Quarto 508

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  Hoje me vejo aqui, sentada nessa quarto de hotel escuro e todo branco. Reparo a carência de manutenção e aprecio o silencio, exceto pelo barulho da obra ao lado. Se você pensou que algo tivesse acontecido comigo, pensou errado. Me encontro cuidando de uma paciente que nunca vi na vida, sei apenas seu nome e as doenças que lhe trouxeram aqui. 

  Reparo o quanto a vida é curta e me faz pensar o que estou fazendo da minha, a que ponto cheguei e até onde vou assim. Claro, minha situação não é ruim, tenho minha casa, meu carro, uma esposa linda e também acabamos de comprar uma moto. Lá se vão mais 4 anos de escravidão. 

  Olhar a situação dessas pessoas e perceber que estão na "finaleira" de suas vida me faz pensar se realmente elas estão prontas para o fim. Se fizeram aquela viagem que tanto planejaram, se jantaram com suas famílias na noite passada ou até se comeram a sobremesa depois do almoço. Eu realmente não entendo as pessoas que deixam de comer o que gostam para seguir um padrão definido pela sociedade. Padrão este que ninguém sabe ao certo qual é.

  Me imagino como seria estar deitada nessa cama sem poder tomar um banho decente, implorando por atenção e rezando para o médico fazer uma visita de dois minutos e decidir meu tratamento pela opinião de residentes que mal sabem o que estão fazendo. Não estou os julgando por irresponsáveis, apenas comentando a visão do paciente que só quer ter certeza do que está acontecendo. 

  Penso tudo que já vivi, que não me arrependo de ter feito mas me arrependo do que não foi feito. Estranho né? Um pouco confuso mas sim. Meu sonho sempre foi conhecer o mundo, ter um emprego no qual eu pudesse morar em um ônibus e viajar por aí conhecendo o Brasil e os países envolta. Meu quintal seria as praias e meu coração seria meu lar. Quando envelhece-se iria comprar uma casa de frente para o mar e descansar lá. 

  Percebo que aqui é apenas o último degrau da escada, uma forma de percebemos o que foi feito até aqui e como seguiremos. Claro que em alguns casos seria tarde demais, talvez no final da escada haja um céu incrível com nuvens fofinhas e um por do sol magnifico, ou apenas um abismo no qual nunca acabará. Sendo assim a escolha de viver ou sobreviver é nos dada ao acordar. 



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⏰ Last updated: Mar 29 ⏰

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