Numa ocasião, discuti com a professora do meu filho por razões, digamos, quase científicas. Na época, o menino estava na quarta ou terceira série do ensino fundamental, não lembro bem do ano ou da seriação, mas recordo-me do fato. Conto o caso aqui: a professora pediu para a turma um trabalho sobre as estações do ano e o guri, sabedor do meu envolvimento com essas coisas do céu, me pediu ajuda. Expliquei-lhe de forma simples, mas sem perder a essência do que era, e hoje ainda é, aceito pela comunidade científica, ou seja, a explicação vinculada à inclinação dos raios solares. Claro, tratei o fato de forma que o pequeno entendesse o assunto, sem entrar na questão matemática do problema, por óbvio, muito aquém do preparo da piazada e dele, em especial.
No dia seguinte, o menino chegou chorando da escola! Perguntei o porquê e ele, muito magoado, disse-me que tinha tirado "zero" no trabalho e que eu não sabia nada sobre o assunto. Que assunto, retruquei, ainda não sintonizado com a dimensão do problema. Fiquei muito surpreso quando o guri me relatou o ocorrido. Indignado com a situação e fui falar com a tal professora. Ela me informou que era assim mesmo e que eu deveria me informar melhor antes de questioná-la. Ademais, ela apenas repassava o que constava no livro. Ou seja, ela e, consequentemente, o livro, defendiam a absurda e obsoleta ideia de que as estações do ano dependiam da distância do Sol até a Terra.
Fiz, então, o questionamento matador para este tipo de argumento: se isto é verdade, como explicar, por exemplo, o fato de ser verão no hemisfério sul e inverno no hemisfério norte ao mesmo tempo? O Sol não está no mesmo lugar?
Por segundos, a professora ficou pensativa. Aproveitei o tempo para informá-la de minhas qualificações que, para o caso, eram relevantes. Disse-lhe que eu era Físico e que, na época, era Acadêmico do Mestrado em Astronomia. Sabe o que ela disse? Ah, o senhor vêm com estas teorias modernas... E eu respondi-lhe que isto não era moderno e que o próprio Isaac Newton já sabia deste fato!
Ao final e ao cabo, tudo se resolveu e eu acabei como uma espécie de consultor para assuntos científicos da Escola, obviamente, de forma gratuita. Ah, e o guri ficou com "Dez" no trabalho!
Referência:
MALLMITH, Décio. As Estações (Conto). In Marejar – Escritos em gotas – XII Antologia da AELN. pp. 26-28. ISBN: 978-65-87099-69-9. Porto Alegre: PalavrAreia, Alternativa, 2023.
