PRÓLOGO

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Descobri essa floricultura há cerca de uma semana, e desde então tenho frequentado regularmente. Ela fica próxima à minha casa e no caminho da escola, o que acaba me poupando bastante tempo.

Ao entrar no pequeno estabelecimento, observo a grande variedade de cores em todos os lugares, desde as prateleiras com pequenas mudas coloridas até os vários tipos de arranjos e jarros que ocupam as mesas. Ao fundo, é possível ver um grande balcão de madeira onde os atendentes finalizam os pedidos. No entanto, são as duas majestosas janelas, refletindo sobre o balcão, que roubam a cena. As grandes fenestras adornadas com pequenas flores roxas trazem a luz natural para o local, dando o último toque para a perfeição do lugar.

Me aproximo de uma das mesas e observo um jarro médio com alguns botões de gardenias, não contenho o impulso e acabo me aproximando para sentir o aroma tão familiar das gardenias.

"Por que as gardenias cheiram tão bem? Deve ser por isso que mamãe..." Meus pensamentos se dissipam quando escuto uma voz.

- Senhorita, precisamos nos apressar. - diz Marcos, em um tom preocupado.

Observo o homem de pele morena com uma expressão apreensiva. Seus cabelos castanhos grisalhos denunciam sua experiência com o tempo, seu corpo robusto, fruto de anos de treinamento, intimida aqueles que tentam se aproximar. Marcos trabalha para minha família desde sempre, e arrisco dizer que já passei mais tempo com ele do que com meu próprio pai. Seja como meu segurança ou motorista, Marcos está sempre ao meu lado em eventos ou até mesmo para me acompanhar em uma floricultura como agora.

Decido, então, apressar-me para tranquilizá-lo, assentindo com a cabeça em sua direção e dirigindo-me à atendente atras do balcão.

Sinto meu coração acelerar e minhas mãos suarem quando encontro o olhar da atendente. Esta é a segunda vez que me sinto assim em minha vida. A primeira foi semana passada quando entrei pela primeira vez nesta floricultura. Não sei explicar, mas tenho sentido coisas estranhas quando os olhos castanhos me encaram. Cheguei a pensar em duas opções. A mais lógica é que eu estava doente. Contudo, assim que saí da loja, esse sentimento evaporou e agora tenho certeza de que não estou doente. Percebo que só me sinto assim enquanto os olhos castanhos me observam, o que me leva à minha segunda opção: ela deve ser algum tipo de bruxa e não gosta de mim, então jogou um feitiço para que toda vez que eu me aproximar dela eu me sinta estranha.

"Que idiotice! Bruxas nos filmes têm verrugas, são velhas e feias. Ela não tem nada dessas coisas." - penso, enquanto caminho em sua direção.

- Olá, quero encomendar um buquê. - comentei, encarando a dona das íris castanhas. - Bom dia! As gardenias, não é? - ela respondeu de forma animada. - Como sabe que são gardenias? - arqueei uma sobrancelha em confusão.

"Ué, como ela sabia? É uma bruxa mesmo."

- Foi apenas um chute, você pediu isso da última vez. - seu tom de voz soou brincalhão. - Claro, verdade, tem razão. - senti minhas orelhas esquentando. - Bom..  eu vou montar o seu buquê, não deve demorar muito. Sinta-se à vontade para explorar a loja, ou, se preferir, você pode esperar ali, tudo bem? - sorria enquanto apontava para algumas cadeiras encostadas na parede.

Apenas concordei com um aceno de cabeça e me afastei um pouco do balcão, deixando ela livre para fazer seu trabalho e meu cérebro livre para pensar coisas de extrema importância.

"Por que ela sorri tanto? É só para mostrar aquelas covinhas bonitinhas? E aquele cabelo... tão enorme, deve dar um trabalhão. Hum... Mas será que é pintado? Não pode ser natural, é tão preto que chega a brilhar e combina tão bem com a pele clara dela. Tudo nela se encaixa perfeitamente... Será que existem bruxas bonitas? Ah, eu vou lembrar de pesquisar isso no Google mais tarde."

- Garota das gardenias? -

Me virei na direção da voz que interrompeu meus pensamentos, e lá estava ela, segurando um buquê de gardenias. Naquele momento, as duas janelas já não eram as principais atrações. Atrás do balcão, com o avental manchado de terra, arrisco dizer que era a pessoa mais bonita que já vi. A luz do sol que entrava pelas grandes janelas parecia pálida em comparação ao brilho do seu sorriso. Os enormes buquês ao redor dela não pareciam nem um pouco mais chamativos do que seus olhos.

"Talvez eu deva vir mais nessa floricultura"

A GAROTA DAS GARDENIAS Where stories live. Discover now