Capítulo Um

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Uma das piores coisas da vida, é a saudade, eu poderia dizer que tenho saudades do meu primeiro namorado, aquele em que no final das contas ele nem gostava de mim e acabamos um para um lado e o outro para o outro. Ou saudade daquela minha amiga maluca da 5ª série, a qual me fez brincar de pular corda e eu acabei caindo de cara no chão, o que fez ela rir muito. Poderia dizer que tenho saudades da minha boneca Sophia, que perdi quando tinha 10 anos na casa de praia. Mas a verdade é que eu tenho saudade de quando eu não entendia o que estava acontecendo e não sabia o que é realidade. E infelizmente, hoje eu sei. E saudade nenhuma vai mudar isso.

Eu tento suportar, fingir que não ligo, que não me importo. Mas há dias que eu não aguento, e que eu deixo a minha dor escorrer em forma de sangue pra fora de meu corpo. As pessoas jogam as palavras pensando que não vai haver consequência, elas não ligam para o que vai acontecer depois ou se suas palavras machucam. Elas não ligam se eu tenho sentimentos, ou se sofrerei quando perceber o quanto aquelas palavras eram verdadeiras.

Ela, aquela mulher, não liga se eu sofro com isso, a verdade é que ela se quer se ver livre de mim, e para a felicidade dela, ela vai conseguir.

Começo a cortar meus pulsos, enquanto perfuro tentando fazer com que pelo menos uma veia se rompa. E eu possa morrer em paz. As lagrimas caem sobre meus pulsos, e elas pesam toneladas. Meu coração dói, e minha vontade é de gritar, para ver se essa dor que há em meu peito saía. Mas não adianta, nem esses cortes estão adiantando mais.

Eu só quero a verdade. Eu só quero saber por que ela não está aqui.

Minha visão começou ficar embaçada, e eu só me vi caindo de joelhos no chão do banheiro antes de tudo ficar escuro.

Abri meus olhos lentamente, eu estava tomando sangue pela veia. Estava ainda um pouco zonza, e meus braços enfaixados. Olhei ao redor e tinha uma garota provavelmente um pouco mais nova que eu. Ela estava dormindo. Uma enfermeira veio até mim e fez várias perguntas, se eu estava com dor, tonta ou algo do tipo. Respondi todas e ela tirou agulha de dentro da minha mão colocando um adesivo para tampar o furinho. Logo foi na garota ao lado, que despertou e ao me ver sorriu. Por que ela está sorrindo?

― Como você está se sentindo? ― perguntou a enfermeira.

― Estou bem melhor ― disse a garota.

― Que ótimo, talvez você saia logo. Os medicamentos poderão ajudar. ― A enfermeira disse e sorriu.

― Seria ótimo!

― Você tem certeza que quer continuar aqui? ― ela perguntou e a garota a encara.

― Eu não gosto daquele quarto, eu me sinto sozinha. Com razão, certo?

― Mas lá é melhor para você. ― A enfermeira insiste.

― Aqui é melhor pra mim. ― A garota disse confiante. A enfermeira assentiu com a cabeça e deu uns remédios para ela e logo depois saiu.

― Ela foi chamar seus pais ― disse a garota.

― O que? ― pergunto.

― Ela foi chamar seus pais ― repetiu.

― Tá. Isso entendi. Mas como sabe? ― questionei.

― Eles sempre chamam.

― Chamam seus pais sempre?

― No meu caso, os meus pais estão sempre aqui. ― disse e se senta pegando um caderno sem linhas e uns lápis coloridos. Começou a passar um lápis verde pelo papel.

― Você desenha? ― pergunto e me sento também.

― Sim. ― respondeu.

― E o que está desenhando?

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