O Castelo Assombrado

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   Era pior do que minha imaginação poderia idealizar.

   As trepadeiras estavam presentes em todos os cantos da enorme construção, os portões enferrujados e as pedras dos muros estavam tomadas pelo lodo, cheias de rachaduras.

   Alguns poucos guardas faziam seus turnos rotineiros pelo lugar, certamente ninguém esperava um ladrão invadir uma construção de certa forma abandonada.

   Pelo que me foi explicado pelo senhor Thomas, um velho mordomo que se encarregou de me auxiliar na minha transferência de cargo social e político, o falecido duque deixou sua fortuna no banco real por ter parentesco com o rei.

   Aparentemente, pouco do que ele possuía estava fisicamente no castelo, o que não faz sentido. Aquele homem era um mistério: poucos tinham contato frequente com ele e quase não aparecia publicamente.

   O sol surgia acima da torre central, seria uma visão ainda mais magnífica se a construção estivesse bem conservada. Meu "pai" não contribuiu para a beleza da paisagem.

   Ao me aproximar, os poucos empregados deixados pelo falecido duque se organizaram em duas filas e se curvaram.

   ㅡ Estes são os empregados, não são muitos visto que seu pai não apreciava o contato pessoal. Todavia, os que certamente o senhor mais precisará são: o Sr. Brown, jardineiro ㅡ pelo visto, não era dos melhores ㅡ Sra. Evans, chefe das camareiras, e o Sr. e a Sra. Wilson, de longe os melhores cozinheiros da região. ㅡ os citados fizeram mais uma reverência enquanto os outros permaneceram na mesma posição durante a breve apresentação, como alguém poderia manter uma postura como aquela por um longo período de tempo?!

   Segui atrás do velho mordomo pela escadaria de entrada e pelo resto do caminho. O falecido não deveria ter nenhuma governanta para gestar o lugar, este que se assemelhava a um castelo abandonado. O Sr. Thomas caminhava por todos aqueles corredores com a confiança de quem conhecia o lugar como conhecia seu próprio corpo, seguro de onde estava e para onde ia. Para mim, aqueles cômodos eram os mesmos: todos sem vida alguma. O último quarto a ser visitado era o do duque, agora o meu quarto.

   De longe o melhor quarto, não pelo o que me era oferecido e sim pelo toque de vida que ele possuía. Algumas velharias, canetas tinteiro e potes dos mais variados tipos estavam distribuídas pelas mesas e cômodas, a enorme cama dossel ornada com lençóis no centro traziam um ar de aconchego e combinavam com a poltrona na janela onde se podia apreciar a vista que seria magnífica se não fosse pelo jardim arruinado.

   ㅡ O banho será antes do jantar, às 18h. ㅡ permaneci com os olhos na janela mesmo assim, consegui vê-lo fazer uma reverência e se retirar do quarto silenciosamente pelo reflexo.

   Me permiti explorar o cômodo, abrindo as gavetas de madeira grossa e boa, o tipo de coisa que só vi em gravuras e nas casas mais abastadas. A maior parte do que estava guardado eram papéis antigos de contratos e mapas, instrumentos de pesquisa e para calcular coisas que minha ignorância não me permitia saber. De resto, não havia algo a mais, concluí que os objetos pessoais do duque foram retirados.

   Permanecer no quarto se tornou uma tortura, o tédio era um dos lacaios da Vida, ele gostava de enfadar aqueles que possuem curiosidade. Por este motivo, decidi que sair e andar por entre os corredores era o melhor a se fazer. Ou, pelo menos, era até os primeiros dez minutos que se passaram.

   Quanto mais tentava me encontrar mais me perdia e a pouca quantidade de empregados contribuiu para me desnortear pela construção, se não me tivessem sido apresentados diria que fora abandonada quando o duque veio a falecer.

   Às 18h se aproximavam e o fim da tarde estava cada vez mais certo, assim o velho castelo da família Cohegan se tornava cada vez mais sombrio à medida que o sol dava lugar para a lua e suas fiéis damas de companhia que ornamentavam a noite, o castelo passava de uma estrutura antiga para um cenário de uma história de terror passando pela beleza do fim da tarde que transformava tudo em um conto de fadas. Apesar da sombriedade repentina, porém não inesperada, procurava me encontrar no labirinto medieval que muito se assemelhava a minha vida.

