⭑9

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09 ✦ Alvoroço no Aka Shing.

Asteris mal podia acreditar que os entregadores de suprimentos poderiam ser tão mal supervisionados. Bastou que se aproximasse e dissesse que foi chamada de última hora — uma desculpa muito tola —, o supervisor, de rosto magro e carrancudo, a olhou de cima a baixo.

— Aposto que Magnus quem a chamou... — Murmurou arqueando uma das sobrancelhas grossas. Seja lá quem fosse Magnus, ela agradecia.

Não pode deixar de notar o olhar de julgamento. Sobre seu rosto sujo, um pouco abatido, sem nenhum adereço que indicasse alguma condição. Existia um preconceito acerca dos famosos trabalhadores rápidos, andarilhos e maltrapilhos, e é claro que ele acreditou.

Ele a olhou com pena e ela teve que morder a própria língua para não confrontá-lo, afinal diante da situação geral isso não importava. Apontou com a cabeça para os mantimentos dentro do veículo.

— Tem certeza de que consegue levantar... Oh.

Ele não terminou sua pergunta, a garota levantou três caixas de ferro nos braços, levada pela vontade de calar a boca dele. Seguiu o caminho que os funcionários faziam, o coração batendo a mil quando passou pelos guardas.

Quando pisou no mármore reluzente do prédio só pôde suspirar. O cheiro de lavanda e cereja dominava mesmo o ambiente não frequentado pela clientela, as paredes eram claras, janelas enormes mostravam a ponte que interligava a cidade de Lunos e Sunari, lustres de diamante decoravam os tetos com ornamentos simples, porém refinados. Tudo ali gritava como ela não pertencia aquele lugar, a sofisticação digna da alta sociedade deixava bem claro o tipo de gente que frequentava ali.

Não era surpresa que Ada estivesse de alguma forma ligada até ali; sim, ela não era mesquinha, mas apreciava o luxo de bom grado.

Ao chegar na cozinha, onde, pelo que se pode analisar, era o lugar das caixas notou um movimento chamativo. Funcionários andavam de um lado para o outro, irritadiços demais para olhar para a cara de quem passava. Naquela área de serviço, não havia muitos guardas, dois ou três por perto, não era preocupante. 

— Não quero saber! Você acha que o barão veio de longe apenas para dizer que não tem mais ostras de sal? Faça-me um favor e seja competente!

Seu rosto indicava uma certa idade, o cabelo era curto e seus olhos emanavam indignação enquanto apontada o dedo no rosto do chef de cozinha mais baixo que não parecia estar recuando com o tom de voz do senhor. Era notável sua espécie de sátiro e Asteris podia jurar que seus chifres pontudos pareciam crescer a medida em que seu rosto se enchia de raiva.

— A não ser que você queira que eu tire ostras da minha bunda, eu não posso fazer nada! — Deu um tapa na mão do homem.

Todos olhavam na direção deles, completamente absortos na previsão de uma briga no meio da cozinha. Asteris grudou as costas na parede, andando de fininho até sair da porta se escondendo entre algumas plantas altas enquanto até mesmo os garçons se distraiam como "show". Tudo o que conseguiu escutar do lado de fora foi:

— Ora, seu...!

E barulhos de socos. Tapou a boca para rir baixo.

Ela não queria admitir para si mesma, mas brigas a faziam rir. Talvez uma resposta a ansiedade? Ou talvez só fosse um pouco sádica.

Agora que tinha chegado àquele patamar, só restava saber o que deveria fazer. Pegou o cartão outra vez, ainda havia aquele número atrás. 16. Quarto 16 talvez?

Entrou em um corredor que levava até o segundo andar, havia algumas camareiras andando de um lado para o outro assim como na cozinha, porém elas não olhavam para nada que não fosse o chão. Sequer perceberam alguém destoante do lugar passar por elas.

Maldições das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora