Capítulo 1

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"Cuida de mim! Eu sei que você pode, só é questão de tempo... Me guarda no teu colo e me livra dos meus medos mais sombrios..."

***

- Então, você acredita no que viu?

- Sim, eu acredito!

***

25 de Dezembro de 2006:

Olhei para o relógio e os ponteiros marcavam exatamente 09:00 horas. Eu observava pelo canto do olho a freira caminhando de um lado para o outro com uma régua na mão.

Do outro lado da sala, estava minha amiga na famosa caixa da vergonha. Eu via seu olhar de sofrimento por estar sendo humilhada de tal maneira. (Demonstração da caixa da vergonha na foto)

- Você está bem? - sussurrei de uma maneira que ela entendesse. Ela balançou a cabeça positivamente.

Senti uma rápida dor na mão, pois já fazia horas que eu estava copiando coisas que uma pessoa boa não faz. Massageei minha mão discretamente.

- Psiu! - minha amiga tentava chamar minha atenção. Olhei para ela. - Tá doendo muito?

Eu ia responder que sim, mas ela fez um sinal de silêncio e eu fiquei confusa. De repente, sinto algo duro bater na minha cabeça.

- Sem conversas, continue copiando! - a freira bateu a régua na minha cabeça novamente.

- Por favor, minha mão não aguenta mais...

- Sem desculpas! - ela me bateu de novo.

- DEIXA ELA EM PAZ! - a minha amiga gritou. A freira olhou para ela com um olhar furioso, depois olhou para mim.

- Ai, ai! Para! - ela me puxou pela orelha, me levando para um canto da sala com milhos espalhados pelo chão.

- Isso é para você aprender a obedecer, Carley! - ela me empurrou no chão, em seguida colocou uma caixa por cima de mim.

Você deve estar se perguntando, por que tudo aquilo estava acontecendo?

Bem... É difícil de explicar, mas vou ser bem direta. Eu e minha amiga, Debrah, para ser mais exata, fomos pegas no flagra tentando fugir do orfanato. E nesse orfanato, as regras são bem rígidas.

- Meus joelhos doem! - Debrah choramingava.

- Elas vão nos tirar daqui, paciência!

(...)

- ACORDEM! - um balde d'água foi jorrado em nossas cabeças. - Peguem isso e limpem essa bagunça! Há muita coisa para fazer! - a mesma freira nos deu uma vassoura, um balde d'água com sabão e um pano.

Começamos a limpeza, pois não queríamos aborrecé-la. Debrah estava varrendo o milho e eu enxugando a água que a freira havia derramado.

- Mal posso esperar para alguém nos adotar! - Debrah sussurrava. - Como você acha que vai ser a mamãe e o papai? - ela ria só de pensar.

- Não sei! - falei sem ao menos me importar.

- Eu acho que a mamãe vai ser muito carinhosa e linda! E o papai vai ser corajoso, engraçado e... Lindo! - ela falou e eu ri.

- Você não tem muita criatividade, em? - ela riu.

- Então faça melhor!

- Bom... Eu espero que ambos sejam compreensivos e nunca tenham coragem de nos abandonar novamente! - falei de cabeça baixa.

- Que tal esquecerem isso e continuarem a limpeza? - a freira apareceu atrás de mim. - Todos nós sabemos que ninguém vai adotar vocês e que vão morrer sozinhas!

- Mary, isso não é verdade... - interrompi Debrah.

- Ela tem razão, Deb! Já faz 4 anos que estamos aqui, se fosse para sermos adotadas, já teríamos saído daqui faz tempo! - Debrah me olhava incrédula.

E assim continuamos a limpar sem trocarmos palavras.

(...)

Todos já haviam sidos postos para dormir, e como eu não aguentava ficar mais ali, nunca conseguia pregar o olho. Então, eu e Debrah fazíamos brincadeiras, e quando alguém chegava, nós fingimos estar dormindo.

Me levantei do colchão assim que o horário das freiras estarem dormindo chegou. Como eu e a Debrah dormíamos em quartos separados, uma de nós teria que ir no quarto outra. E assim, fui até seu quarto.

Ao chegar em seu quarto, fui entrando sem pedir permissão e fechei a porta logo atrás de mim.

- Então, Deb! O que quer fazer hoje? - quando olhei para Deb, me surpreendi, pois ela estava jogada no chão com dificuldade para respirar. - Ah, meu Deus! Deb, onde está sua bombinha? - corri e fiquei ao seu lado. Com a maior dificuldade, ela apontou aonde estava.

- Aguenta firme! - peguei sua bombinha o mais rápido possível, e ajudei ela a usar. Ela já parecia mais calma, e ambos estavam aliviadas.

- Obrigada! - ela falou meio ofegante.

- Amigas estão aqui para isso! - segurei sua mão e ela sorriu.

O nosso plano de fazer brincadeiras às escondidas havia sido adiada, e no lugar disso, eu fiquei ao seu lado esperando ela adormecer.

- Deb, você lembra daquela música que a tia Anastacia costumava cantar para nós? - perguntei.

- Sim... É uma pena que ela teve que ir embora! - ela falou baixinho. - Você lembra como ela cantava? - ela perguntou com um sorrisinho no rosto.

- Lembro!

- Você pode cantar para mim? - eu respondi que sim e logo comecei a cantar.

Just close your eyes
(Apenas feche seus olhos)

The sun is going down
(O sol está se pondo)

You'll be alright
(Você ficará bem)

No one can hurt you now
(Ninguém pode machucá-lo agora)

Come morning light
(Ao chegar a luz da manhã)

You and I'll be safe and sound
(Nós ficaremos sãos e salvos)

- Essa é a minha parte favorita! E a sua? - perguntei ao terminar de cantar. Ela não respondeu. - Debrah?

(...)

- Debrah foi uma garota doce e gentil! Com certeza sua ausência nos fará sentir dor, mas como todos sabem... Quando estamos na escuridão, sempre haverá luz! - Mary falava diante do caixão de Debrah para todas as pessoas do orfanato. - Descanse em paz, Debrah Stones! Deus te guiará até a luz!

Lost illusionWhere stories live. Discover now