VII Padre Dante

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Padre Dante com certeza não havia pensado na avalanche de sentimentos e acontecimentos que sua ex namorada poderia trazer para sua realidade pacata, no sossego que ele sempre tivera prazer, não existia mais, foi embora tão breve como uma chuva de verão.
Na verdade, foi totalmente incompatível a realidade atual perante a aquele imaginou que seria um dia, ele sabia que mais cedo ou mais tarde acabaria encontrando Elena. Mas esse encontro sempre foi mais fácil em seus pensamentos, pensamentos esses agora que se encontravam em uma bagunça, uns lutando contra os outros, era como se houvesse uma multidão falando ao mesmo tempo e ele sequer conseguia ouvir uma palavra para encontrar uma direção certa para prosseguir.
" O que está acontecendo comigo?" Ele se perguntava e nenhuma resposta audível vinha e quanto mais ele pensava ou tentava ao menos entender o que estava sentindo mais desordenado ele ficava.
O acontecimento pela manhã na paróquia o deixou digamos perplexo, sua mente foi tomada por uma nuvem densa de culpa por ter deixado sua mãe humilhar Elena e não ter feito absolutamente nada, ele tinha discernimento para entender que nem Elena e muito menos dona Iolanda mereciam ouvir aquelas duras palavras ditas por sua mãe.
Ao se olhar no espelho ajeitando seu colarinho clerical, decidiu que iria até a casa de Elena e dona Iolanda para se redimir, não queria que elas achassem que ele compactuava ou pior apoiava sua mãe em tais atitudes totalmente repugnante, ainda mais ele sendo um servo de Deus, onde deveria trazer luz e acolhimento para seus fiéis.

Ao chegar na casa de dona Iolanda na qual ele conhecia tão bem, se sentiu ansioso e constrangido, por um breve instante chegou a cogitar a dar meia volta e ir embora, mas no silêncio pediu forças a Deus para poder encarar a situação e tentar de alguma forma amenizar o que houve. Ao tocar a campainha seu coração errou o ritmo, estava com mais medo de encarar Elena a dona Iolanda.

- Dona Iolanda, posso entrar? Gostaria de falar com a senhora e com Elena - Dante estava tão nervoso que proferiu todas aquelas palavras de uma vez sem sequer parar para respirar, assim que viu dona Iolanda na porta.

- Claro meu querido, entre - Dona Iolanda assim deu passagem para ele adentrar em sua casa, ela o conhecia muito bem e já tinha decifrado a angústia que ele estava sentindo, certamente ela não o culpava de nada do ocorrido.

- Elena está? - perguntou o padre enquanto corria seus olhos pela casa.

- Elena saiu. Foi entregar alguns currículos e comprar uma mobília nova para seu quarto, mas acredito que ela não deva demorar - dona Iolanda disse por fim.

- Dona Iolanda, eu vim pedir desculpas pelo o que houve hoje de manhã, eu juro a senhora que nunca vi minha mãe falar assim com alguém, ainda mais dentro de uma igreja. - Dantes estava aflito, sentindo suas mãos suarem e ficarem geladas, respirou fundo e encarou dona Iolanda nos olhos.

- Você sabe que não tem culpa Dante, mas aceito suas desculpas pois fiquei chateada por você não ter impedido sua mãe de falar asneiras sobre minha Elena. Elena tem seus defeitos como qualquer um que já pisou nessa terra, mas uma coisa eu te asseguro, mentirosa ela não é - dona Iolanda decidiu que deveria deixar as coisas mais claras possíveis perante a Dante.

Dante não conseguia proferir sequer uma sílaba, apenas abaixou sua cabeça e encarou seus sapatos por longos segundos, até que teve coragem de falar algo que já estava o incomodando havia um tempo

- A senhora acha que minha mãe possa ter mentido sobre Elena? - pela primeira vez Dante sentiu medo da verdade e pensou se viver na ilusão as vezes não seria melhor pois evitaria quaisquer desapontamentos.

- Mentir em qual parte? Quando ela disse que Elena não foi a sua casa ou quando ela afirmou para minha neta que você tinha traído ela? - sim estava na hora de começar a esclarecer os fatos por mais dolorosos que eles poderiam ser!

- Mas eu não traí Elena, eu jamais faria isso - aquela acusação fazia sua alma sangrar, no seu mais íntimo ele tinha a plena certeza que não faria isso com Elena e provavelmente com mulher alguma.

- Mas foi o que sua mãe disse para a Elena, veja bem Dante, eu sei o porque de sua mãe não gostar de Elena e também de não gostar da minha filha Paula, mas isso não dá a ela o direto que querer ditar a vida dos outros.

- Eu poderia saber o por que de minha mãe não gostar de sua filha e de Elena? Eu sempre achei que era algo como ciúmes de mãe - Dona Iolanda sentiu que deveria contar a ele e muito provável que talvez Elena nem saiba dessa história.

- Sua mãe sempre foi apaixonada pelo seu pai Dante, que Deus o tenha - disse fazendo um sinal da cruz - mas antes do seus pais começarem a namoram, a minha filha e seu pai tiverem um caso. Eles se conheceram na escola assim como você e Elena, mas não passou de uma namoro de verão, logo eles se separaram e minha filha encontrou o pai de Elena. E seu pai decidiu dar uma chance a sua mãe, é ai a base de sentimentos que sua mãe tem por minha filha e consequentemente minha neta.

- Isso explica os xingamentos de hoje cedo, nunca imaginei que isso houvesse acontecido, minha mãe nunca me contou - Dante estava boquiaberto com essa descoberta, isso explicaria as atitudes reversas de sua mãe, mas e a suposta mentira de que Elena não tinha ido até a casa dele, naquele fatídico dia em que seu mundo desmoronou?

Ainda com os pensamentos longe. Tentando digerir todas as informações que receberá, e com um misto de frustração e desilusão ele não percebeu que Elena tinha voltado pra casa, até ver sua figura parada próxima a ele.

- Meu Deus, será que esse dia não vai acabar? - disse a mesma impaciente, mas Dante a conhecia tão bem que tinha notado um resquício de choro em sua voz. E por tudo que fosse sagrado, vê-la chorando duas vezes no mesmo dia seria como se tivesse descido ao inferno.

- Elena, precisamos conversar! - Dante estava secretamente pedindo a Deus que ela não recusa-se seu pedido.

- Precisamos? - lá estava o modo sarcástico que Elena usava para se esquivar de alguma situação que não a deixava confortável.

- Elena, por favor. - Se precisasse se humilhar ali perante ela para conseguir conversar, ele certamente faria.

- Minha filha, converse com ele. Chega de deixar para amanhã, o adiamento só prolonga seu sofrimento. - sua avó interveio, sempre foi uma mulher muito sábia, então ela daria essa chance de conversar com Dante.

- Tudo bem! - Não, não estava nada bem para Elena, agora ela teria que enfrentar sua sentença para o inferno.

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