VIII Elena machado

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Elena estava exausta, poderia dizer isso em dois âmbitos, tanto físico quanto mental. No fundo ela apenas queria chorar no banho e deixar que a água quente lavasse se possível até sua alma.
Muitas circustância havia cercado ela, desde a manhã.
Mas não poderia imaginar que seu bom humor fosse atingido por uma tempestade raivosa, vindo de uma pessoa que ela sempre julgou que não gostava dela.
Mas não gostava por que? Elena sentia que havia algo a mais para se pressupor o ódio de sua antiga sogra para com ela.
Mas do que isso, de alguma forma, bem no seu íntimo ela se sentiu triste e desamparada por Dante não ter feito absolutamente nada, para fazer sua mãe parar.
Ela estava triste e somente hoje ela iria permitir sentir tudo que seu coração fosse oferecer, não adiantava segurar as lágrimas no maior momento em que elas clamam liberdade entre seus olhos. Assim estava decidido que após um longo dia atrás de um trabalho novo e de uma mobília que fosse mais contigente com sua idade atual, ela apenas choraria. Queria chorar apenas por lembrar de tais humilhações, queria chorar por acontecimentos do passado e choraria pelo presente conturbado em que se encontrava.
Ao entrar dentro do seu carro e escorar a cabeça no volante ela apenas desejou que as coisas fossem mais tranquilas em sua vida, desde a sua volta para aquela cidade, um turbilhão de sentimentos que estavam entorpecidos acordaram de sua hibernação sentimental. E lá estava Elena sem saber como agir.
Por hora apenas desejou chegar logo em casa e tentar espairecer seus pensamentos, mas lá estava ele, dentro de sua casa à espera dela. Seu maior tormento e caos personificado em uma única pessoa, Dante.

- Meu Deus, será que esse dia não vai acabar? - A vontade de chorar se fez mais forte, será que ela não teria paz nem dentro do seu lar? mas Elena acatou o pedido de sua avó e reconheceu as sábias palavras delas ao orientá-la a tentar resolver algumas pendências com Dante. E assim cedeu para falar com ele.

- Vou deixar vocês sozinhos - ao dizer aquilo, dona Iolanda, encarou bem os olhos de sua neta, foi como se ela falasse que tudo iria se resolver, que logo ela estaria em paz.

- Elena, bem eu nem sei exatamente por onde começar! - Nervoso e ansioso, foi o diagnóstico que Elena fez de sua postura diante dela.

- Que tal você começar no motivo que te trouxe até aqui? - ela sentiu que acabou soando um pouco rude, mesmo que isso fosse contra sua vontade.

- Peço desculpas pelo que aconteceu na paróquia hoje, peço desculpas pelas falas grotescas de minha mãe e desculpas por não ter feito ela parar. Me sinto culpado como se eu próprio tivesse dito aquelas atrocidades. - Dante sempre se sentiu muito bem em declarar os sentimentos que sentia para Elena, como ele dizia no passado: " não há ninguém que me entenda tão bem como você". E nesse momento ele sentia a mesma sensação de ser ouvido e compreendido, foi uma sensação como se voltasse pra casa e desejou fortemente poder abraçá-la.

- Dante, eu posso ser uma vagabunda como sua mãe falou - ela respirou fundo - mas eu não sou uma pessoa de ficar contando mentiras, por mais que eu não queria, eu sei que falar sobre isso implica falar sobre nosso passado, mas eu não menti quando disse que fui até sua casa e que sua mãe me fez tal afirmação.

Lá estava os olhos banhados pelas lágrimas, se permitia sentir, não adiantava fugir de algo que estava dentro do seu coração, quase que impregnado em sua alma.
Dante nem sequer pensou e a abraçou, ele não suportava vê-la chorando, já era a segunda vez em apenas algumas horas do dia que ele presenciara aquilo. A abraçou como se fosse protegê-la do mundo, como se fosse amparar seu coração, como se fosse por uma saudade de 7 anos.

- Presta atenção Elena, você não é nada daquilo que minha mãe falou para você, não há ninguém nesse mundo que tenha uma alma tão linda quanto a sua. - Elena chorou mais ainda com a declaração de Dante, ele sempre dizia o quanto ela era excepcional diante das outras pessoas. Ela se sentia tão protegida dentro do abraço dele. Se tivesse escolha, optaria por ficar assim por horas e horas, ouvindo e sentindo o coração de Dante bater em um ritmo que a acalmava perante a tortuosa tempestade.
Quando o abraço se desfez, a sensação mútua deles era de vazio e escuridão. Mesmo diante de tantas questões mal resolvidas entre eles, aquele abraço não parecia errado de maneira alguma.

- Está mais calma? Quer que eu pegue uma água? - Elena conseguia sentir a preocupação de Dante para com ela.

- Já pensou como seria a vida agora se a gente não tivesse se separado? - Elena pela primeira vez, pronunciou em voz alta, um de seus pensamentos mais frequentes que teve durante os últimos dias.

- Já, provavelmente estaríamos casados e quem sabe teríamos um filho - Elena chorou vigorosamente. A resposta dele perante a esse questionamento mental que ela sempre tinha, era totalmente compatível com o que sempre achou que aconteceria entre os dois com o passar dos anos.

- Eu sempre questionei isso e todas as vezes eu tinha a mesma resposta - disse secando as lágrimas que teimosamente caiam em sua face.

- E qual era a resposta? - Dante estava curioso, esse estava sendo o momento de ponto alto entre eles após 7 anos.

- A mesma que você me falou. Estranho pensar como a vida age, olha só, hoje você é um padre - disse Elena, encarando o colarinho clerical que ele usava.

O silêncio caiu pesadamente entre os dois, onde a boca não dizia nada mas os olhos diziam tanto. Dante provavelmente não tinha mais o controle de seu próprio corpo, quando caiu em si mesmo estava com seus lábios colados com os de Elena.
Por Deus como ele tinha desejado isso por anos e anos, desejado mesmo que isso fosse contra seu celibato. Sentia seu corpo em chamas. Como era bom o beijo de Elena, sentiu-se em casa, sentiu-se que ainda a amava e que ela estava marcada para sempre em seu coração.

-Me desculpe, você é um padre agora - eles estavam ofegantes e com suas testas coladas.

Dante sequer questionou suas desculpas, ele sabia que era um padre, mas sempre odiava quando ela o lembrava tal posição. Ele entrou no clero após jurar não deixar nenhuma mulher fazer seu coração sangrar novamente. Mas lá estava ele aos beijos mais uma vez com a grande responsável por ele ter tomado tal escolha para sua vida, uma vida pós Elena.

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