1- Caça às bruxas

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Mintura foi invadida.

Paladinos brancos marcharam no calar da noite em nossa direção, todos eles carregando a marca da capital no peito. A cruz preta.

E eu sabia o motivo de estarem aqui. De estarem destruindo tudo.

O som de portas sendo arrombadas a chutes e corpos sendo dilacerados por espadas se misturaram aos gritos de todo o vilarejo. Mintura não era grande, então não demorariam a me encontrar.

Esperando que minha porta fosse arrombada por uma bota, me virei para ela, surpresa, quando sete batidas soaram ritmadas.

Corri imediatamente para abri-la. Marina surgiu, passando pelo batente e se jogando no chão do meu casebre. Por todos os santos, ela estava tremendo.

Então fechei a porta com força antes que o ar frio da noite tocasse em minha pele.

— Os paladinos chegaram! — disse Marina entre os dentes, driblando a própria respiração.

Me agachei ao seu lado, repousando uma mão em suas costas. Era inútil mantê-la ali, mas o toque me faria bem se eu estivesse no lugar dela.

— Eles a machucaram? — perguntei, varrendo todo o seu corpo com os olhos a procura de sangue. Mas não havia nem uma gota.

— Não tiveram a chance. Fiz com que a água me protegesse.

Sorri em uma resposta sincera do que havia escutado. Marina era uma bruxa poderosa. A mais forte de todas que já conheci.

Tão poderosa desde que a conheci.

Minhas senhoras me deram uma ordem há dez anos. Encontrar e proteger uma de nós que estivesse perdida e sozinha, até se mostrar pronta para se juntar ao Coven.

Mas não era apenas uma de nossas irmãs. Eu deveria encontrar uma das três agraaciadas pela profecia.

E Marina, a agraciada que eu encontrei, com certeza estava pronta. Porém, a vida pacata de Mindura me aprisionou aqui, preferindo me esconder entre a multidão ao voltar para o Coven e ter que sair em busca de uma nova bruxa.

Bom, se tivéssemos indo embora, não estaríamos aqui no meio deste pandemônio.

Outro estralo de madeira soou do lado de fora, este bem mais perto que todos os outros. Uma hora ou outra, chegariam em minha casa e não tive certeza se a magia de Marina daria conta de todos eles.

— Eles vieram nos matar — gaguejou ela, virando o rosto assustado para mim.

— O que você viu?

— Cavalos, espadas, sangue e...

— E o quê?

— Uma cruz.

Engoli em seco, forçando-me a ficar de pé. Sabia o que a cruz significava.

Era o que a igreja adorava fazer com os usuários de magia.

Sacrifício de chamas. Eles jogavam bruxas no fogo para que a labareda as purificasse.

Mas nenhuma de nós seríamos queimadas naquela noite. Eu não permitiria.

— Precisamos ir embora! — Agarrei o braço de Marina e forcei a se levantar.

A garota passeou com os olhos do meu toque em sua pele até encontrar o meu olhar. E, bom, os olhos dela pareciam incrédulos.

— Não podemos simplesmente fugir, Berta.

— Não só podemos, como vamos.

Com um puxão, ela arrancou o braço de onde eu a segurava.

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⏰ Last updated: Jan 13 ⏰

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O SUSSURRO DE MINTURAWhere stories live. Discover now