Algo real.

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"Espero que você não se importe, mas eu fiz alguns ajustes. Sei como aquilo era importante para você."
Essa foi a última vez que conversei com Ha Joon por ligação.

Agora faz quase dois meses desde a última vez que o vi. Tentei seguir em frente, mas é quase impossível. Não posso evitar, mas estou esquecendo como é estar com ele, por mais que, em meus sonhos, tudo pareça tão recente.

Conversamos pouco desde então. Não é fácil manter contato com alguém que tem um fuso horário totalmente diferente do seu. Confesso que houve dias em que ele ficou até as 2:00 da manhã acordado só para poder falar comigo durante meu intervalo, mas não era a mesma coisa.
Faz três dias que não trocamos uma palavra sequer.

As luzes frias da redação do jornal estão apontadas diretamente para mim. Estou com o celular na mão, prestes a enviar um "Oi, Ha Joon, como você tá?"

- Meu Deus, isso é patético - digo, excluindo a mensagem e jogando o celular sobre a mesa.

Uma notificação chega e, antes que eu possa fingir desinteresse, meus olhos vão direto para a tela. Uma parte de mim ainda tem esperanças de que seja Ha Joon, mas elas são quebradas no momento em que vejo o nome de Ana.

"Vamos hoje naquele barzinho? Fiquei sabendo que vai ter música ao vivo."
Ao chegar no bar, não posso negar: foi a primeira vez que me senti em casa desde que voltei. Meus olhos logo procuraram por ele.

Sim, eu sei que é impossível ele estar lá, mas eu o procuro em todos os lugares que vou.

- Quanto tempo, garota! Achei que nunca mais fosse te ver - diz Mariana.

Eu, ela e Ana éramos inseparáveis. Mari também trabalhava no jornal, mas não a via havia um bom tempo, desde que foi morar fora por dois anos.

- Ah, isso não é justo! Vocês duas estavam morando fora enquanto eu fiquei aqui - diz Ana, se fazendo de coitada.

- Eu não morei fora, tá? - digo, rindo.

- Mas bem que você queria, né, Lissa? - Mariana rebate.

Colocamos a conversa em dia, dançamos, cantamos e bebemos. Fazia tempo que eu não me sentia bem, mas, no fundo, tudo ainda me lembrava Ha Joon.

- Tá, mas me conta... Aquela sua matéria é verdade? - pergunta Mari, me olhando fixamente.

- O que você tá dizendo? Não consigo escutar com esse barulho - digo alto. Claro que escutei, mas não quero responder. Na verdade, nem sei o que responder.

- Vi na internet que estão dizendo que as informações foram manipuladas - comenta Ana.

- Acho que a Carina vai te chamar para conversar amanhã sobre isso - Mariana completa.

Fico sem saber o que dizer e apenas dou de ombros.

- Deixa que ela chame. Ela queria uma matéria, eu dei. - Finjo não me importar.

Eu deslizava meu dedo indicador pela borda do copo de drink enquanto Mariana e Ana falavam algo que eu realmente não estava interessada em ouvir. O bar estava cheio, a música preenchia o ambiente, mas, mesmo assim, sentia que o mundo estava em silêncio.

- Lissa? - uma voz masculina chama atrás de mim.

Me viro rapidamente, curiosa para saber quem é.

É Vinícius, meu ex-namorado. Namoramos por três anos até que ele resolveu me trair com uma colega de trabalho - que, por sinal, era três anos mais nova que eu.

Nosso término aconteceu três meses antes de eu ir para a Coreia, e, de lá para cá, muita coisa aconteceu.

Não queria responder, então apenas me virei novamente para as meninas, que agora estavam em completo silêncio.

- Qual é? Vai me ignorar agora? - Ele para ao meu lado, sua voz transmitindo raiva e dúvida.

- Eu não tenho nada para falar com você. Pode sair, por favor? - digo, eu guarava algo maior que mágoa, eu tinha ódio e nojo dele.

- Você nem me deixou me explicar!

- Eu vi o que precisava. Li todas aquelas conversas. Então pode fazer o favor de ir embora? - respondo, impaciente.

- Eu também vi aquelas fotos. Você não esperou nem dois meses e já começou a sair com outro cara! - ele rebate.

- Foram três meses! Nem isso você sabe! E isso não tem nada a ver. Você não esperou nem terminar! Agora faz o favor de sair! -

Ele continua reclamando por alguns minutos, mas finjo que ele não está ali. Logo, ele desiste e vai embora, suspirando de raiva.

Conversei com as garotas sobre isso e fui para casa.

A noite foi ótima, apesar desse final. No caminho de volta, fiquei pensando sobre a forma como ele falou, como se eu fosse a errada. Isso me fez sentir mal por um momento, mas eu sabia que não era verdade.

O jeito como ele se referiu a Ha Joon como apenas "um cara" me fez perceber que Ha Joon foi muito mais para mim do que um relacionamento de três anos jamais havia sido.

Como não iria trabalhar no dia seguinte, por ser sábado, abri o Instagram. Havia várias menções em um vídeo.
Quando vi do que se tratava, meu coração parou.

Era Ha Joon, sendo entrevistado.

"Wi Ha Joon, no início do ano, você foi visto com uma mulher misteriosa. Os fãs ficaram curiosos sobre a moça. Pode nos contar quem era?"

O entrevistador perguntou descaradamente. Ha Joon sempre foi reservado e, com certeza, não estava esperando essa pergunta.

- Que pergunta idiota - falo em voz alta enquanto vejo a entrevista.

- Bom... - Ha Joon dá um riso fraco. - Ela foi uma pessoa importante para mim.-
Ele responde um pouco desconfortável, mas é evidente a sinceridade em sua voz.

"Foi? O que aconteceu entre vocês?" - o entrevistador insiste. E confesso... Eu também quero saber a resposta.

- Quis dizer... É! Ainda é. Definitivamente é. Mas eu deixei ela ir, então... - Ele fica sem palavras.

O homem, confuso e querendo ir mais a fundo, continua:

"Parece que é algo que ainda mexe muito com você. Foi um relacionamento, então?"

- O que esse cara tá pensando que é? Um jornalista ou um psicólogo? Cara chato... - murmuro sozinha enquanto vejo Ha Joon pensar no que irá responder.

- Foi algo que nem eu sei o que foi - seu olhar é fixo no homem.

- Mas foi algo real - ele desvia o olhar para o chão.

- Próxima pergunta, por favor.

O vídeo acaba, mas ele continua rodando em looping na tela do meu celular até que uma ligação o interrompe.

- O que você acha do Festival de Cinema de Busan? - Carina pergunta antes que eu possa falar "oi".

- Coreia? - pergunto, sem acreditar.

- Você fez o maior sucesso lá! Você tem que ir! - ela insiste.

- Mas não é só em julho?

- Sim, mas você acha que um festival daquele tamanho só fica pronto em julho? Você tem que ir para lá mês que vem para ajudar a organizar.



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Oii gente, desculpa a demora para trazer esse capítulo, mas está!
Quis falar mais sobre o passado da Lissa e sua vida pessoal, então espero que vocês gostem♡

Fora do Script Where stories live. Discover now