Capítulo 1: De volta ao lar (Skye)

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Estava em meio a imensidão azul, límpida como um céu sem nuvens. Os raios de sol desenhavam na água cristalina, os corais de cores vivas preenchiam minha visão, assim como rochas cinzentas e conchas de variados tons perolados, formas e tamanhos. Só conseguia ouvir os sons dos meus movimentos embaixo d'água e percebi que não fazia diferença nenhuma prender a respiração ou não, soltando as bolhas de ar em minha boca, que vi subirem até a superfície. Eu conseguia, de alguma forma, respirar, como se tivesse guelras.

Percebi que estava sendo observada e me virei, me deparando com um belo (e gigantesco) peixe azul, de listras e manchas alaranjadas e douradas, como se fossem flamas ao redor do animal. Ele me olhava profundamente com seus olhos negros, como se me conhecesse. Após me encarar pelo que pareceram longos minutos, o peixe se virou e começou a nadar em direção a uma caverna, fazendo menção que eu o seguisse. Me sentia um tanto estranha naquela situação no mínimo bizarra. Peixes não raciocinam, não falam, com exceção dos homens-peixe...pelo que eu sabia. No entanto, aquele ser parecia saber exatamente o que estava fazendo, me guiando decididamente.

Ao encontrarmos a caverna, feita de rochas, cinzas como as demais pedras espalhadas pelo ambiente e decorada com uma cortina de algas e musgos em sua entrada, cuja luz só podia acessar alguns centímetros, sendo o resto tomado por uma misteriosa escuridão. Não contive a minha curiosidade, porém, à medida que o peixe avançava, adentrando a caverna e desaparecia no breu, algo em meu estômago me dizia que entrar ali só para satisfazer a minha curiosidade não seria uma boa ideia. Sempre fui muito teimosa, é verdade, e não deixaria que o medo me impedisse de descobrir para onde aquele peixe estava me atraindo e o que aquela caverna poderia esconder. Aos poucos, sentia que estava completamente perdida. Nenhum sinal daquele peixe, nenhum sinal da entrada da caverna. Estaria eu perdida em um labirinto no fundo do mar? Ou será que estava na toca de algum ser que facilmente me engoliria por inteiro? Aquilo só podia ser um sonho, não é mesmo? Tentei afirmar diversas vezes que sim, só para não deixar que aquele desconforto me tomasse. E então, avistei algo. Uma luz fraca, azulada, não muito distante de onde eu estava. Nadei até onde conseguia, me aproximando mais daquela luz. Um cômodo brilhante, cravejado de pedras preciosas, envolvia um pequeno altar de pedra. Em cima da pedra mais alta, um colar com um grande pingente em formato de lágrima, lindamente desenhado no bronze, continha em seu centro uma safira azul, brilhante. A joia da minha família, era a "lágrima do Oceano". Com um brilho cada vez mais intenso, a joia quase me cegava. Atrás do altar, o mesmo peixe que eu seguia me apareceu novamente, abrindo levemente a boca.

"Skye..." - ouvi o que parecia ser a voz da minha mãe ecoar naquele cômodo, como se saísse da boca daquele peixe.

"Mãe!" - eu disse, mas não consegui ouvir minha voz, podendo somente ver as bolhas de ar que saíam da minha boca.

"Bem-vinda de volta, Skye" - ouvi sua voz, distante, ainda ecoando em minha cabeça.

- Skye! - ouvi Coral me chacoalhando. - Acorda! Chegamos!

Abri lentamente os olhos, sendo interrompida por uma luz forte e uma brisa quente de verão. Era um sonho, afinal.

- Bem-vinda de volta! - Coral sorriu para mim, como sempre, radiante. Seus longos cabelos crespos eram negros como a caverna que sonhara, os olhos eram de um tom de âmbar que combinava com seu tom de pele escuro e suas roupas, costumeiramente amarelas.

- Chegamos rápido... - comentei, bocejando, ainda tentando me acostumar com a luz solar.

- Na verdade, você que dormiu bastante...e bem pesado. - riu Nerissa, fazendo Zafrina, Coral e Kitty a acompanharem.

- Estava sonhando com a sua mãe de novo? - perguntou minha capitã, Marina.

- Falei dormindo, não é? - perguntei, já sabendo a resposta. Todas assentiram. Desde a notícia de que meus pais morreram chegou até nós com urgência, através de um papiro e uma gaivota de pulseira dourada no tornozelo (símbolo da Ilha Cristalis, de onde eu vim), não passei uma noite sem ter pesadelos e falar dormindo, especialmente chamando pela minha mãe. Assim que recebi a mensagem, resolvi que estava mais do que na hora de voltar para a minha terra natal, ainda que isso custasse a minha vida como pirata.

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⏰ Última atualização: Mar 19 ⏰

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