Primeiro Capítulo - Inverno

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Yuichi Yoshida era um jovem adulto de 22 anos que havia passado por um dos momentos mais traumáticos de sua vida. Morava em Shimokitazawa, Tóquio, em um quarto minúsculo de cinco metros quadrados. Depois de perder seu emprego como barman, ele vendeu boa parte de seus bens para pagar dívidas e se adaptar às mudanças.

A janela estava aberta e ele fumava mais um cigarro, olhando para a tela de seu celular modesto.

Yuichi se viu perante uma situação desesperadora, sem emprego e no meio de Tóquio, lutando para pagar as poucas despesas que tinha. A pressão das correspondências enviadas todos os meses pelos seus pais, que tinham a certeza que Yuichi estava concluindo seu último ano da faculdade de Engenharia, o deixavam aflito. Fazendo com que mentisse para eles, dizendo que estava tudo bem, que em breve se formaria e finalmente poderia visitá-los.

A grande verdade é que, Yuichi havia trancado a sua faculdade assim que foi despedido. Ele não conseguiria arcar com os gastos e precisava procurar um novo emprego, era um desafio, mas tudo se tornou ainda mais difícil após o término do seu relacionamento.

Assim, o celular era o único companheiro de Yuichi, a quem ele recorria para desabafar. Suas digitais dedilhavam uma mensagem de dor e luto, de tudo que ele havia sentido desde o término do seu relacionamento com Caito, seu ex-parceiro. O celular era seu contato com o mundo, e o sentimento de desamparo e solidão havia dominado sua vida desde então.

Após enviar a mensagem, ele desliga o seu aparelho e fica à espreita, esperando a resposta do seu interlocutor. Com o coração acelerado e a respiração ofegante, ele se sente como se estivesse prestes a explodir, e espera que a mensagem seja bem recebida.

Em meio aos pensamentos, Yuichi, decidiu se levantar, colocar um dos seus pares de tênis velhos e sair para andar. Sentia que precisava de um pouco de ar fresco para acalmar os ânimos. Enquanto caminhava pelas ruas de Shimokitazawa, Yuichi não conseguia parar de se perder em seus devaneios.

Ele nunca tinha se sentido tão desanimado, tão sem esperança. Os pensamentos daquela noite se abatiam sobre ele, o fazendo se sentir em um pântano sem fim. Ele precisava de ajuda, mas não sabia como pedi-lá, ou se sequer realmente queria. É como se ele estivesse vivendo em um looping eterno de auto-sabotagem e falta de propósito. A solidão e a desilusão com a vida eram uma combinação mortal, que o deixava a um passo de desabar.

Em meio àquela neblina mental, ele podia ouvir sua voz distorcida e distante, dizendo que tudo estava sob controle, que ele era o único responsável pela sua vida, e que deveria assumir as rédeas e parar de culpar outros. Envolto a essa desordem, ele podia sentir uma alteração no seu estado de consciência.

A confusão e o descontentamento tomaram conta de seu corpo, e ele não sabia mais quem era. A imagem dele, sua identidade, sua vida, suas escolhas, tudo parecia fragmentado. E, no meio de todo esse caos, ele sentia como se estivesse perdendo o controle não apenas sobre seu futuro, mas também sobre sua própria mente [...]

Depois de horas caminhando sem um rumo claro, Yuichi acabou encontrando um bar na outra ponta da cidade. Ele sentou-se em uma mesa, encomendou uma cerveja e começou a observar as pessoas ao redor. Pessoas riam e conversavam, enquanto outras bebiam sozinhas. Yuichi, embora desanimado, se sentia no dever de ser grato por poder estar ali, respirando o ar fresco da noite.

Quando a garçonete finalmente trouxe sua bebida, ele agradeceu, pensando na sua dura rotina de trabalho em um lugar assim, Yuichi imaginou como seria a vida daquela mulher, ela trabalhava até tarde da noite, em um lugar decadente, onde homens velhos faziam piadas asquerosas e assédio constante. Dormindo pouco e recebendo pouco, para ele, viver assim era quase um castigo. Mas Yuichi percebeu que a vida dela não estava tão distante da sua própria situação. Ele era apenas mais um no mesmo ambiente desolador.

Quatro Estações Where stories live. Discover now