• I think you and I should stay the same •

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Natália acordou relativamente tarde. Não tanto quanto talvez devesse, considerando a hora que tinha ido dormir na madrugada anterior, mas quase perto da hora do almoço. Quando chegou na sala de estar, Pedro assistia alguma série distraidamente em seu tablet, mas logo pausou e se levantou quando a irmã lhe desejou bom dia.

"Bom dia, flor do dia" ele soava quase irônico, andando até ela e dando-lhe um rápido abraço "Parabéns mais uma vez"

"Obrigada, maninho"

"Eu achei que ia ter que guardar sua cesta pro jantar" o rapaz completou, indo até a bancada da cozinha e pegando a enorme cesta de café da manhã que a esperava em cima dela.

Era uma tradiçãozinha da família, que tinham desde pequenos com os pais. Em todas as datas comemorativas que passavam juntos (aniversários, dia das mães, dos pais, das crianças...) eles sempre pediam uma cesta com os itens favoritos de quem quer que fosse o dia e tomavam café da manhã juntos. Natália se lembrava muito pouco dos tempos com a mãe, sendo muito criança quando ela morreu, mas as memórias com o pai, que se foi quando ela estava na adolescência, ainda eram vívidas em sua mente.

Os dois se sentaram à mesa e Natália abriu a cesta, tirando os itens pouco a pouco com a ajuda do irmão. Ele também a entregou um envelopinho com seu nome escrito - outra pequena tradição que havia se criado entre eles. Pedro não tinha muito jeito para comprar presentes, principalmente quando eram mais novos. Ele tinha apenas 19 anos quando de repente se viu como o único adulto da família, e fez o seu melhor para administrar o dinheiro da herança dos pais e cuidar dos seus irmãos. Havia amadurecido muito rápido e virado um cara extremamente pragmático, apesar de continuar amoroso. Nunca deixou de se fazer presente na vida dos irmãos, mas do jeitinho dele: preferindo sempre dar de aniversário uma boa quantia para que os mais novos gastassem como quisessem.

Uma das linguagens do amor da Natália era presentes, então parte dela preferiria que ele escolhesse algo que achasse a cara dela. Porém ela havia aprendido a apreciar a tradição que havia se criado entre eles – e ela meio que achava fofo o fato de, mesmo podendo fazer um pix, ele sempre se dar ao trabalho de tirar o dinheiro, comprar o pequeno envelope e escrever à mão seu nome, se esforçando para fazer uma letra bonita e colocando o ano do outro lado. A fotógrafa guardava todos os envelopinhos, formando uma pequena coleção personalizada.

Como sempre, ela agradeceu ao mais velho e os dois foram beliscando as delícias do café da manhã, quando Pedro questionou "E aí, quais são os planos pra hoje?"

"Nada demais." Natália deu de ombros. "Combinei de sair com as meninas pra um barzinho de noite"

"Interessante" Ele ergueu as sobrancelhas "Pensei da gente fazer uma videochamada com o Bruno... Pode ser antes de você sair. Topa?"

Natália respirou fundo. "É né... Fazer o que"

"Ei... Eu sei que vocês não estão no melhor momento, mas ainda é nosso irmão. E é aniversário dele também. Você planejava não dar parabéns?"

Ela torceu a boca. "Também não é pra tanto... Mas eu tava pensando numa mensagem genérica, não uma chamada de video."

"Você já fez isso ano passado... E eu entendi, não disse nada. Mas vamos dar um upgrade esse ano, vai. No Natal e no meu aniversário a gente fez e não foi tão ruim assim"

"É" Concordou, sem qualquer empolgação. Não tinha sido a pior experiência do mundo, os dois foram cordiais (o Bruno até demais, na verdade). Mas havia sido... estranho. Quando você se da conta que a pessoa que era mais próxima a você em algum momento se tornou um estranho, interagir com ele realmente não é algo confortável. Natália não estava nem um pouco empolgada para repetir a experiência, mas entendia os esforços do primogênito para manter a família minimamente unida. "Tudo bem. Antes de eu sair a gente liga pra ele."

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