I Padre Dante

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As pessoas dizem que o amor machuca, corrompe e faz a alma sangrar. Mas não seria apenas as atitudes mal pensadas que poderiam destruir e ruir um coração?
Essa era mais uma das dúvidas que pairava a cabeça de Dante todas as vezes que ele lembrava dela, havia uma dualidade muito grande dentro dele era como se o bem e o mal lutassem uma batalha final onde não poderia haver empate, apenas um teria que ganhar mas o resultado dessa batalha travada dentro de seu coração sempre era adiada.
Por hora deve ser mais fácil assim lidar com sentimentos que nem ao menos sabemos ao certo, as vezes ele não queria sentir absolutamente nada, mas não queria ser um morto vivo por ai, Dante era um homem bom - mesmo com o coração partido e sem as respostas que queria - respostas essa no caso que poderia deixá-lo com mais dúvidas ainda. Bem ele não sabia.
Deixado os pensamentos de lado era hora de começar o dia, Dante vivia a mesma rotina todos os dias, ao contrário de muitos à monotonia de uma cidade pequena de poucos acontecimentos não o aborrecia.
Cuidar de uma igreja e instruir seus fiéis era algo que o mantinha no agora, sem pensar no passado, sem pensar em Elena.

- Bom dia, padre - Olívia o saudou como todas as manhãs.

- Bom dia, Olívia - Dante a respondeu sentando a mesa para seu desjejum.

Olívia era uma mulher de meio idade que tinha os cabelos na altura dos ombros e usava um modelo de óculos a cada dia de acordo com seu humor, Olívia tinha um coração de mãe e tratava o padre como seu filho. Mas também como toda mulher de meia idade em uma cidade pequena, ela gostava de sempre se manter informada - ela com certeza tinha informações de todos naquela cidade pequena - mas ela sempre jurava ao padre que não era fofoqueira apenas curiosa o suficiente para ir atrás de tais informações.
Além da profissão de fofoqueira da cidade, Olívia exercia a função de secretariado na paróquia, onde ajudava o padre Dante.
Certamente por Olívia ser a porta voz das fofocas da cidade com toda a certeza do mundo ela sabia do relacionamento que o padre Dante teve no passado, claro que não foi por ele, já que ele sempre evitava de todas as maneiras a contar sobre o ocorrido de anos atrás que até hoje deixou uma ferida em seu coração, ferida essa que nem a sacristia conseguiu curar.

-Padre sei que o senhor não gosta de fofocas mas acho que deveria dizer algo aí senhor! - disse Olívia segurando a expectativa e curiosidade de como o padre reagiria perante os boatos que ela ouviu.

- Como você mesmo disse não gosto de fofocas - o padre foi categórico ao afirmar tal, mas Olívia ainda insistia.

- Padre sabe que eu o considero como meu filho e por Deus, quero apenas o seu bem estar.

Dante de certa forma também tinha uma grande consideração por Olívia, então perante a sua declaração ele deixou que ela falasse.

- Pois bem Olívia o que é tão importante para me dizer? - o padre realmente estava cético dessa fofoca que ele ouviria, pensou que não era nada de grande importância mas ele estava errado.

- Padre eu... - Olívia com o seu mestrado em fofocas não estava conseguindo soltar tal informação ao padre, o que deixou intrigado e foi aí que ele percebeu que não seria algo sem grande importância.

- Diga Olívia!

- Pois bem, a Elena está de volta!

Elena, aquele nome pertencente à dona que um dia dilacerou seu coração com sua partida está de volta, padre Dante sentiu seu chão se abrindo sob seus pés e como se ele estivesse caindo nas mais profundezas de suas recordações com Elena até que se lembrará que ela o tinha deixado depois de tantas promessas. O coração de Dante sangrava, se ele estivesse sozinho naquele momento com certeza ele iria chorar, mas não podia, tinha que afirmar a todos e a ele que isso não iria abalar ele, que Elena era apenas uma lembrança que ficou no passado.

- Padre, está tudo bem? - Olívia jura que viu pequeno resquícios de lágrimas em seu olhar.

- Está sim Olívia, eu apenas estava com a cabeça nos afazeres e na missa de hoje à noite.

- Padre não me entenda mal, mas não queria que soubesse por outra pessoa ou pior encontrar ela na rua sem saber que ela tinha voltado.

- Tudo bem Olívia, obrigada pela consideração, agora se me der licença, eu ainda tenho que terminar a elaboração da missa de hoje - assim que Olívia assentiu, Dante foi aí seu escritório que ficava nos fundos da paróquia, ele precisava ficar sozinho, pensar e tentar entender o porque Elena estaria de volta depois de tantos anos, depois que ele já era um padre cuidando de uma igreja. Ele sentia tantos sentimentos ao mesmo tempo que não consiga nem sequer pensar com clareza então ele resolveu que iria rezar, somente Deus poderia ajudar ele nessa situação e acalmar seu coração, ele ainda a amava mas não queria saber as reais motivações pela sua volta, estava decidido que dedicaria mais ainda sua vida para Cristo.
Elena não tinha mais espaço em sua vida, talvez em seu coração mas na vida real não.

- Deus peço ao senhor que tire tudo o que eu sinto por essa mulher em meu coração, não me deixe cair em pecado nem ao menos em pensamentos, estou aqui para levar sua palavra as pessoas e assim será, peço que me faça forte perante a essa mulher, amém.
Padre Dante sabia que mais cedo ou mais tarde ele a encontraria e uma vozinha em seu ser dizia que seria o mais breve, até que ele lembrou que teria uma missa hoje a noite para celebrar, sentiu-se ansioso pois tinha certeza que a encontraria nessa noite mesmo contra sua vontade.

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