para a cozinha.
Enid sentou-se na mesa de madeira maciça, seus olhos azuis escaneando o ambiente - as panelas pretas penduradas, as ervas secas no teto, a faca de açougueiro deixada descaradamente sobre a bancada.
Peguei o kit de primeiros socorros.
- Mostra os braços - ordenei.
Ela obedeceu, estendendo os pulsos onde os dedos daqueles vermes tinham deixado marcas vermelhas.
Minhas mãos tremeram ao passar o gelo nas áreas sensíveis. Enid não reclamou, mas seu queixo tremia.
- Você não precisava fazer isso - ela sussurrou.
- Precisava.
Enid olhou para minhas mãos - minhas mãos nuas - ainda sujas de sangue alheio.
- Você tá machucada.
- Não importa.
Ela pegou meu pulso antes que eu pudesse recuar, seu toque tão leve que doía.
- Importa pra mim.
Algo dentro do meu peito apertou.
Foi quando ouvi os passos no corredor.
Pugsley apareceu na porta, segurando um sanduíche que cheirava a algo questionável. Ele congelou ao nos ver.
- Huh - ele disse, mastigando - Achei que você tivesse matado alguém.
- Quase - respondi, secamente.
