Continuação - Dragão II

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Avancei devagar, ainda tentando raciocinar com clareza. O Clã não tinha motivo para atacar o velho Fang alguém que servirá aos interesses do grupo com absoluta lealdade por tantos e tantos anos. Um passo em falso e meu tênis invadiu uma poça de sangue, junto ao que restava de uma perna. Recuei, com a terrível sensação de profanar um santuário. Fang era um grande mestre, um bom amigo. E eu... Oque era ? O que sou? Também sou um deles.

Meu instinto gritou naquele minuto, um aviso de que eu não estava mais sozinho. Aguardei pacientemente, a santa paciência que meu mestre sempre me exigia, aquela que sempre me atrapalha nos momentos decisivos. Naquele momento, não havia mais nada a fazer a não ser esperar.

- Ora, quem diria! Nosso caçulinha passeando em Hong Kong.... - resmungou Blöter, algum tempo depois, com seu arrastado sotaque alemão. Mesmo após tantos séculos servindo ao Alpha, ele ainda tinha dificuldade para se expressar em inglês.

- Você está atrasado para jantar! - provocou Cannish, o irlandês, erguendo os dedos da mão esquerda para lambê-los. Estavam sujos com o sangue de Fang - Huuuummmm... Comida chinesa é mesmo deliciosa!

Os recem-chegados riram com estardalhaço, cada vez mais divertidos com a expressão de ódio que minha máscara de frieza não conseguia mais esconder. Cannish, com os cabelos ruivos cortados rente ao couro cabeludo e as dezenas de tatuagens espalhadas pelos ombros e braços que sempre mantinha à amostra em camisetas regata, inclusive no inverno, cultivava um visual de roqueiro de Audioslave. Era jovem, alta, forte, um sujeito que vivia enfiado em academias de ginástica. Aparentava ter uns 35 anos, o mesmo que o grandalhão Blöter, com seu mais de dois metros de altura. Este, que fazia questão de lembrar a cada minuto que seus inúmeros músculos eram de aço, podia muito bem ser confundido com um bloco de concreto. Ninguém notaria a diferença. Não havia cérebro em sua cabeça de cimento e tampouco qualquer sentimento em seu coração a não ser ódio contra qualquer criatura viva. Exceto, claro, sua fêmea Beta, a quem seguia como um cachorrinho. E ainda havia sua reverência cega ao Alpha. Blöter e Cannish, apesar de extremamente poderosos, não passavam de vassalos obedientes a um grande senhor.

Eu não os temia. O medo antigo cederá espaço ao desprezo e à raiva. Encarei as criaturas em suas faces humanas, procurando seus olhos na escuridão que, para nós, não era empecilho para enxergar o que nos rodeava. Dos três, eu era o mais baixo, com meus quase 1,80 de altura, e muito mais fraco. Nunca tive os músculos hiperestimulados de um halterofilista como eles, apenas o corpo saudável de um quase atleta que fui, quando competia nas provas de natação do colégio. Para os padrões exagerados do Clã, minha aparência comum me classifica como um magricela. A primeira e única surra que levará de Blöter e Cannish completava quase 50 anos, a mesma surra histórica que me colocará como Ômega do grupo, portanto o mais desprezível e sempre ridicularizado. Naquele instante difícil, não avaliei minha desvantagem. A dor pela perda de Fang me cegava. Eu queria vingança.

A chegada de mais alguém interrompeu o riso estúpido, insistente. Cheiro de humano. Uma fêmea jovem saída da adolescência ... Cannish estalou os lábios, á espera da sobremesa.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2015 ⏰

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Lobo Alpha - Helena GomesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora