Capítulo 1 - DEGUSTAÇÃO

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Alguns meses antes...

Caio

- Então você resolveu seguir o meu conselho? – Fabiana a minha terapeuta me pergunta. Na ultima sessão, ela sugeriu, que eu procurasse Marina para conversar, quando ela propôs isso, minha primeira reação foi à negação, mas quem olha para essa mulher à minha frente, nesse momento, com um rosto angelical e com sua pouca idade, nem imagina o quão capacitada ela é.

Desde que vim para clinica, para começar a desintoxicação, os meus encontros com Fabiana eram semanais, e eu, assim como a grande maioria das pessoas, não conseguia crer que sessões com uma psicóloga, poderiam ajudar tanto. Hoje eu enxergo que sem elas, o processo, seria bem mais complicado e longínquo, pois, sempre que eu seguia algo sugerido por Fabiana, o resultado era positivo. E era sempre isso que ela fazia, me sugeria certas atitudes, mas, nunca de uma maneira imponente, sempre com muita calma e tranquilidade. Eu saia das sessões com aquilo na cabeça e geralmente fazia o que ela havia dito, e foi por isso, que procurei Marina.

- Sim, segui o seu conselho. – Ela apenas balança a cabeça em positivo e eu continuo. – E você estava certa novamente, a conversa foi muito boa, Marina me perdoou pelo que aconteceu. – Fabiana abre um largo sorriso, e em sua face consigo ver a satisfação, não a satisfação por estar certa em algo, mas a satisfação de poder ter ajudado.

- Caio, eu fico muito feliz por você! - Apenas sorrio. – Como foi?

- Foi bom, muito bom... – Eu respondo.

- Mas?

- Mas ainda me sinto culpado com tudo isso Fabiana. O fato de ela ter me perdoado, não diminuí a dor de ter tirado a vida daquelas pessoas, isso nunca vai passar.

- Caio, nós dois sabemos que a grande culpa nesse acidente não foi sua, sabemos que foi uma grande fatalidade, que poderia ter sido evitada, se teu pai não tivesse saído do controle. – Ela continua em seu tom ameno.

- Eu sei, mas é complicado...

- Sim é, mas Caio, todas as aflições de sua vida estão ligadas ao seu pai, você vai precisar resolver isso com ele ou com você mesmo, para conseguir seguir em frente.

Solto uma risada nervosa.

- Meu pai... Essa situação é mais complicada do que parece Fabiana, se você soubesse.

- E por que você não me conta, quem sabe assim eu possa te ajudar. – Ela diz se recostando em sua cadeira, olho para ela e analiso toda a situação. Eu nunca dividi meus sentimentos sobre o meu pai, talvez fosse à hora de colocar tudo para fora, e para isso, nada melhor do que uma especialista, para me ajudar. Por isso respiro fundo e começo.

- Quando minha mãe adoeceu todos nós surtamos um pouco, mas o meu pai foi o que mais se abalou, e ele começou a agir totalmente ao contrário do que se esperava de um homem, que estava com a sua mulher doente. Ele quase não voltava mais para casa, vivia viajando, dizia que era a negócios e a coisa foi só piorando, conforme o estado de saúde dela se agravava. Eu fiquei revoltado com ele, não tanto quanto Daniel, mas eu desaprovava suas ações, a minha mãe era um doce de pessoa, sempre tentava apaziguar a situação e poucos dias antes de morrer ela me chamou para conversar.

- Caio meu filho, eu quero te pedir uma coisa.

- Claro mãe, pode pedir.

- Eu quero que você cuide do seu pai, eu sei que não tenho muito tempo, não o abandone Caio, ele precisa de você.

- Mãe...

- Eu sei o que você vai falar meu filho, mas apenas me ouça, eu sei que é complicado pra vocês, mas o seu pai... Seu pai está sofrendo também tanto quanto vocês, ele só tem uma maneira diferente de lidar com toda essa situação, ele está desesperado.

- Estamos todos desesperados, mãe, o Daniel, eu, mas nem por isso saímos por ai fazendo um monte de besteiras.

