Apesar de tudo, eu ainda vejo mágica

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– E do que se trata? – Margareth ergueu uma sobrancelha, já sem paciência com toda aquela conversa e nada de ensaio.

– Apenas venham comigo. – Pediu tranquilamente e os guiou para o outro lado do salão, deixando Serena com as outras duas princesas.

– Alteza… – Helene também se aproximou de Serena, falando baixo como se fosse dizer algo que não devia – Eu imagino que tenha chegado hoje a Defânia e ainda não sabe…

– Do que está falando?

Greta e Helene se entreolharam.
Era nítido que não se gostavam, mas se tinha algo que conseguia unir pessoas assim era o ódio em comum por outra.

E essa força fazia até duas rivais virarem amigas.

–  O Duque Vallière é um demônio. – Greta sussurrou – Existe um boato que o antigo rei traiu a rainha com uma bruxa que fazia feitiços com magia negra.

– Pelo que ouvi, ela era chamada de “esposa do diabo”. – Helene completou – A corte diz até mesmo que o Duque Vallière é, na verdade, filho do diabo e não do antigo rei. Por isso ele é um demônio que veio causar o caos no palácio em busca de vingança pela sua mãe ter sido abandonada pelo rei depois que dormiu com ela.

– É uma situação até um pouco irônica, não acha, princesa? Um irmão anjo e um irmão demônio.

Serena não sabia a exata expressão que estava fazendo, mas soube que não pôde controlá-la.
Suas duas sobrancelhas estavam arqueadas e provavelmente estava encarando as duas como se fossem malucas.
E naquele momento, considerou que elas, a corte e todas as pessoas daquele palácio realmente carecessem de sanidade mental.

Eles preferiam dizer que Damian era um demônio a admitirem que o odiavam apenas por ele ser um filho ilegítimo.

Ela não sabia se a mãe dele realmente tinha algum envolvimento com bruxaria, mas duvidava muitíssimo que Damian fosse um ser sobrenatural do mal em busca de vingança.
E se fosse, já teria se livrado delas na primeira oportunidade.

Serena mordeu o lábio inferior inconscientemente enquanto uma raiva desconhecida subia pelo seu corpo.

Tudo aquilo era absurdo.
Damian não era perfeito, mas era apenas um jovem órfão de dezenove anos que tinha apenas um meio irmão no mundo.
E Serena o entendia de certa forma.
Ela tinha uma família unida, com pais e irmãos que dariam a vida por ela. Mas Serena sempre fora a princesa esquisita que a corte fazia questão de compará-la com a irmã mais velha.

Catarina era mais que bonita, era esplendidamente linda.
E hoje, no auge de seus trinta anos, ainda era referência de beleza na Europa.
Ela era mais alta, mais engraçada e mais carismática.
Era uma ótima dançarina, uma cantora excepcional e uma boa instrumentista.
Sabia falar sobre qualquer assunto político, tomava decisões rápidas, era corajosa e tinha um charme natural avassalador.
E mesmo também odiando bailes quando era mais jovem, soube lidar bem com eles e agora era o centro das atenções em todos.
E para fechar com chave de ouro, Catarina seria a próxima governante da Grã-Bretanha.

No entanto, por mais extraordinária que Catarina fosse, Serena a amava demais para sentir qualquer inveja dela. Na verdade, sentia até um pouco de pena, porque por baixo de toda aquela perfeição, existia uma mulher que teve que crescer rápido demais para assumir um fardo muito pesado.
E vendo aquilo, ela sempre se perguntou se podia fazer qualquer coisa para reduzir um pouco aquele peso. Mas ela não tinha poder suficiente para isso.
E por isso ajudava e resolvia pequenas situações, fosse confusões e problemas com criadas, conflitos mínimos na corte ou algum vestido enviado errado para a irmã, e mesmo que fosse pouco, ela fazia com amor.

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