024. C(ensored) Temporal

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Ah, mas vou contar pra vocês, viu: eu gostaria muito que, no momento em que entramos no seu quarto, a gente tivesse extrapolado o sinal vermelho e feito coisas impróprias para menores de dezoito anos, mas infelizmente não foi esse o desfecho da história. Estávamos quase chegando nesse estágio quando o meu namorado se deu falta da sua guitarra Yamaha pendurada atrás da porta do seu quarto. Não foi difícil deduzir quem a havia pegado, visto que para ele se dar falta do instrumento, precisou ouvir uma música acústica vindo da varanda de sua casa. Assim sendo, o Alberto se vestiu novamente e foi lá fora buscar o que era seu. Passados uns dois minutos desde que ele tinha saído e até então a música não tinha parado de tocar, eu não aguentei me segurar e me vesti para ir atrás.

E, gente, eu não me arrependi nem por um segundo dessa minha decisão. Ao chegar na porta da varanda dos fundos da casa, eu acabei me deparando com uma das cenas mais fofas que já vi na vida: a Ayumi sentada mais à frente, no chão, e muito próxima da grade que delimita a área do cômodo em que nos encontrávamos. Era ela quem havia pegado a guitarra do Bento, e naquele momento, estava tocando e cantando uma música que seria lançada anos depois do ano em que nos encontrávamos: "Garoto Errado", da Manu Gavassi. Um pouco atrás de si estava o meu namorado, também sentado no chão, apenas a observando tocar — e julgo eu que a minha caçula não tinha percebido a presença do rapaz no mesmo cômodo ali, porque se houvesse percebido, ela com certeza não estaria cantando. O Bento sentado atrás dela, prestando atenção em cada mínimo acorde reproduzido pela menina e tentando fazer o mínimo de barulho possível para não a atrapalhar. Porém, conhecendo o namorado que eu tinha, eu sabia que o silêncio dele não duraria muito mais até o momento em que ela terminasse a música, que foi exatamente o que rolou.

— Quem é que está conseguindo te deixar sentimental?

A frase do boy deve ter soado como uma sirene para a minha irmã, já que no momento em que o ouviu, ela se virou para trás assustada e com a destra sobre o seu peito.

— Você quer me matar, é, seu cretino?

Noventa e nove por cento dos xingamentos deferidos contra o Alberto chegavam aos ouvidos dele como se fossem elogios. Em um caso típico como este, ao ser chamado de "cretino", ele sorriu para a minha caçula. Diante da reação alheia, ela revirou os olhos antes de chegar um pouco para o lado e fazer um gesto o convidando para se sentar ao seu lado — um gesto que foi obedecido instantaneamente por ele. Assim que o rapaz se aconchegou, a minha caçula aproveitou a sua companhia para deitar a cabeça sobre o ombro alheio. Ver esse gesto dela fez com que eu automaticamente pensasse que as suas próximas palavras provavelmente não seriam muito típicas.

— Não ironicamente, você me encontrou em um momento vulnerável — é, eu conheço a Ayumi como a palma da minha mão, é claro que eu iria estar certa sobre a dedução anterior. Na linguagem dela, falar isso é o mesmo que admitir que está passando por conflitos internos que quer tentar se livrar deles sozinha.

— Eu não imaginaria isso por causa de uma música — Bento estava se referindo à música que ela estava cantando antes. — Mas pelo visto você está incomodada. Quer falar sobre?

Antes de responder à pergunta dele, ela respirou fundo.

— Uns dias atrás eu fiquei com uma pessoa que claramente não queria nada comigo — isso foi dito por ela em tom de frustração.

— E você queria alguma coisa além de só ficar?

— Claro! Queria a mínima consideração, pelo menos — agora ela ficou enraivada, pelo o seu tom mais alto do que o anterior. — Ele me beijou para fazer ciúmes na ex, que estava no mesmo lugar que a gente.

Meus queridos leitores, eu juro pra vocês que ouvir isso fez eu ficar com raiva. Aposto que a raiva que a minha irmã estava sentindo naquele momento em que contava a situação para o Bento não era nem sequer pária para a minha. Como um cara — como revelado pelo pronome usado por ela — ousou fazer isso com a minha irmã? Logo a minha irmã, a minha caçulinha! Por acaso ele era algum tipo de demente? Porque idiota eu já sabia que era!

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Where stories live. Discover now