Capítulo 3 - Dublin, a chegada

9 1 0
                                    

Parámos na estação que ficava a uns 3 quarteirões de distância da casa da Stacey, por sorte o irmão dela, o Liam, vinha buscar-nos.
- Então pessoal? Como vocês estão?
- Liam! - corri para abraçá-lo.
Ele pegou-me ao colo e girou-me enquanto me abraçava, depois de uns segundos voltou a posar-me no chão.
- Como estás pequena? - ele pergunta sorrindo.
Liam Pitt, o maior apoio que alguma vez poderia pedir, foi a pessoa que mais me ajudou com a separação dos meus pais. Por ter os seus 23 anos, assim como o meu irmão, ele têm mais maturidade para me mostrar a realidade, pelo menos, no momento ele já tinha muito mais maturidade que eu.. cientificamente, nós mulheres, atingimos primeiro a maturidade do que os homens, mas neste caso notei a diferença. O Liam também teve experiências avassaladoras, acho que foi por isso que ficou maduro mais rápido.
- Estou bem. - digo sorrindo.
- Vieste aqui com o Matt? Ele é muito bom rapaz e está solteiro, sabias?
- Aí, aí, tu não mudas meu amigo. - o Matt abraçou-o enquanto se ria.
- Eu sei que ele está, mas obrigada pela informação. - digo rindo.
- Vá, estamos já a esticar-nos, vamos indo então. - ele diz entrando no carro.
- Ele é que se esticou, olha-me este. - digo entrando no carro seguida pelo Matthew.
- Como correu a viagem? - perguntou o Liam olhando pelo retrovisor para visualizar o Matt.
- Correu bem mano, a Ivy é uma boa companhia para viagens longas. - ele diz sorrindo enquanto olha pela janela.
- Ainda bem. - ele diz sorrindo - De onde vocês se conhecem? - pergunta curioso.
- Andamos na mesma turma. - respondemos em coro.
- Elah, até alinhados estão. - ele gargalhou - Mas Ivy, também seguiste Jornalismo Desportivo na NUI?
- Sim. - digo sorrindo.
- Pensava que ias seguir Jornalismo.
- É, só que, eu tinha média para entrar em ambos os cursos. E este chamou-me bastante à atenção.
- Ainda bem, fico feliz por ti, pequena. - ele diz sorrindo enquanto encarava a estrada.
- Obrigada.
- E tu Matt, como estão a correr as coisas com o teu pai?
- Bastante bem, descobri que a empresa pertence aqui à Ivy.
- O quê? Tu não sabias?
- Não sabia, não..
- Pensava que te tinha dito.
- Por acaso, se me disseste, não me lembro.
- Estranho, sendo que a Ivy é como uma irmã para a família, é estranho.
- Acho que falaste dela, mas não me referiste isso, mas tudo bem, ela é uma boa miúda!
Eles falaram de mim? Por isso é que o Matthew sabia tanta coisa sobre mim. Constrangedor.
Em segundos tínhamos já chegado à casa dos Pitt, saí do carro pegando a minha mochila comigo.
- IVY! - alguém grita pelo meu nome e corre até mim para me abraçar.
- Stacey! - retribui o abraço.
É tão bom sair de Galway e estar um pouco com os meus amigos. Este verão passei o verão em Espanha, Ibiza, o meu pai insistiu, foi uma seca autêntica, sabem como é viajar com pais, não temos muita liberdade e então não foi uma boa experiência quando queríamos sair à noite, mas estar com a minha família é sempre bom.
- Como estás amiga? - ele diz ajudando-me a carregar a mochila.
- Estou bem amiga. - segui-a percorrendo a casa até chegarmos ao quarto de hóspedes onde eu costumo ficar.
Após entrarmos e ela me deixar totalmente à vontade eu peguei na prenda dela e dei-lhe a mesma.
- Ivy, a tua presença já era um grande presente. - ela sorriu pegando no saco.
- Eu sei, mas também me lembro que andas sempre a pedir isso aos teus pais, portanto abre que vais gostar. - digo sorrindo.
Ela abriu e ficou bastante entusiasmada.
- Não acredito, produtos da Rare Beauty e ainda por cima o blush da Hope, meu deus, adoro-te. - ela saltou para me abraçar.
- Eu sei que sou fantástica. - comecei a rir e retribui o abraço - Ah, sim o meu pai mandou entregar-te este envelope também, deve ser dinheiro, sabes como ele é, nunca gostou muito de oferecer prendas.
- É, eu sei, mas e o teu irmão porque não veio?
- Ele disse que tinha uma festa.
- E a festa dos amiguinhos por ele ser popular é mais importante do que a minha festa de anos?
- Sabes como ele é...
- Achas que ele ficou chateado por causa de eu ter começado a namorar com o Charles?
- Stacey, muito sinceramente queres saber a minha opinião? 
- Por favor, sim.
- Vocês gostam um do outro, nas festas do Liam, sempre que o Joe vem, vocês ficam, vocês querem-se um ao outro, mas não sabem dizer como e o que dizer... 
- É assim tão óbvio?
- Stacey, claro que sim, o certo a fazer seria acabares com o Charles, tanto tu como eu, sabemos a realidade, ou estou errada? Estás com ele apenas para teres prazer e fazer ciúmes ao Joe, tenho a certeza que não sentes nada mesmo...
- Tu pareces que lês os meus pensamentos!
- Talvez seja bruxa sim. Tenho de ligar ao Joe a dizer que já cheguei então.
- digo pegando no telemóvel.
- Eu vou descer, fica à vontade. - ela diz saindo do quarto e deixando a porta entreaberta.
Marquei o número do Joe e liguei-lhe.
- Sim, mano, era só para avisar que cheguei. - consegui ouvir o barulho todo através da linha, e pouco ouvi o que ele dizia - A Stacey? Sim, ela perguntou por ti, acho que deverias parar de ser parvo e vir, pega no carro agora e vem. - esperei a resposta dele - Vocês são apaixonados um por o outro, não me lixes, vem que não te vais arrepender! - digo desligando-lhe o telemóvel.
Sorri de lado e fiquei a pensar na possibilidade de ele vir realmente, eles gostam tanto um do outro, acho que nunca ninguém se vai sentir assim por mim.
Tirei o meu caderno da mochila e a caneta a complementar.

