O fim é apenas um começo

Um novo recomeço

Meses se passaram desde que Draco revisitou a carta de Harry e folheou seu antigo diário, e a atmosfera no Ministério da Magia era tensa naquele dia. Draco estava em uma ala reservada, onde pacientes em estado grave eram atendidos. Ele havia sido convocado às pressas para tratar de um auror ferido em combate, seu trabalho como médico demandando sua habilidade e destreza.

Enquanto se concentrava em administrar os cuidados necessários ao paciente, Draco não pôde deixar de se sentir invadido por memórias do passado. O encontro com Harry naquele dia estava longe de sua mente ocupada, mas quando soube que Harry seria o auror ferido que ele precisaria tratar, uma onda de emoções conflitantes o atingiu.

Quando Harry foi trazido até ele, ferido e abatido, Draco engoliu em seco ao encontrar o olhar familiar. Era difícil reconciliar as lembranças de um passado repleto de conflitos e sentimentos adolescentes. 

Mas ali estavam eles, dois homens adultos diante das circunstâncias da vida, cada um desempenhando seu papel no grande tabuleiro do destino. Draco, o médico dedicado, e Harry, o auror corajoso.

Enquanto Draco trabalhava para estabilizar o estado de Harry, as lembranças do passado se misturavam com a urgência do momento presente. Ele recordava das noites na torre de astronomia, onde eles se encontravam secretamente sob o manto estrelado do céu, compartilhando confidências e beijos urgentes. 

Aquelas noites eram seus refúgios particulares, onde as pressões e as expectativas do mundo exterior desapareciam, deixando apenas eles dois, envoltos na tranquilidade da noite. Draco revivia cada sorriso trocado, cada toque gentil, cada instante roubado longe dos olhares alheios.

Eram momentos preciosos, cheios de uma ternura silenciosa e de uma conexão que transcendia todas as suas diferenças. Nos intervalos das lembranças das noites de amassos na torre de astronomia, vinham à mente também as fugas escondidas durante as noites após o toque de recolher em Hogwarts, quando eles desafiavam as regras para se verem novamente.

Nesses momentos clandestinos, Draco e Harry encontravam liberdade e intimidade, deixando para trás os pesos de seus sobrenomes e as expectativas de suas casas. Era como se o mundo ao seu redor desaparecesse, deixando apenas eles dois, juntos na escuridão da noite, compartilhando sonhos, medos e desejos mais profundos.

Enquanto ele trabalhava freneticamente para salvar Harry, Draco se agarrou às lembranças desses momentos preciosos, encontrando nelas uma centelha de esperança e conforto.

Enquanto ele suturava os ferimentos de Harry, Draco não podia deixar de se lembrar da sensação da mão de Harry na sua, dos sussurros trocados ao pé do ouvido, das promessas feitas sob o manto estrelado. Eram memórias que haviam resistido ao teste do tempo, permanecendo vívidas e inabaláveis em meio às turbulências da vida.

A conexão entre eles, tão forte e palpável naqueles momentos secretos, parecia agora ecoar na sala de tratamento do Ministério da Magia. Era como se o universo estivesse conspirando para reunir duas almas afastadas pelo destino, dando-lhes uma segunda chance de se reconectar e redescobrir o que haviam perdido.

Harry começou a despertar, piscando repetidas vezes, tentando reunir suas forças.

-Dor - Murmurou ele, sua voz rouca e fraca - Onde... onde estou?

-Você está no hospital do Ministério - Respondeu Draco, movendo-se mais perto da cama de Harry - Você foi ferido durante a missão. Mas você vai ficar bem, estamos cuidando de você.

Harry assentiu fracamente, absorvendo as palavras de Draco enquanto tentava processar o que havia acontecido. Ele se lembrou da batalha, dos rostos familiares dos colegas auror lutando ao seu lado, e do momento em que foi atingido pelo feitiço que o deixou inconsciente.

Uma sensação de gratidão inundou Harry quando ele percebeu que estava vivo, apesar dos perigos que enfrentara. E, olhando para Draco ao seu lado, ele sentiu uma onda de calor se espalhar por seu peito, uma lembrança do vínculo especial que compartilhavam desde os dias de Hogwarts.

-Senti sua falta - Sussurrou Harry, para que apenas Draco pudesse escutar. Seu coração batendo a mil.

Draco sentiu um nó se formar em sua garganta ao ouvir as palavras de Harry. Era como se um peso tivesse sido levantado de seus ombros, e ele mal conseguia conter a emoção que ameaçava transbordar.

Com um gesto hesitante, Draco colocou a mão sobre a de Harry, um toque suave e reconfortante. Era como se aquele simples contato fosse suficiente para transmitir tudo o que ele queria dizer.

- Eu também senti sua falta - respondeu Draco, sua voz suave e carregada de sinceridade. - Mais do que você imagina.

Os olhos de Harry encontraram os de Draco, e por um momento, o tempo pareceu desacelerar ao seu redor. Nos olhares que trocaram, havia uma compreensão mútua, uma conexão que transcendia as palavras e os anos que os separaram.

E naquele instante, Draco soube que algo havia mudado entre eles. As lembranças do passado haviam se fundido com o presente, criando uma nova perspectiva sobre o que poderiam significar um para o outro.

Sob o crepúsculo que cedia lugar à noite, Draco e Harry compartilharam um momento de renovação e esperança, conscientes de que uma nova jornada se avizinhava. Ao se despedirem, sabiam que não era um adeus, mas sim um até logo, com a certeza de que seus destinos estavam entrelaçados.