IX Padre Dante

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Em uma manhã chuvosa, Dante despertou. Fazia uma semana desde a última vez em que viu Elena. Mas mesmo sem vê-la, ele sabia muito bem o que estava acontecendo na vida dela, graças a fofoqueira da Olívia. Dante fingia que não dava ouvidos para o que ela dizia mas sempre aguardava qualquer novidade que ela poderia compartilhar com ele, sendo uma delas que Elena tinha conseguido um emprego na cidade, mas especificamente em uma escola particular. Ele ficou feliz por ela ter seguido seu sonho de adolescente e se formado no que sempre dizia que adoraria fazer.
Ainda deitado, encarando o teto do quarto, ele se questionava como seria ao encontrar Elena novamente. Desde aquele dia em que eles haviam se beijado, ele sentia um incômodo dentro de si, que ainda não conseguia definir o que era.
Parte de si encontrava feliz e outra vinha com uma culpa que escurecia seu coração. Desde que decidiu entrar para a igreja ele mantinha seu celibato com muito orgulho. Óbvio que como um homem ele também fora muitas vezes atentado pela pecado, mas somente Elena conseguiu derrubar seu celibato de anos.
Dante decidiu começar seu dia, fez uma prece silenciosa e começou a se arrumar para a missa, ele não queria se atrasar novamente, ele odiava atrasos.

- Bom dia, Olívia.

- Bom dia, padre. Vejo que não se atrasou hoje, eu iria esperar mais alguns minutinhos e iria te chamar, sei que não gosta de atrasos. - Olívia usava um óculos de armação redonda e de cor vermelha, por esse detalhe Dante percebeu que era um daqueles dias que seria difícil fazer Olívia ficar alguns minutos em silêncio. Já que ela sempre usava um modelo diferente de óculos de acordo com seu humor.

- Vejo que está muito animada hoje, Olívia. - Dante disse por fim apreciando o bom humor dela. - Mas chega de conversas, vou tomar meu café, se não irei acabar me atrasando mesmo tendo levantado cedo.

Ao ir tomar seu café, Dante notou que ainda chovia e geralmente quando o dia estava assim, os fiéis em sua maioria não compareciam a missa, seus pensamentos foram jogados de lado quando viu sua mãe entrando na cozinha.

- Bom dia mãe. Aceita um café?

- Bom dia filho. Não precisa se preocupar comigo, tomei café antes de sair.

- Pensei que não veria a senhora hoje na missa! - Dante sabia que quando chovia sua mãe era uma das quais não compareciam.

- De fato, se fosse antes de Elena voltar eu não estaria aqui. - Dante conseguia sentir a antipatia de sua mãe para Elena, agora que ele sabia um outro lado da história ele conseguia entender melhor mas não entendia o que Elena tinha a ver com um passado na qual ela nem sequer existia.

- Mãe, o que está insinuando?

- Não estou insinuando nada. Apenas garantindo que ela não brinque com você outra vez, se mantenha longe dela. Sei que você foi até a casa dela depois de eu ter falado algumas verdades para ela.

- Fui me desculpar do que houve aqui na paróquia, a senhora não deviria ter falado assim com ela e muito menos ter xingando a mãe de Elena na frente da mãe dela. - Dante estava sentindo o estresse crescer gradativamente dentro dele com aquela conversa, não era assim que ele imaginou que começaria o dia antes de celebrar uma missa.

- A claro, Iolanda, como eu pude esquecer? Essa é outra que você tem que manter distância. - A mãe de Dante estava realmente ditando regras para ele como se ele fosse um adolescente que corria perigo por andar com más companhias.

- Não posso me afastar dos meus fiéis, sou um padre e é meu dever estar sempre aqui quando precisarem e a senhora sabe que eu a tenho como uma avó para mim! Se a senhora me der licença eu preciso terminar de me arrumar para começar a missa. - Dante soou de maneira clara para não deixar dúvidas de que ele não iria se afastar da família de Elena.

Ao iniciar a missa com um lindo cântico e ver que na frente estava apenas a dona Iolanda sem a companhia de sua neta, ele respirou pesadamente. No fundo queria ver Elena ali mas sabia que isso iria atrapalhar ele novamente. Então achou melhor ela não estar presente, pois o dia mal tinha começado e já estava imensamente conturbado.
Ao contrário da última vez, hoje a missa ocorreu como ele havia planejado, nada de distrações e pensamentos sexuais intrusos. Estava contente por ainda conseguir fazer o que tinha escolhido, mesmo tendo caído em pecado nos doces lábios de Elena.

- Padre Dante, como está? - Dona Iolanda veio cumprimenta-lo com um sorriso de sempre.

- Dona Iolanda, que bom ver a senhora. Estou bem e a senhora? - Dante viu sua mãe aos fundos da igreja, encarando ele.

- Estou bem e como não perguntou vou falar mesmo assim. Elena conseguiu um emprego como professora. - Dante sabia que dona Iolanda iria falar sobre sua amada neta.

- Fico muito contente por ela estar seguindo o que sempre desejou, que Deus abençoe ela nessa nova fase. - Dante não queria dizer que já sabia da novidade mas não deixou de demonstrar que realmente estava feliz por Elena.

- Ela vai gostar de saber de suas palavras. Aliás vá tomar um café conosco qualquer dia e esse é um convite irrecusável. - Dona Iolanda sabia intimidar alguém com seus convites que sempre tinha uma resposta, um sim.

- Claro que irei. Estou um pouco ocupado com os afazeres do clero e logo vamos ter a quermesse, então meu tempo está curto. - Em parte era verdade o que ele havia dito para a senhora, mas se sentia ansioso apenas por pensar em encontrar Elena após os beijos trocado entre eles.

- Nem tente vir com desculpas se não eu mesma venho aqui e te levo a força menino. - Dona Iolanda disse risonha. - Bem vou indo e não se esqueça do convite.

- Não se preocupe, não vou esquecer. E Deus abençoe a senhora.

De fato como um padre responsável por uma paróquia, ele tinha inúmeras responsabilidade e afazeres e com a chegada da quermesse só aumentava sua carga de trabalho, mesmo com o dia chuvoso, Padre Dante decidiu que iria atrás da decoração da festa, não queria deixar para tudo para última hora.
Ele tinha uma lista numerada consigo onde tinha o que ele precisava providenciar, dentre alguns elementos estavam: bandeiras coloridas, balões, objetos que remetiam as festanças juninas, dentre outros.
O centro da cidadezinha estava tranquilo, então deduziu que seria mais fácil encontrar o que precisava mas só não imaginou que encontraria ali Elena e para a infelicidade dele, ela não estava sozinha. Ele não conseguia acreditar no que seus olhos estavam vendo.
Lá estava Elena acompanhada de Marcelo, Dante o odiava desde a época da escola por um motivo muito plausível perante o que ele achava, Dante sabia que Marcelo sempre fora apaixonado por Elena e ao ver a maneira que ele encarava ela, deduziu que o sentimento de paixão por ela ainda existia no peito dele.
Ciúmes. Quanto tempo que Dante não sentia tal coisa borbulhar em seu coração, mas agora era diferente, Marcelo tinha o caminho livre pra tentar ter algo com Elena. E Dante não poderia impedir ou tentar dizer algo. A afirmação de que ele era um padre se acendeu como uma luz forte neon em sua mente e pela primeira vez odiou-se pela escolha que fez no passado, já que agora veria a pessoa que ama sendo cortejada por outros.

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