capítulo único.

4 2 1
                                    

    Chovia naquele planeta sem nome, e os grandiosos 8 estavam dentro da nave, como de costume. Não poderiam investigar o musgo com decência, mas não seria isso que impediria Taiga de realizar seu trabalho. Dentro de seu quarto escuro, apenas a luz do seu computador e a de um abajur refletiam no ambiente. E ela digitava, focada em cumprir com ao menos a meta de hoje.
    Mas...mesmo que se concentrasse, tinha alguma coisa que a tirava do foco. De repente, observava pelo reflexo do holograma que seus peixes ficavam estáticos. E precisava suspirar, e retomar o foco, para que eles também voltassem ao normal. "Merda...", sussurrou. A sombra das suas emoções estava tentando passar sua geleira. Não que fosse novidade, mas em momentos nos quais estava sozinha...
    Elas vinham sempre com mais força. Como uma bomba.
    Taiga cerrou os dentes. Sabia o que todos estariam fazendo, e sabia que eles não se importariam em tê-la por perto.
    — Vai lá. – a sua voz de criança disse, da porta do seu quarto. — Não é tão ruim quanto você colocou na sua cabeça.
    — ...vai embora. – comedida, Taiga sussurrou, se levantando. — Eu disse que não iria. Tenho trabalho a fazer, e muito, por sinal.
    — Mas você nem tá conseguindo fazer. – a voz vinha se aproximando, sorrateira. De canto de olho, viu sua figura de criança analisando aquelas folhas impressas de relatório. — Olha só, tem pouquinhas. E você não vai se desestressar ficando deitada, isso não funciona.
    — Eu já disse que não vou, agora quer fazer o favor de ficar quieta? – ordenou com os dentes cerrados, e a garotinha desapareceu num piscar de olhos. Mas sua voz ainda ecoava. Suave. Despreocupada.
    — Dê uma chance a eles. E a si própria novamente. Não vai ser ruim igual na Federação, eu prometo.

    Passou um bom tempo pensando. Naquele silêncio, onde apenas o chiar da tela vez ou outra soava, Taiga estava imersa no seu mar de preocupações e inseguranças. Sabia que ela tinha razão: ela sendo ela mesma. Sua verdadeira identidade, mas...essa identidade já a machucou tanto.
    O que a garota via nesse grupo que, atualmente, Taiga se negava a ver?

    — Caralho, já é a terceira vez que te vejo engolir uma carta. – Lucien bufou para Bendiks, que se fez de desentendido.
    — Eu nunca comeria uma carta! Ainda mais na sua frente, irmãozinho.
    — Continuem logo o jogo, não apostei no San a toa. Ele TEM que ganhar! – Cam exclamava, balançando os ombros do chinês e quase revelando as cartas dele.
    — AÍ, JÁ DEU! DEIXA EU JOGAR, PORCARIA. – San Xi gritou em resposta, com o rosto quente de raiva.
    Aquela estava sendo uma partida acirrada de burro. Lucien e Chrysan versus Bendiks e San. Simplesmente as piores duplas para jogar um jogo assim. E quem tinha orquestrado tudo, vocês me perguntam?
    — Que showzinho, hein? – Syn riu sádica para Shiro, que acariciava Pom Pom de um dos cantos da sala. A figura misteriosa apenas concordou, com um riso semelhante, mas mais vazio. Lepa'ô também estava próximo, mas contava o dinheiro apostado no jogo, ao mesmo tempo que assistia.
    Na cozinha, Garel cantarolava uma música antiga enquanto lavava a louça. Aqueles garotos se empolgando de novo com os joguinhos de cartas deles; definitivamente, nunca perderia a graça. Seria uma pena se eles se separassem, é claro, mas até lá aproveitaria cada momento.
    Só tinha alguém que a incomodava. Não em um mau sentido, mas era alguém que sequer estava presente, no salão comunal. Garel sabia que ela só precisava de um empurrãozinho a mais, mas...
    Sua parte estava feita. Ao menos tinha feito o convite. Não adiantava pensar tanto nisso assim: caso ela estiver confortável, ela virá.
    E, para sua surpresa, justo quando ia guardar um dos copos, a silhueta azulada surgiu na porta.
    De modo geral, parecia...normal? Exceto pelo leve rubor nas bochechas, e pelos peixes que nadavam apressados. Taiga estava de braços cruzados, olhando fixamente para Garel, que parou de secar o copo.
    Difícil seria descrever com exatidão o que sentia. Talvez precisássemos de mais que todas as palavras bonitas da língua portuguesa, ou de qualquer outra língua da galáxia existente. Mas, sorriu no que eu só poderia dizer que era alívio:
    — Você veio.
    A mulher hesitou um pouco antes de responder. Pareceu encolher-se mais, apertar mais os braços. O que era isso, vergonha? Naquela geleira, estava realmente demonstrando algo na sua frente?
    — ...você chamou. – disse baixo e rápido, soltando um pouco do ar que nem reparou estar preso, e desviava enfim o olhar para todas as direções possíveis, evitando encará-la por muito mais tempo.
    Garel abriu mais aquele sorriso doce, guardando o copo e terminando o serviço ali. Em seguida, deu batidinhas no ombro de Taiga.
    — Vem. Vamos ver os meninos jogando, tá engraçado demais.
    — Ah...okay. Aceito, sim. – e, num clique de botão, a porta da cozinha fechou silenciosa.

olá pessoal, tudo bem?
Lot of Moss! é um projeto de escrita em conjunto com amigos de longa data, e distância, que estamos escrevendo. ainda não temos muito preparado, mas temos esse universo há anos, e esperamos expandí-lo com o tempo, até que vocês o apreciem com o mesmo encanto que nós temos.
é isto! espero que tenham gostado desse aperitivo, e nos vemos na próxima. 🧡

You Came. You Called.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora