Som

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Nunca confiei em minhas próprias palavras. Penso que se eu escrevesse no papel, com minha caligrafia e com a sensação do grafite tocando a celulose da página tipo pólen, as coisas se sairíam melhores, encontraria os sinônimos e antônimos certos. Por outras vezes acho que pensaria em tantas coisas na hora de escrever que o trabalho lento da escrita me faria chegar em um texto diferente daquele pensando antes de abrir o caderno.

Hoje, sentada no banco da praia enquanto lutava contra minha síndrome do pânico, li que o silêncio muitas vezes são as respostas para conselhos que não pedimos e, olhando para as folhas da árvore acima de mim, entendi o quanto dos meus silêncios me deram colo.

Talvez eu deva escrever nas notas do celular, ou parar de pensar tanto e simplesmente escrever — nas paredes da casa, na louça da pia, no vapor do vidro do box — seja então a solução. Por que, até que ponto minhas palavras escritas fazem barulho? Ou será isso tudo apenas o meu silêncio falando calado?

Tenho vontade de dar berro a todos os meus silêncios consilários, que eles me tragam a voz, que dele nasça um corpo e consciência, e que só dessa vez eu não precise criar uma ausência de sons para me sentir minha.

Queria um ruído extrínseco e manifesto que me tirasse dessa cacofonia.

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