— A maioria das pessoas pode errar, Shaena. Isso não precisa arruinar a vida delas.

Fecho os olhos, mas ainda consigo vê-lo. Senti-lo a poucos centímetros de mim, o calor do seu corpo, o cheiro de vinho em sua roupa e no cabelo. Aquilo me enlouquece, fazendo meus joelhos tremerem.

— Nossas vidas não estão arruinadas — eu sussurro, mesmo sabendo que isso é uma completa mentira.

Ele enterra o rosto no meu ombro. Por um instante, penso em resistir, mas estou tão cansada — tão cansada de lutar contra o que quero. Eu acho que nunca mais terei isso, Aenys em meus braços novamente, magro e musculoso, tenso, mãos fortes alisando minhas costas.

— Mas eu estou arruinado sem você — ele murmura.

E nesse momento, sinto que estou tão arruinada quanto ele.

Abro os olhos, assustada. Ele levanta a cabeça. O rosto dele está tão próximo que é quase um borrão de luz e sombra.

— Shaena — fala, com os braços em volta de mim, puxando-me para perto.

E então Aenys me beija; nós nos beijamos. Ele me puxa para perto, encaixando meu corpo no dele. Minha boca se abre sobre a dele, minha língua passa suavemente pelos lábios.

Um trovão explode ao nosso redor, e meus olhos se abrem brevemente. Vejo um raio riscando o céu, iluminando a Baía da Água Negra com um brilho prateado antes de desaparecer. A trilha da luz arde sob minhas pálpebras quando fecho os olhos novamente e me volto para ele. Aperto os braços em torno de seu pescoço, trazendo-o para ainda mais perto. Sinto o calor dele através de sua roupa, mesmo que ela esteja molhada.

Ele passa as mãos pelas laterais do meu corpo, seus dedos traçando cada curva como se tentasse memorizar meu formato. Quando ele chega aos meus quadris, seus dedos se apertam, puxando-me para ele de forma que parece inevitável.

Um som escapa de sua garganta, um ruído baixo e rouco, carregado de desejo e algo mais — uma espécie de angústia que se mistura ao momento. Minha mente grita para que eu pare, mas meu corpo não ouve.

Então, como o trovão que ecoa lá fora, a realidade me atinge. Empurro levemente o peito dele, afastando meu rosto apenas o suficiente para que nossos olhos se encontrem.

— Não... — minha voz falha, e ele me encara, a tempestade nos olhos tão intensa quanto a lá fora. Não posso fazer isso com ele nesse estado. E não comigo nesse estado. Engulo em seco antes de acrescentar: — Alyssa e... Robert. 

Sei o que estou fazendo. Estou usando algo que não deveria, mas é a única forma de fazê-lo parar. Sei que ele e Alyssa não têm nada além de um acordo. E eu e Robert... nunca seremos nada além de uma mentira sustentada por medo e conveniência.

E foi só duas palavras, mas eram as palavras. O lembrete mais brutal da situação em que estávamos.

Mesmo assim, precisava usar isso a meu favor. Aenys está fora de si e vamos resolver isso — se é que vamos resolver — quando ele estiver sóbrio. 

O olhar sonolento e vulnerável deixou o rosto dele. Ele empalidece, o espanto estampado em cada linha de seu semblante. Seus olhos, que há pouco carregavam um brilho febril, agora estão perdidos, vazios.

Ele levanta a mão, hesitante, como se quisesse dizer algo — explicar, justificar, ou talvez até pedir desculpas. Mas nada sai de seus lábios.

E então, como se o céu se cortasse ao meio, um trovão explode, tão forte que parece abalar as próprias estruturas do castelo. A luz ilumina o rosto de Aenys por um breve instante, revelando algo que me dói ver: tristeza e algo próximo de arrependimento.

𝐀 𝐅𝐢𝐥𝐡𝐚 𝐝𝐨 𝐂𝐨𝐧𝐪𝐮𝐢𝐬𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫💫𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚 𝐝𝐨 𝐃𝐫𝐚𝐠𝐚̃𝐨Where stories live. Discover now