- Caio ninguém é dono da verdade, nós não podemos julgar a dor dele. Prometa meu filho, que quando chegar a minha hora de partir, você não abandonará seu pai?

- Mãe... Eu... – Quando olhei para seus olhos cheios de lágrimas não derramadas eu não pude negar ao seu pedido.

- Eu prometo mãe...

Fabiana me observa atentamente enquanto eu falo, quando termino de relatar o que aconteceu ela começa a falar.

- Caio a sua mãe te pediu para não abandonar seu pai, para ajuda-lo, a sua mãe nunca te pediu para ser condescendente com os erros dele, o que ele fez com você foi injusto, ele não tinha o direito de mexer assim com o seu futuro.

- Mas eu concordei, eu que não quis relatar a polícia como tudo aconteceu, a culpa também é minha.

- Eu sei, e sim a culpa também é sua, mas você não pode se culpar e tirar o peso das costas dele, ele não arcou com as consequências do ato dele ao contrário de você, que passou boa parte da vida se culpando, se entorpecendo e perdendo as pessoas que amava pelo caminho.

- Ele estava bêbado, não sabia o que estava fazendo. – Eu replico a ela.

- Caio, não distorça os fatos, enquanto você não encarar essa situação como ela realmente é, dividindo essa culpa com ele, porque ele também é responsável por tudo o que aconteceu, você não vai conseguir se resolver. – Ela continua firmemente, sem se alterar ou erguer o tom de voz, mas não era preciso, suas palavras verdadeiras se infiltram em mim, é como se levasse um soco no estômago, pois ela não diz nada além da verdade. – Se você quer iniciar uma nova vida, se quer ter uma boa convivência com seu irmão e sua cunhada, você vai precisar resolver as pendências do passado, vai precisar aprender a se perdoar para que consiga seguir em frente.

- Eu quero claro que eu quero... Minha cunhada está grávida, e eu quero muito fazer parte da vida do meu sobrinho.

- Então pense no que te falei, tire seu tempo, nós ainda temos muitos assuntos para abordar, mas vamos dar um passo de cada vez.

- Obrigado, Fabiana. Você tem me ajudado muito. – Digo a ela que apenas sorri e me responde.

- Estou fazendo apenas o meu trabalho Caio. Bom, a nossa sessão acabou, te espero semana que vem.

- Tudo bem. – Me levanto para sair e Fabiana me acompanha até a porta.

- Reflita sobre tudo que lhe falei. – Apenas aceno positivamente e saio do consultório.

Sento-me próximo aos jardins da clínica e fico observando as pessoas que também estão aqui internadas, cada um em uma, em situação diferente, cada uma, com sua própria história de dor e destruição, que o vício proporciona. Assim penso na minha história e em tudo que Fabiana me falou, eu quero seguir em frente, quero ser uma pessoa melhor, quero me livrar de todos esses fantasmas, que me perseguem ao longo dos anos, mas ao mesmo tempo, tenho medo do que me espera, tenho medo de confrontar meu pai, medo da vida, e principalmente, tenho medo de perder de uma vez por todas a única mulher que eu amei na vida, pois se eu não fizesse por onde merecer era exatamente isso que aconteceria...

Quando me levanto e me viro para ir para meu quarto, sou surpreendido, ali parada à minha frente, aquela mulher que vi crescer diante dos meus olhos, a minha fadinha, minha Isabella.

Nossos olhares se cruzam e tanto eu quanto ela, ficamos estáticos no lugar, o tempo parece parar naquele momento e o meu coração pulsa ainda mais rapidamente. Saio do meu transe e respiro profundamente e me aproximo dela, que continua parada no mesmo lugar agora de cabeça baixa.

- Bella. – Eu a chamo, e depois de alguns minutos relutando, ela ergue seu rosto para me encarar, e vejo que as lágrimas escorrem por sua face. – Bella... Eu... – Ela respira profundamente e limpa seu rosto com as costas das mãos.

- Nós precisamos conversar...

Destinos Ligados - Série destinos volume 2Where stories live. Discover now