Levantou-se da cama, deixando o livro sobre a cama fofa. Checou se tinha alguém em casa, mas apenas encontrou o corredor vazio, Chris havia ido trabalhar e Marzia provavelmente foi ao mercado como sempre fazia a cada dois dias.

Voltou para o quarto e fechou a porta com chave, sorrateiramente se esgueirou para dentro do pequeno armário embutido na parede. Havia feito um pequeno esconderijo ali, em um pedaço do assoalho que se soltava. Ela guardava um pequeno caderno preto de folhas gastas e amareladas. Junto com algumas fotos igualmente gastas.

No mês passado Chris havia ido até a casa onde ela vivia, para pegar suas coisas, Taylor o acompanhou, insistindo que ele não saberia pegar todas as suas coisas.

Taylor tinha os seus segredos. E ela gostava de os ter.

Quando Lauren foi embora alguns anos atrás, ela deixou poucas coisas para trás. Algumas fotos, uma muda de roupas e esse pequeno caderno preto.

Taylor gostava de o ler, eram pensamentos e rabiscos de Lauren. De sua irmã.

Pensamentos em boa parte do tempo tristes, lamurdios, sonhos... Taylor o tinha de cor em sua cabeça.

Na metade do caderno um mesmo nome se repetia várias vezes. Karla.

Lauren contava que ela não queria que Karla fosse o seu amor, porque isso era pecado, e seus pais não a amavam por isso. Ao decorrer das folhas gastas, Lauren começava a dizer que não se importava mais com seus pais, que ela precisava de Karla, e que também não aguentava mais as noites que seu pai chegava bêbado em casa e a forçava a tirar as roupas.

Taylor odiava essa parte do caderno, e até poderia queimar as folhas, se não tivesse a intenção de devolve-lo a dona original.

A última folha do caderno eram os planos de Lauren. Seus planos de fugir. Dizia que já tinha dinheiro o suficiente para chegar em Londres.

E era isso que batucava na mente de Taylor. Ela havia se lembrado desse pequeno trecho ao ler um romance que se passava no mesmo cenário. E isso era realmente importante, ela mostraria aquilo para Chris e eles encontrariam sua irmã.

---

O dia estava sendo cheio para Chris. Ele se sentou no pequeno sofá de sua sala. Fechou os olhos e suspirou longamente.

Era médico em uma clínica psiquiátrica. Tratava dos pacientes que se feriam, o que era algo bem comum, já que a grande parte sofria de distúrbios fortíssimos.

Fora ali que ele descobriu todas as coisas erradas em sua vida.

Checou o horário, e viu que já chegava perto das oito, e teria que chegar no horário para a janta.

Tirou o jaleco e o deixou no sofá, ajeitou o cabelo para trás e deixou o cômodo.

Deixou o prédio de funcionários, cruzou o jardim e entrou na ala psiquiátrica, onde os pacientes ficavam.

Ele sabia bem o caminho, conhecia tudo ali, pois por vezes ele passava ali antes de ir para casa.

Encontrou uma das tantas enfermeiras, ela o cumprimentou com um aceno, também já estava acostumada a vê-lo ali fora do expediente.

Parou em frente ao quarto 286. Bateu com as costas da mão duas vezes e abriu a porta destrancada.

Ela estava sentada, como sempre sentada, encarando a janela aberta, mesmo com o breu lá fora.

- Olá doutor. - Sua voz era fraca, a cabeça meio inclinada para o lado esquerdo.

- Oi mamãe. - Sorriu ao entrar no quarto e fechar a porta.

Cores.Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon