Longo dia

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Harvey

1 semana antes
"Enquanto os meus olhos acompanhavam o movimento constante da minha caneta preta sobre a mesa recentemente polida, uma onda de lembranças inundou a minha mente.
Esta sala de reuniões, por mais que um pouco mudada, ainda ecoava lembrança da minha infância.
Recordava vivamente da primeira vez que pude participar de uma reunião de empresa com o meu pai. Era apenas um menino de 7 anos, ansioso por poder ouvir toda aquela conversa de adultos. Cresci acompanhado de cheiro a café e papel, discussões e negócios a serem feitos. Foi aí que soube que este era o meu caminho.
Hoje, 19 anos depois, sentando no lugar que antes era do meu pai, uma sombra de dúvida pairava sobre mim. As coisas já não funcionavam como antes, os sócios foram-se afastando, os funcionários temiam-me, as ações caíam cada dia mais e as vendas estavam cada vez mais escassas.
Todas as revistas e sites de fofocas pintavam-me como arrogante, frio, insensível e rude, como se eu me importasse com aquilo que as pessoas acham.
O meu pai pode não concordar com a maneira como estou a gerir a empresa, mas ele era muito brando.
Voltei a focar-me nos meu funcionários, sentados na mesa comigo. Todos olhavam para as suas notas, com um olhar de pânico, enquanto tentavam arranjar alguma ideia que eu não detestasse.
-Talvez devêssemos fazer uma nova campanha?- a minha feição manteve-se gelada.
-Ou lançar um novo produto?- a cada palavra que saía da boca daqueles idiotas, o meu sangue servia um pouco mais.
-Primeiramente, isso são ideias ou perguntas? E segundo, vamos fazer uma campanha de quê? Do produto que ainda não temos? Acho que isso responde à tua questão.- o silêncio voltou a fazer-se ouvir na sala, até que Edward, o diretor de marketing, o quebrou.
-O que precisamos é de uma nova abordagem.- ele distribuiu pastas por todos.- Podemos desenvolver os produtos mais inovadores do mercado, mas os números não mentem... As nossas táticas habituais já não estão a ser suficientes. Com as mudanças e avanços no mundo tecnológico, só promovermos os nossos produtos na televisão ou em cartazes de rua já não tem o mesmo impacto.- todos tinha a sua atenção voltada para as palavras de Edward.
-Então o que sugere?- não bastava dar palestras sobre o que estava errado, tinha de ter alguma solução juntamente.
-Temos de nos adaptar aos tempos modernos Sr.- percebi que a minha postura autoritária não abalou a sua confiança. Não era por acaso que ele era o melhor nesta empresa.- É de extrema importância que ganhemos terreno no mercado tecnológico. A minha sugestão é encontramos alguém influente nesse meio, que possa promover os nossos produtos. Uma celebridade, uma modelo, ou até mesmo uma influencer."
Chegou o grande dia. O dia em que iríamos entrevistar as possíveis candidatas para serem a cara da minha empresa.
Já não bastava ter de passar por essa sessão de tortura, teria de o fazer sem café. Podemos dizer que sou um pouco rigoroso quanto ao meu café e a única pessoa que consegue acertar nele, para além de mim, é a minha secretária Hilda, que hoje de todos os dias ficou doente.
Senti a aragem fria da manhã assim que saí do meu carro e me dirigi à praça que ficava perto da minha empresa.
-Merda!- como o dia não podia correr pior, estava uma fila, um tanto quanto grande, no carrinho de café onde habitualmente vou.
Por mais que não me agradasse ter de esperar, sabia que valeria a pena, mesmo que me fizesse chegar atrasado.
Posicionei me na fila e observei a moça que estava na minha frente. Não tenho esse hábito de observar as pessoas ao meu redor, mas por algum motivo, aquela pessoa em especial cativou-me. Observei o seu cabelo, castanho escuro, longo e brilhante. Era visível que se cuidava bem. O seu pequeno corpo era abraçado com uma camisola de lã e umas calças jeans justas que fazia maravilhas às suas curvas.
Por mais que quisesse desvirar o olhar, não conseguia e não entendia o porquê. Já estive com diversas mulheres bonitas e nenhuma nunca puxou tanto a minha atenção. Só quando uma aragem passou por nós novamente é que entendi o motivo. Era o seu cheiro.
Conhecia aquela fragrância a quilómetros de distância. Foi o primeiro perfume que eu e o meu pai desenvolvemos. Foi a minha primeira criação.
Se acreditasse no destino com certeza este momento teria muito mais significado, mas eu não acredito, até porque milhares destes perfumes são vendidos por todo o país, então era apenas uma coincidência. Uma coincidência que me deixou completamente vidrado na estranha à minha frente.
Tão vidrado, que nem percebi que a estranha à minha frente, estava agora a 2 passos de mim, com um café muito quente na mão.
-Porra!- foi a única coisa que consegui dizer quando senti o seu pequeno corpo embater no meu, despejando todo o café do copo em mim.
-Oh Deus, peço imensa desculpa! Estava completamente distraída, desculpe...
-Obviamente! Talvez se largasse a porra do telemóvel e prestasse atenção ao mundo real, isto não aconteceria.- gritei, encarando por fim a mulher na minha frente. Ela tinha um rosto fino, pele branquinha sem qualquer imperfeição visível, uns lábios carnudos e uns grandes olhos castanhos que agora olhavam para mim com uma mistura de preocupação e raiva.
-Eu já pedi desculpa, e torno a pedir. Foi um acidente, não precisa de ser tão arrogante!- ela retribui a resposta no mesmo tom da minha.
-Com certeza não sabes com quem estás a falar...
-Oh não se preocupe, eu tenho completa noção de que estou a falar com o maior idiota à face da terra! Tenha um péssimo dia!- bufei de raiva, enquanto ela passava por mim, indo embora.
Senti a raiva apoderar-se de mim, fazendo o dia que já tinha começado uma merda, ficar ainda pior.
Nunca ninguém me tinha feito frente daquela maneira, ninguém. Senti o meu maxilar contrair-se ainda mais só de pensar naquela mulher.
Adentrei a empresa de cara fechada, até chegar ao meu escritório e fechar a porta com força.
-Bom dia. Vou fazer esta pergunta, com a chance de ser despedido, mas de 0 a 10 o quão bom está a ser a tua manhã?- ele olhou-me de cima a baixo.- Pelo teu aspeto, diria... um 7?- confesso que se não fosse a batida na porta, teria arremessado Edward pela janela.
-O que foi?!- vi Rita, a secretária temporária, espreitar um pouco pela porta.
-Peço desculpa interromper Sr. Henderson, mas já chegaram as candidatas para as entrevistas.- belisquei a cana do nariz.
-Mande a primeira entrar. Oh e Rita, vá buscar-me um fato lavado a casa.- ela estava a sair quando me lembrei de mais uma coisa.- E traga-me a porra de um café!- iriá ser um longo dia...

Olá,
O que acharam deste primeiro capítulo? Digam-me nos comentários.
Beijinhos,
Bru

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⏰ Laatst bijgewerkt: May 04 ⏰

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