   Passos que não eram os meus foram ouvidos e como qualquer pessoa com um pingo de imaginação perdida em um castelo antigo e no início da noite, imaginei-me perseguido por uma alma sombria, que rondava o castelo procurando o descanso dos merecidos.

   Apesar do receio, não corri ou demonstrei visualmente, seria considerado infantil em demasia. Por isso, procurei me manter indiferente à medida que o desconhecido me alcançava. Estava prestes ter a caixa torácica aberta pelo coração que batia acelerado em minhas costelas quando ouvi:

   ㅡ Perdido, Sr. Cohegan? ㅡ o músculo cardíaco que antes se encontrava em estado de taquicardia agora parecia ter falhado, com o meu [mínimo] conhecimento em medicina, poderia ser um começo de um ataque cardíaco, mal cheguei e já estou indo ao encontro do ignóbil morto! A vida é uma desgraça, como podem ver.

   Ver o velho e carrancudo, como uma casca de árvore, mordomo era pior do que qualquer fantasma, demônio ou vampiro que poderia estar se abrigando nos corredores sombrios, contudo, o jantar era um desejo dos mais estimados por mim neste momento e por este motivo o segui até o lavatório onde dois empregados foram destinados a me auxiliar com o banho, recusei imediatamente, sou plenamente são para realizar uma tarefa como aquela. Eles insistiram, por isso permiti que ajudassem a me vestir para o jantar e logo após para dormir.

   Fui conduzido ao "quarto de jantar", assim descobri que uma das portas do quarto levava a um aposento onde o duque poderia fazer suas refeições em um lugar mais recluso. Na minha opinião, que agora era uma das mais importantes da região, era mais uma das regalias exageradas dos mais abastados, somente para poder mostrar a aqueles que não são ricos quantos quartos e empregados ele pode ter por ser nobre. Nada, em todo mundo, pode ser mais valioso do que uma vida confortável, com uma família amorosa, em uma casa grande o suficiente para todos conviverem com largueza.

   A única coisa que o dinheiro em demasia pode trazer são o Sr. e a Sra. Wilson, jamais havia comido refeição tão saborosa como esta que punha em meus lábios. As carnes, temperos e acompanhamentos eram dos mais finos e de uma leveza que fazia jus à refeição. Quando for passar meu título, certamente os levarei comigo!

   Se estava cansado da pequena "aventura" de hoje? De certo que sim, apesar disto, meu sono foi uma conquista árdua, os dilemas que enfrentei durante a vida retornaram para me afligir durante a noite, como estava acontecendo desde que descobri quem era o meu progenitor, a cinco dias atrás.

   Ele detinha condições plenas de nos manter, mesmo que a distância, mesmo que não nos amasse, e ainda assim, aquele homem que abandonou a mim e a minha mãe, única família que conheci, deixou-a definhar e morrer, ele me deixou às custas da Vida e das suas garras cruéis e sedentas. Por isso, os sonhos doces que talvez um dia, em uma infância distante, eu tivesse permaneceriam em um futuro distante e, quem sabe, inalcançável.


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Gente, mil perdões pela demora! 

Lembram quando falei que seria difícil porque estou de mudança? Ontem fez uma semana que cheguei na casa nova e ela ainda está em uma condição meio insalubre kkkk 

Ontem, montamos os armários, algumas roupas ainda estão fora do lugar, e uma das minha gavetas simplesmente desapareceu, ou seja, uma gaveta inteira de roupa, dobradas, empilhadas na porta do guarda-roupa.

Eu tinha escrito uma estimativa de 600 palavras na semana passada que o wattpad decidiu não salvar e perdi tudo, tive que reescrever as cenas que lembrei e incluí a cena que escrevi no desafio de escrita que me inspirou a escrever esta história (Lali_Williams_Black, lembra? kkk).

Vou novamente tentar manter uma homogenia das postagens (novamente não garanto, afinal, não sou uma desocupada kkk), por isso, aguardem os próximos capítulos.

Beijinhos <3 


Labirinto das AlmasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora