Capítulo 01

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Tudo começou, naquele que deveria ter sido o pior momento da minha tediosa, monótona e predeterminada vida.

Vida que tinha sido revirada; estava preso em um quartinho frio e mofado, amarrado com os braços para trás, com as mãos já começando a ficar dormentes, minha boca tampada por uma larga tira de fita adesiva, deitado em um colchonete ralo e frio, longe da família, com fome e surpreendentemente feliz.

Em poucos minutos, aquele homem de olhos tão lindos e quentes iria entrar, com cuidado ia tirar a fita de minha boca e me dar um pouco de água, talvez uma comida fria, mas que oferecida por ele parecia um manjar dos deuses.

Só via seus olhos sob o capuz preto, mas imaginava seu corpo sarado, pois estava sempre com uma calça apertadinha e uma blusa justa, que realçava seus braços musculosos e sua barriga definida. Pela calça, imaginava uma mala grande, pois o volume marcava sempre.

A porta abriu e percebi que não era ele. Meus olhos se encheram d'água, estava com medo, muito medo.

Podia ver pelos braços descobertos que era um negro forte que se aproximava de mim, também encapuzado.

- Então boyzinho, vai ficar bonzinho ou terei que te pôr para dormir? - ele então me mostrou um pano na mão e um vidro na outra. Vamos te levar para outro lugar. Pelo menos lá não teremos que te amordaçar, nem vai ficar amarrado. Você escolhe, vai por bem, ou quer um pouquinho de dor de cabeça quando acordar?

Balancei a cabeça concordando.

- Se tentar qualquer coisa, vou te porrar, entendeu ô porra? - e me puxou violentamente do chão.

Fiquei um pouco tonto, pois não levantava há muitas horas; quase caí, e ele riu.

- Ficou tontinho foi, principezinho? - disse me dando um safanão na orelha que acabou de me tontear.

Nessa hora entrou o outro e me tirou de suas mãos rapidamente.

- Porra, cara, cuidado com a mercadoria, olha o que combinamos, deixa que eu levo ele. Você vai buscar o carro, e rápido.

Vi o negro sair rindo, e o meu salvador me olhou com aqueles olhos tenros.

Como um bandido, sequestrador, podia ter uns olhos daqueles? Eram do mais profundo azul que jamais vi. A princípio, pensei que eram negros, mas depois de algumas horas, vi que eram mesmo quase azul marinho. Com uns toques de azul mais claro. Nunca vi nada tão lindo e tenro.

- Desculpa aí rapaz, ele é um animal. Ele te machucou?

Percebi que estava chorando, as lágrimas escorriam soltas, se de medo ou alegria de vê-lo, não saberia dizer.

Ele gentilmente retirou a tira, que puxou a pele da boca, causando dor, é claro.

- Obrigado - disse lambendo os lábios ardidos.

Ele chegou pertinho de mim, a ponto de sentir o calor de seu corpo, e limpou meu rosto com sua mão, tão quentinha.

- Vamos para outro lugar, e você vai ficar mais confortável.

- Já falaram com meu pai? - perguntei.

- Já, ele vai pagar, em pouco tempo estará em sua casa - ele disse gentil.

Aquela informação causou uma mistura de alegria e medo, logo aquele pesadelo acabaria, mas também nunca mais iria vê-lo, podia sentir meu estomago apertar, só de imaginar essa possibilidade.

- Se prometer não gritar, deixo sem a fita, ela está te machucando, posso ver. Lá onde vamos, vou conseguir alguma coisa para passar ai.

Ele também soltou meus braços.

- Me dê - ele pediu e massageou um pouco meus braços dormentes, e esfregou minhas mãos.

- Por que você faz isso? - perguntei, encarando seu olhos.

- Porque sou bandido, bandidos fazem esse tipo de coisa; e porque preciso de uma grana rapidamente - ele disse como se explicasse a uma criança.

- Não, isso eu entendo, mas me tratar assim, por que não é como ele? - disse apontando a porta com a cabeça.

Ele abaixou a cabeça e percebi que ficou sem graça, podia perceber isso mesmo com a máscara em seu rosto.

- Por que você não tem medo de mim? - ele perguntou de repente.

- Você não vai me machucar.

- Quem te garante?

- Teus olhos, eles são tão tenros, são tão quentes, tão acolhedores

Ele se afastou e ficou me encarando, depois de algum tempo, pôs a mão nas costas, tirou uma arma grande e a mostrou para mim.

- Sabe o que é isto?

- Claro, é uma arma, todos os meus seguranças têm uma.

- Sabe para que eu tenho uma?

- Para se defender, eu não sou uma ameaça.

- Negão, vem cá - ele gritou e me afastei, encostando na parede assustado.

O negro entrou, ele me olhou, e o mandou embora outra vez.

- Ele te assusta - ele disse chegando perto de mim. - Eu sou mais perigoso que ele, sabia? Talvez por esse motivo eu seja o chefe aqui, já pensou nisso? - Nessa hora ele já estava pertinho de mim.

- Tua respiração está alterada - ele disse. - Tua boca sequinha, mas não é de medo - e subitamente pegou em meu pau, que ficou duro rapidamente em sua mão quente.

- Então é isso, você me deseja, garoto.

- Não sou um garoto

- Estou vendo que não - ele disse apertando um pouco mais meu pau, cheguei a gemer baixinho de tesão.

- Você pode se lembrar de alguma coisa que já desejou e não teve?

- Não

- Rápido assim? Não precisa nem pensar?

- Não

- Então minha responsabilidade é maior ainda. Vamos ver se aproveita para aprender alguma coisa. Já está entendendo o que é ficar preso, agora vai saber o que é querer e não ter - disse isso e soltou meu pau.

Ele não disse mais nada, e me colocou uma máscara no rosto, mas sem a abertura para os olhos.

- Fica quietinho, ninguém precisa saber que não estará amordaçado. Entendeu? Se falar, vou ter que dizer que esqueci de colocar, e terei que pôr novamente - e tornou a me amarrar com os braços para trás.

- Eu fico quieto, mas não me deixa com ele, por favor.

- Não, não vou deixar, eu te protejo, meu príncipe - pude sentir sua mão em meu braço me apoiando enquanto andava.

- Abaixe a cabeça e senta - ouvi um pouco depois. - Procure ficar calmo, tudo vai ficar bem - ele disse pertinho da minha orelha, e senti meu corpo se arrepiando.

- Você parece que está trazendo a namorada para passear. Estou te estranhando, Beija Flor - reconheci a voz do negro.

- Vai te foder, cara, e arranca essa porra de carro aí - ouvi o meu salva-vidas dizer, com sua mão quente na minha coxa. - E vai devagar, não queremos atrair a polícia, né? E da próxima vez experimenta dizer o meu sobrenome também - ouvi sua voz com raiva.

Não sabia para onde estava indo, e a venda me impedia de ver o caminho, mas o que quer que estivesse guardado para mim, ia ser algo totalmente diferente do que eu estava acostumado.

O Refém (livro gay)Where stories live. Discover now