Capítulo 12

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CLARA MONTEIRO


O dia seguinte eu amanheço apreensiva sobre o dia de hoje, Enrico ameaçou vir conhecer Ian e eu preciso criar coragem e contar para meu filho de quatro anos algo que nem eu mesma eu entendo. Depois do café da manhã, sento com ele em meio a seus carros de corrida e tento:

— Filho, lembra que disse que seu papai estava morando no céu?

— Sim mamãe — ele responde todo compenetrado em seus carros.

Mordo minha bochecha.

— Certo, e se você descobrisse que ele não estava morando no céu e que você iria conhecê-lo, você gostaria disso?

Eu estava levando essa conversa horrivelmente, mas como você diria ao seu filho pequeno que seu pai está vivo quando tudo que ele conhece é a história que contamos a ele que seu pai estava morando no céu desde antes dele nascer? Falar de morte com adulto já é algo difícil, imagina uma criança.

— Ele veio do céu? — ele pergunta em um sussurro, seus olhos arregalados de surpresa e esquecendo momentaneamente seus brinquedos.

— Pode-se dizer que sim, amor — falo tirando seus cabelos da testa. Estava vindo mais do inferno, o homem poderia ser rude, eu não gostava desse Michel, ou melhor, Enrico. Diabos, nem eu sei como chamá-lo.

— Uaaau! — ele exclama arrastado e cheio de admiração em seus olhos tão iguais ao de Enrico.

— Você iria gostar de conhecer ele?

Ele parece estar pensando quando fica calado.

— Eu vou ter um papai agora?

Oh Jesus e se Enrico desapontar meu filho? E se ele for embora e não quiser saber dessa história de filho, mesmo que um teste de DNA prove isso? O homem poderia vir a amar Ian?

Ele podia estar curioso, mas se resolvesse sumir como antes. Eu não suportaria que meu filho passasse por tudo que foi minha vida nesses últimos anos sofrendo essa dor surda no peito. A dor da saudade é sufocante, o peito pesa como se houvesse tonelada em cima.

— Talvez. A mamãe achava que o papai estava no céu, mas ele não estava e ele quer conhecer você — digo.

— Eu também quero meu papai.

Meus olhos enchem de lágrimas quando percebo que ele poderia sentir falta de uma figura masculina e que aceitaria Enrico facilmente. Talvez fosse a idade. Abraço Ian, e ele se contorce para fugir como sempre.

Fico sentada no chão brincando com Ian até a mamãe aparecer na sala.

— Ei crianças!

— Vovó! Eu vou ter um papai agora! — Ian grita correndo para sua vó e mamãe me olha por cima de sua cabeça quando ele bate em suas pernas. Ela parece cheia de perguntas.

Seus olhos questionadores podem esperar.

— Essa é uma notícia maravilhosa, querido — ela diz abraçando-o. — Você gosta da ideia?

— Siiimm!

Talvez ele não tivesse problema nenhum com a novidade, ou talvez fosse só isso, uma novidade que ele esqueceria rápido, caso Enrico não continuasse em nossas vidas. Ou possivelmente eu esteja tentando me enganar de que Enrico invadindo nossas vidas não vá causar mais estragos do que ele já fez como Michel.

A Esposa Esquecida do CEOWhere stories live. Discover now