Capítulo 1

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Antes mesmo que o despertador tocasse com a sua cacofonia polifônica, Caroline arregalou os olhos, depois de ter um pesadelo de arrancar o fôlego

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Antes mesmo que o despertador tocasse com a sua cacofonia polifônica, Caroline arregalou os olhos, depois de ter um pesadelo de arrancar o fôlego. A menina se sentou em sua cama simples de sucupira e respirou fundo, tentando voltar para a realidade, mas a verdade era que ela precisaria de um bom banho antes de sair para fazer as entregas de salgados congelados que sua mãe vendia. A menina havia acordado suando frio, depois de sonhar com muito fogo. E, para piorar, Victor estava sendo consumido por aquele fogo imenso e parecia chamar por seu nome, mas nada poderia fazer para salvá-lo daquele terror.

A moça de longos cabelos castanhos respirou fundo algumas vezes, antes de retornar para a realidade. Ela então olhou para o celular para conferir se não estava mesmo atrasada, mas apesar de ainda não passar de nove horas da manhã, o visor de seu Nokia 1100 estava piscando e o nome que aparecia em seu visor verde era o de Victor; o garoto estranho que ela havia conhecido na internet e que em menos de um mês havia virado o seu melhor amigo.

Ao ver o pedido de socorro de Victor naquela sala de bate-papo, Caroline decidiu que não poderia ignorar, pois ela mesma já havia pensado em acabar com a própria vida, mas também sabia que não queria verdadeiramente deixar de viver, mas sim, acabar com a dor que açoitava os seus dias. Todavia, se ela não pudesse fazer sumir os seus problemas, quem sabe não pudesse ajudar aquele garoto que pedia socorro atrás da tela de tubo do seu PC antigo?!

Incrivelmente, depois desta decisão eles passaram todas as noites se comunicando através do MSN, e em pouquíssimo tempo descobriram que tinham uma conexão muito rara: haviam nascido exatamente no mesmo dia e segundo, apenas separados pela distância física.

E aquela coincidência estranha os uniu de tal forma, que já haviam trocado telefone e já haviam até mesmo se comunicado pela webcam, depois de Caroline convencer a sua mãe a lhe deixar usar a internet banda larga de uma Lan House de seu bairro. Afinal, a sua internet discada só poderia ser usada de madrugada.

Contudo, naquela manhã ela havia sonhado que o seu amigo morria de maneira trágica, então resolveu atender a sua ligação matinal, na intenção de descobrir se aquele pesadelo queria lhe dizer algo, ou se não passava de uma grande besteira.

Caroline respirou fundo e então atendeu a ligação de Victor, com o coração acelerado:

— Bom dia, Victor — ela disse calmamente, mesmo se sentindo muito nervosa. — Aconteceu alguma coisa?

Ela acreditava que ele só poderia ter algo novo para lhe dizer, pois haviam conversado até altas horas na noite anterior, sem que Victor lhe dissesse que tinha uma novidade.

Bom dia, Carolzinha! — ele disse com extremo bom humor, mostrando a ela que estava eufórico e ansioso. — Eu sei que você tem que trabalhar agora, mas preciso te dizer que minha avó Charlotte conseguiu convencer os meus pais a me deixarem viajar para a casa dela em Porto Alegre... E você não vai acreditar, mas ela me disse que me levará até São Paulo para que eu possa conhecê-la, Carolzinha! — Victor deu uma gargalhada alta do outro lado do telefone, mas Caroline sentiu as suas vistas se escurecendo e, de repente, ela sentiu como se algo muito fosse acontecer. — O nosso pouso no Aeroporto de Congonhas se dará no dia dezessete de julho... Você está disponível para me ver no dia dezoito?

Caroline ficou muda, enquanto lágrimas grossas escorreram de seus olhos cor de chocolate. Ela estava desesperada e agoniada, mas não sabia explicar o motivo, então tudo o que conseguiu fazer foi soluçar bem alto, em um choro convulsivo , pois era como se um filme holográfico passasse bem diante dos seus olhos, onde ela só conseguia enxergar e sentir o cheiro de um fogo bem espesso e abrasador.

O que foi, Carol? — Victor perguntou com preocupação, do outro lado da linha. — Não está feliz?

— Por favor, não venha, Victor! — ela berrou, sem conseguir se explicar. — Em hipótese alguma venha para São Paulo!

Por que não? — ele perguntou, murchando instantaneamente. — Não quer me conhecer pessoalmente?

— Não é nada disso, tá legal? — ela respondeu, ponderando se deveria dizer a verdade, mas no final o medo de parecer louca a venceu. — Mas se se importa comigo, apenas não venha!

O que tá acontecendo, Carol? — Victor andava de um lado para o outro, tentando entender. — É o seu pai? Ou então aquele seu ex-namorado maluco? Ou será que é a sua avó insuportável? Me diga logo!

— Não venha, pois não vou te receber! — ela disse de maneira enérgica, e então desligou a chamada, caindo no choro logo em seguida.

Contudo, para piorar a situação de Caroline, a sua mãe entrou em seu quarto vestindo o avental desbotado que usava para cozinhar, enquanto a encarava com a expressão de poucos amigos.

— Você ainda não tá pronta, Caroline? — ela perguntou, não gostando nada do atraso da filha. — Eu te disse que ficar conversando na internet até tarde da noite lhe faria perder a hora... Filha, a dona Madalena está esperando os salgados para antes do almoço, então se apresse!

A menina engoliu a angústia e as lágrimas que insistiam em cair e se aprontou para ir trabalhar, pois a sua mãe já havia lhe dito que pessoas pobres não tinham tempo para sofrer. Ela então tomou um banho bem rápido e engoliu o café da manhã, todavia, antes de sair pedalando pelas ruas de São Paulo em sua bicicleta de segunda mão, Caroline resolveu mandar um SMS para Victor.

Ela sabia que depois talvez não tivesse muito tempo, pois naquele dia teria que fazer muitas entregas e, provavelmente, só pararia ao entardecer, pois depois que se mudaram para a casa da avó por causa do pai alcoólatra, Caroline já não podia mais curtir as suas férias, mas apenas trabalhar a fim de um dia se mudarem da casa da matriarca da família, que era uma megera.

Ela sabia que depois talvez não tivesse muito tempo, pois naquele dia teria que fazer muitas entregas e, provavelmente, só pararia ao entardecer, pois depois que se mudaram para a casa da avó por causa do pai alcoólatra, Caroline já não podia mais...

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Ela sabia que depois de enviar tal mensagem, a amizade que mal havia começado poderia ficar estremecida, mas Caroline sentia que isso ainda era melhor do que ver o fogo de seus pesadelos se concretizando.

A moça gostava muito da amizade de Victor e não queria magoar o garoto, mas preferia essa opção do que ver o pesadelo daquela manhã se concretizando na vida do rapaz.

Contudo, ela ainda nem imaginava que apesar da sua recusa conseguir salvar a vida de Victor e de sua avó Charlotte, ela jamais poderia parar os eventos que marcariam o país naquele dia dezessete de julho, e que, infelizmente, terminariam em uma grande tragédia.

Contudo, ela ainda nem imaginava que apesar da sua recusa conseguir salvar a vida de Victor e de sua avó Charlotte, ela jamais poderia parar os eventos que marcariam o país naquele dia dezessete de julho, e que, infelizmente, terminariam em uma gr...

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