Eu abro a boca para falar, mas ele abaixa a mão e dá um passo para trás, quebrando o contato visual.

— Você está certa — ele diz, a voz baixa. — Não devia ter vindo.

E antes que eu possa responder, ele se vira e caminha para fora, deixando apenas seu cheiro e a memória de seus lábios nos meus.

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— Após a conquista das Terras Fluviais, pela queimada de Harrenhal, e das Terras da Tempestade, conquistadas pela Rainha Rhaenys e por Orys Baratheon, o rei do Norte, Torrhen Stark, convocou seus juramentados e começou a reunir um exército contra o rei Aegon. Mas, quando Torrhen chegou às margens do rio Tridente, ele se deparou com uma imensa tropa e três dragões.

Escuto Meg lendo com uma empolgação que raramente vejo. Estou deitada, encostada na perna dela, enquanto ela está sentada, com o livro aberto sobre as coxas, totalmente concentrada.

— Torrhen sabia como estavam as ruínas de Harrenhal e o que aconteceu no Campo de Fogo. Ele sabia que não tinha muitas chances de vencer e que a batalha poderia terminar num massacre. Seu irmão bastardo, Brandon Snow, se ofereceu para se infiltrar no acampamento Targaryen à noite e matar os dragões. Mas Torrhen recusou o plano.

— Teria sido divertido ver Brandon tentando matar Balerion, Vhagar e Meraxes de uma só vez — comento, rindo. — Imagine só, um homem com uma faca enfrentando três dragões.

Meg revira os olhos, mas não consegue segurar um sorriso.

— Shhh, deixe-me continuar — ela diz, fazendo uma careta antes de voltar ao livro. Nunca a vi tão concentrada em algo assim. — Torrhen então cruzou o Tridente e dobrou o joelho para Aegon Targaryen, poupando milhares de vidas nortenhas. Ele depositou sua coroa aos pés de Aegon e jurou fidelidade. Após sua rendição, foi permitido a Torrhen manter o título de Lorde de Winterfell, e Aegon o nomeou Protetor do Norte.

— Por que você está tão empenhada em saber da família de Alec, hein? — pergunto, sorrindo enquanto me ajeito um pouco.

— Estou apenas estudando sobre a história de Westeros — ela responde sem nem tirar os olhos do livro.

— Agora diga a verdade — insisto, lançando um olhar significativo.

Ela solta um suspiro exagerado, fechando o livro antes de me encarar.

— Tá bom... — admite, quase sem graça. — Eu e Alec estamos passando muito tempo juntos. E ele só fala da família dele e que "o inverno está chegando". Preciso aprender mais para não passar vergonha.

Não consigo evitar o sorriso que cresce no meu rosto. Me viro para ficar de frente para ela, apoiando o queixo nas mãos.

— Você gosta dele.

— Não! — ela nega imediatamente, os olhos arregalados como se eu tivesse dito o maior absurdo do mundo. — Somos amigos.

— Margaery Celtigar, não minta para mim — digo, balançando o ombro dela com uma risada.

Ela revira os olhos, mas não consegue esconder o sorriso.

— Tá bom, vamos dizer que que eu goste dele, mas é meio estranho, não é? Ele e você... vocês já ficaram juntos uma vez.

— Jamais — respondo, sem hesitar. — Aquilo foi... éramos apenas crianças, Meg. Nem fazia sentido.

Ela me observa por um momento, com a testa ligeiramente franzida, como se estivesse tentando avaliar minha reação.

— E eu não iria pensar nessa possibilidade. Minha mente já tem homens complicados demais...

Bufo, irritada só de pensar.

— Falando nisso, você parou de falar sobre Robert. O que houve com o noivado?

Paro e suspiro.

Lembro-me do jantar. Dos olhares aprovadores ao nosso redor. Da forma como Robert foi carinhoso e gentil comigo. Mas também lembro da mão dele no meu braço quando estávamos a sós. Não gosto de como ele me tocou. Foi... agressivo. Eu não posso aceitar isso.

— Não vou levar isso adiante.

Ela arqueia a sobrancelha.

— O que houve?

Eu sempre conto tudo a Meg, mas dessa vez algo dentro de mim me impede de falar. Sinto vergonha. Vergonha de ter sido imponente, de ter me imposto a uma situação que nunca fui capaz de presenciar.

— Não gosto dele dessa forma e nunca vou gostar.

É a única coisa que digo. Meg me encara, surpresa com minha resposta.

— Isso é sério? Mas você parecia tão... — ela para, escolhendo as palavras. — Decidida. Quase resignada, sabe? Como se já tivesse aceitado que esse fosse o seu destino.

— Porque era isso que todos esperavam de mim — digo, finalmente. — Mas eu não consigo. Eu não quero isso. Não quero passar a vida ao lado de alguém que...

Minha garganta aperta, e não consigo terminar a frase.

— Que o quê? — Meg pergunta, sua expressão agora cheia de preocupação.

Respiro fundo, tentando afastar as memórias que insistem em surgir. Não posso contar a ela. Não posso contar a ninguém.

— Que não me faz feliz.

Meg suspira e estende a mão, pousando-a sobre a minha.

— Então não faça.

Seu tom é simples, como se fosse fácil assim.

— Você sabe que não é tão simples — respondo, com um sorriso cansado.

— Talvez não seja. Mas você é Shaena Targaryen. Quando é que você fez algo que fosse simples?

Não consigo evitar uma risada curta. Ela tem razão. Nunca fui de escolher o caminho fácil.

— Você sabe que... Aenys ainda não se casou com Alyssa — ela começa, hesitante. Reviro os olhos, já prevendo onde isso vai dar. — E Maegor... bom, ele também não parece muito entusiasmado com Ceryse Hightower. Então, talvez os dois...

— Meg, pare aí — interrompo, levantando uma mão.

Ela pisca, surpresa pela minha firmeza.

— Isso não vai acontecer.

— Mas por que não? — ela inclina a cabeça, curiosa. — Você e Aenys sempre tiveram algo especial, e Maegor... bem, vocês já tiveram seus momentos.

— Porque não quero — digo, sem hesitação. — Prefiro ficar sozinha do que me humilhar para os dois. Posso nunca me casar e talvez um dia Aenys herde o meu trono, e meus sobrinhos continuem minha linhagem.

Ela me encara, perplexa, como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.

— Shaena, você está me dizendo que vai abrir mão de tudo? De um casamento, de filhos, de amor...

— Não estou abrindo mão de nada — respondo, firme. — Estou escolhendo o que é certo para mim.

Meg balança a cabeça, desaprovando.

— Você não pode viver só pelo dever. Não é isso que faz uma vida.

— Talvez para mim seja.

Ficamos em silêncio. Meg me observa por mais um instante, como se quisesse argumentar mais, mas decide não insistir.

— Você é impossível, sabia? — ela murmura, antes de abrir o livro novamente. — Muito teimosa.

— E você fala demais — respondo, sorrindo, me deitando de volta na perna dela.

Ela suspira e volta para a sua leitura, mas minha mente está longe. Porque, mesmo que eu diga que prefiro ficar sozinha, mesmo que eu acredite nisso com toda a minha força, eu sei que Aenys — e Maegor — nunca me deixarão em paz.

𝐀 𝐅𝐢𝐥𝐡𝐚 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐧𝐪𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫💫𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐫𝐚𝐠𝐚̃𝐨Where stories live. Discover now