O Ombrelone de João Fernandes

2 0 0
                                    

Passava um pouco das 13h quando chegamos à praia de João Fernandes. Sol intenso, nada de vento, muita gente, praia lotada. Conseguimos um lugar especial, em frente a um dos melhores quiosques do lugar, sob um imenso guarda-sol, responsável por uma maravilhosa sombra. E mais, éramos atendidos por garçons atenciosíssimos. Posteriormente, descobrir que a nomenclatura correta para o guarda-sol gigante é ombrelone.

A poucos metros de nós, o mar estendia-se calmo, sereno e de um verdejar deslumbrante. Tudo cabia em uma única palavra: magnífico! Não foi à toa que Brigitte Bardot escolheu essas águas para banhar seu elegante, esbelto e dourado corpo. Por falar em corpo dourado, centenas deles, para todos os gostos, espalhavam-se pela areia, também dourada, que emoldurava aquela praia de Búzios.

De imediato, solicitei ao garçom uma cerveja e alguns petiscos marinhos. Num piscar de olhos, o pedido estava na mesa. A cerveja geladíssima e os petiscos de agradabilíssimo sabor.

Minha esposa que estava na cadeira à esquerda solicitou-me que trocássemos de lugar, uma vez que assim ficaríamos mais ao nosso gosto: eu ao centro do guarda-sol, na sombra e próximo à mesa e ela mais exposta as emissões do astro-rei. A cadeira para a qual me desloquei era um pouco mais alta e, nessa nova configuração, minha esposa situava-se à minha direita.

Mal nos acomodamos nessa nova disposição e um pé de vento, muito forte e concentrado no ponto em que estávamos, arrancou o guarda-sol e projetou a ponta de seu cabo contra o meu peito, bem na região do coração. O impacto foi tão intenso que me jogou a dezenas de metros do local em que estávamos. E olha que tenho um corpo avantajado! As pessoas do entorno ficaram apavoradas com a cena. Os funcionários do quiosque não sabiam o que fazer. Minha esposa correu em minha direção e eu... bem, sentia-me tonto e desconectado da realidade. Por sorte, havia um médico nas proximidades e que me atendeu de imediato. E os médicos, como sabemos, são treinados para essas emergências e sempre sabem o que fazer em momentos assim. O episódio, acredito, não teve maiores consequências clínicas. Foi apenas um susto.

Passados alguns instantes, os atendentes do quiosque ajudaram-nos a nos recompor e a compor, novamente, a porção do cenário idílico que lhes cabia. Tudo continuava como era antes: sol intenso, nada de vento, mar calmo, morno e verdejante. Parecia que nada tinha acontecido!

Para nós, no entanto, a tarde acabara ali. Recolhemos nossas coisas e rumamos para a pousada em que estávamos hospedados. No calor do momento, esqueci de perguntar o nome do médico. A cerveja e os petiscos... ficaram por conta do quiosque.

Referência:

MALLMITH, Décio. O Ombrelone de João Fernandes (Conto). In Literatos – Volume 2. VI Prêmio Literário Gonzaga de Carvalho. Academia de Letras de Teófilo Otoni – ALTO. p. 128. ISBN: 978-65-88800-04-1. Teófilo Otoni: Academia de Letras de Teófilo Otoni, 2021.

O Ombrelone de João FernandesWhere stories live. Discover now