Jullian Lopez
Diferente do que eu pensei os dias se passaram rápidos e eu pude me acostumar melhor com minha nova vida. Bella e Matteo sempre estão dispostos a me ensinar e Alexandre está sempre na minha cola para que possamos explorar a cidade, mas ainda não tive essa oportunidade. Na verdade, decidi me focar mais em aprender ao máximo tudo que preciso para ajudar Bella com a casa e não falhar com a chance que o senhor Mazza me deu. E por falar nele, Lorenzo se mantem distante como sempre. Ele é educado e me trata com total respeito, deixando claro que não sou apenas um simples empregado, mas é isso. Nos demais momentos me sinto como uma doença terrível, a qual ele está muito empenhado em fugir e não consigo entender o porquê. A relação dele com Bella e Matteo é incrível, mas eu sou deixado de lado. E esse fato não deveria me incomodar, de verdade, o homem me deu uma chance, um teto e emprego, mas eu sinto como se faltasse algo e isso é tão estranho. Lorenzo não me deve absolutamente nada, mas no meu íntimo estou sempre esperando por algo que venha apenas dele.
— Teve notícias do Brasil? — A pergunta de Alexandre me faz franzir o cenho em questionamento.
— Por que teria?
Estamos no quintal da enorme mansão do senhor Mazza. Fazem exatamente três semanas que estou aqui. Assim como eu, Alexandre conseguiu um emprego e ainda está morando no abrigo até as coisas começarem a fluir em sua vida. De alguma maneira ele conseguiu entrar em contato com Matteo e não sossegou até ser trazido até mim. Desde então nos vemos quase todos os dias e isso fez com que nossa amizade ficasse mais forte.
— Sei lá... não deram nenhuma notícia do homem que se diz seu pai? — Ele pergunta e é automático quando meu peito se aperta e meu estômago se revira.
— Eu espero nunca mais ouvir nada sobre ele — respondo com a voz um pouco falha e puxo o ar com força.
— Desculpa, não quero que reviva coisas ruins. Aliás, como vai com seu patrão gostoso? — Alexandre muda totalmente o assunto e pergunto internamente se ele tirou o dia para me atormentar. É para isso que temos amigos?
— Não tem o que ir, Alexandre. E não está na hora de você ir? O toque de recolher será em breve — desvio de sua pergunta e finjo olhar as horas em meu celular.
— Para, Ju! É nítido seu interesse no homem de máscara, não precisa mentir para mim.
Solto um suspiro e fecho meus olhos, me jogando contra o banco de madeira em que estamos. Por um momento fico em total silêncio, apenas apreciando o final da tarde, o cantar dos pássaros e a brisa que passa ao redor de nós.
— Eu nunca tive um relacionamento, nunca tive a chance de apenas viver como um adolescente e descobrir paixões ou minha sexualidade. Então não posso dizer com clareza se o que eu sinto por ele é interesse romântico ou apenas gratidão. E outra, não sei como ele se identifica e não quero causar um problema com a pessoa que me acolheu tão bem. No fim isso é apenas uma bobagem minha, até porque ninguém se apaixona em apenas alguns dias.
— Você me dá sono, sabia? — Alexandre diz com desdém e revira seus olhos dramaticamente. — Amor é relativo e não está ligado ao tempo, mas sim com a conexão que envolve ambos. Você mesmo disse que nunca teve a chance de viver como alguém comum, por que não tenta agora? Eu não sou o melhor conselheiro do mundo, mas tenho um bom pressentimento sobre essa nova fase. Estamos em uma nova etapa, Jullian, vamos vivê-la ao máximo.
Fico em silêncio diante suas palavras, pois é uma extrema loucura o que sai de sua boca. Respiro fundo e resolvo colocar um fim nessa conversa, mas esqueço de todas as palavras quando vejo o senhor Mazza acabando de entrar em sua mansão. Acompanho o momento em que seu carro estaciona e ele sai do veículo com uma elegância impressionante. Para alguns sua aparência pode parecer sombria, mas para mim é um atrativo. Seu terno preto de três peças o remete a uma época distante, a máscara traz o ar de mistério e suas mãos grandes cobertas pelas luvas me causam um frio no estômago. Deus, o que está acontecendo comigo?