Perder complementa a palavra saudade! Porquê? Porque sem perdas não existem saudades!
Perder-te seria perder-me também e no entanto perdi-nos aos dois! Tu foste e eu também fui. Numa forma inexplicável as saudades apertam, de tal forma que não esqueço o último toque ou o último beijo.
Quanto à última lágrima, não existe uma última, pois, em todos os momentos que penso em nós essas são as demais que sempre me assombram.
Olhos verdes, rímel a escorrer por eles, talvez a última vez que te lembras de mim, foi assim.
Tenho estado feita ingénua a sentir saudade e no entanto, a última coisa que disseste antes de acabarmos foi, entre os dentes, "tenho outra". Outra? Como assim sempre achei que... "achas demais tu", dizias isso como naturalidade inexplicável, nunca pensei isso de ti.
Por isso é que nos deixei ir, a ti, a mim, a nós. Sempre soube que saudade ia ficar comigo, mas sempre ouvi dizer que amar é deixar ir, contudo aprendi que saudade é palavra que nos completa, incompletamente. 

19/02/2024
Ivy Clarke

- Realmente, para escrever sobre sentimentos eu sou do melhor que existe, agora para escrever o discurso que tenho de entregar até quinta-feira, já não sou grande coisa, sou uma merda, isto enerva-me.
- comecei a suspirar.
Alguém bate à porta e ao olhar vi o rosto e os olhos brilhantes do Matthew.
- Posso? - ele diz sorrindo. 
Estou a ver este sorriso ainda a estragar muitas coisas na minha vida.
- Podes, claro.
- Não acho que sejas merda nenhuma, deves estar inspirada para isso neste momento mais para escrever sobre o que sentes e não para escrever um ensaio para a tutora a dizer o "porque de estares a estudar na NUI", acho-te uma grande escritora. Tenho visto o blog que tens recomendado no teu Instagram. Ivy, tu tens jeito para isso, isto é a tua vida! Para o concurso, quando te sentires preparada e caso necessites da minha ajuda, estarei aqui para te dar todo o apoio possível!
- Obrigada Matt, tens sido um grande apoio.
- fixámos o nosso olhar e começamos a aproximar-nos da forma que o fizemos, parecia que estávamos a preparar-nos para nos beijarmos.
- Ivy? - o Liam entra pela porta a dentro - Ups, desculpem interromper os pombinhos. - eu e o Matt afastámo-nos rapidamente - Vocês são os dois incríveis, realmente, eu deveria saber logo, não se preocupem que eu não conto a ninguém. - comecei a corar - Oh tomatinho, era só para avisar que o Joe vem, ele acabou de me ligar, ele disse que tu lhe ligaste quase a implorar e como sabemos a Stacey e o teu irmão adoram-se. Vamos fazer-lhe uma surpresa e não lhe dizer nada. - comecei a sorrir enquanto o Matthew apreciou cada uma das minhas expressões faciais - Vocês estão mesmo apaixonados. - ele riu.
- Cala-te Liam, fico mesmo feliz, mas não nos podemos esquecer que o Charles vai vir...
- Pois, isso resolve-se, não te preocupes. Esta noite, os nossos irmãos vão ficar juntos.
- ele ficou com um sorriso de orelha a orelha.
- Fico feliz por te ver assim Liam.
- E eu também ficaria feliz se vocês os dois ficassem finalmente juntos. Mas vais ter de a distrair, vão às compras juntas, como fazem sempre. Quando tudo estiver pronto eu mando-te mensagem, para vires.
- Cala-te estúpido.
- atirei-lhe com a almofada que ele me mandou de volta - Não te preocupes, vamos às compras daqui a pouco. - ele saiu do quarto assentindo.
Olhei novamente para o Matthew que já me fixava.
- Estás envenenado?
- Se for contigo, estou mesmo.
- ele sorriu.
- Isso é bom.
- Achas que é? Vais-me fazer ficar apaixonado por ti, num instante.
- Ninguém se apaixonada por mim. 
- Estás completamente enganada.
- ele chegou-se para mais perto de mim.
- Acredita que não estou. - digo fixando os meus olhos no dele.
Ele desviou uma mecha do meu cabelo e puxou-me para ele.
Beijámo-nos, foi o beijo com mais significado que dei até hoje e as minhas borboletas pairam novamente pela minha barriga, aquelas que já haviam morrido.


|| The Light In Your Eyes ||Where stories live. Discover now