Vida nova

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  Não pude considerar uma boa noite, o sono não foi capaz de me desligar dos acontecimentos, muito menos de me fazer esquecer do calor de seu corpo me protegendo. 

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  O domingo amanheceu chuvoso e extremamente calmo, com o cheiro de café tomando conta de toda a casa foi inevitável me levantar, o pijama não foi trocado e o chinelo evitava o contato dos meus pés com o piso gelado, abri a cortina e vi que apenas o meu carro e de Harry estavam na garagem, me pus a organizar minha cama e logo desci.

  -Bom dia. - vi meu irmão encostado no balcão da enorme cozinha me analisando, e assim um sorriso surgiu em seus lábios. -Bonitinho o pijama.

  -Huum bom dia, esperava no mínimo que o café fosse feito por você e não por isso. - apontei para a cafeteira fazendo uma careta. -E sobre meu pijama ser da seção infantil, não o julgue é confortável o bastante. - dito isso lancei um olhar brincalhão, logo a sensação que me deixou inquieta durante a noite estava de volta, fui envolvida por seus braços numa tentativa desajeitada dele de me levar mais para perto, suas mãos encontraram minha cintura e sua cabeça se colocou na curva de meu pescoço, sua respiração quente em contato com a pele fez a minha tornar-se descompassada, o que foi percebido, fazendo seus dedos se moverem e acariciarem meus braços expostos.

  -Estava tão linda ontem, e aquele desgraçado tocou em ti, eu fiquei tão furioso que era capaz de mata-lo naquela sala com a presença de todos. - minhas unhas estavam como garras em seus ombros, a cada palavra sua eu fui levada para mais próximo. -Apenas me diga que manterá distância desses caras, eles não são bons. É tão pura e inocente que me dói pensar neles junto a você. 

  -Harry está me assustando, não terei contato algum com esse tipo de gente. - disse tentando manter a respiração controlada, levei seu desespero e julgamento em brincadeira. -O que? Não sou inocente, o que falou me faz sentir tola e criança, e pelas minhas contas é apenas um ano mais velho, o que não faz muita diferença. - ele riu cínico afastando-se para as escadas ao ouvir nossos pais destrancarem a porta.

  -Tão ingênua... E sobre o pijama, não me parece nada infantil. Tente entender Allyson.

  Me recompus assim que o resto da família chegou a cozinha com as sacolas de compras. Meu pai pediu para que lhe contasse sobre a noite passada, fiz a qual omitindo partes desnecessárias e me esforçando ao máximo para não desmoronar quando o olhar de Harry caiu sobre mim vindo da sala, rindo da minha falta de habilidade com mentiras, ele parecia se divertir com meu nervosismo, no fim resolveu me ajudar ao perceber que não fui capaz de responder a uma pergunta sequer sem gaguejar.

  -Foi realmente tão legal quanto as outras, mas tive bastante trabalho em manter os garotos afastados. - sua fala era direcionada a seu padrasto e seu rosto para mim, exibindo uma carranca ao falar "dos garotos". -Eu já havia comunicado a todos sobre a vinda de Ally, e pelo visto ela se deu bem com todos.

  -É foi basicamente isso, pai. Gostei muito de todos. - estava livre e me desfiz do embaraço. -Tenho que subir arrumar meus materiais, amanhã volto ao colégio. - esse seria o álibi para minha fuga correndo escada acima.

  -Quando eu terminei não devia ter dito mais nada, quase me fez parecer mentiroso gaguejando ao final... Deveria lavar o rosto já que está tão vermelho. - estávamos no corredor de nossos quartos, sua pose de total confiança me deixando vulnerável e com o ego encolhido. -Nos vemos à noite, vou ajudar Zayn a organizar toda aquela bagunça! - seus dedos afastaram meu cabelo para longe de meu rosto, afagou minha bochecha e partiu me deixando totalmente perdida.

  Ele deveria estar arrumando a bagunça que deixou em minha cabeça, me dando uma explicação ou uma resposta para uma pergunta inexistente; Nada daquilo parecia real, suas palavras e gestos ficaram marcados em minha mente e corpo.

  A única maneira de me afastar de Anne e Bob foi lhes dizer que passaria o resto do dia estudando, já que havia partido de minha antiga escola na metade do ano e o terminaria ali. Porém o tempo foi gasto pensando nas primeiras horas da manhã, na maneira tão estranha de que meu irmão agiu; as horas se passaram e o dia acabou trazendo uma noite que provavelmente seria novamente mal dormida. Meus olhos já pesados lutavam para ficar abertos quando a porta foi aberta com calma, eu sabia de quem se tratava no momento em que o corpo pesou ao se sentar ao meu lado na cama, fechei meus olhos e fingi que estava num sono profundo, a coberta foi ajeitada sobre meu corpo e as cortinas fechadas, então escutei sua voz em um sussurro.

  -Durma bem, minha doce Ally. - a porta foi fechada e meus sonhos logo tiveram início.


HalfWhere stories live. Discover now