A figura razoavelmente alta, usava preto da cabeça aos pés. Estava parada com confiança na frente da porta aberta, enquanto observava o homem sobre a cadeira. Os seus olhos escuros brilharam na escuridão, calculando como abordaria e atacaria o homem adormecido em sua cadeira. Um sorriso largo puxou em seus lábios, totalmente cobertos pela balaclava preta, que escondia a sua identidade. Ele caminhou até ao pé da mesa, olhando ao redor e sentindo o cheiro de suor, sexo e nicotina impregnar em suas narinas.

Ele, conhecido por todos os Estados Unidos como Ceifador, estava ali com um único propósito, o que explicava todo o seu cuidado e atenção. Com movimentos calculados, desembainhou uma faca afiada de suas roupas pretas, os olhos fixos no homem à sua frente. Mason Michaels. O cigarro queimava em sua boca, fazendo as cinzas se acumularem em seu peito descoberto. Uma tatuagem desbotada com a face de Jesus Cristo estava marcada em seu ombro direito. Quanta ironia, pensou o Ceifador, rindo baixo.

Mason Michaels era proprietário do Rinque de Patinação, o mais famoso e aclamado do país — recebendo vários patinadores olímpicos e jogadores de hóquei diariamente em seu gelo bem polido — e empresário. Em seus cinquenta e cinco anos, Michaels era casado com uma jornalista local há vinte anos, com dois filhos e um Poodle. Religioso, influente, rico e um abusador de merda.

Dois pecadores se encontravam naquela madrugada, então. Um estuprador e um serial killer, cometendo crimes diante a imagem Dele. A maior ironia? Estar ali para cortar pela raiz o ciclo de vida imposto por Ele. Atuar o papel da Morte e colecionar almas, tal qual um fanático colecionava livros, brinquedos ou cacarecos.

O Ceifador admirou o seu reflexo na lâmina da faca e caminhou até Mason Michaels, parando atrás dele. A lâmina tocou a jugular dele superficialmente, colocando uma leve pressão no local, apenas para assustá-lo. Só queria brincar um pouco antes de destruí-lo.

Mason abriu os olhos, dando de cara com o rosto mascarado. Antes que pudesse gritar, o Ceifador empurrou o cigarro pela metade para dentro de sua boca, fazendo-o se engasgar.

— Agora imagine só se fosse a minha faca — comentou, risonho. A sua voz era algo inexplicável. Não era grossa e nem fina. O timbre baixo causava arrepios em Mason, e ao mergulhar-se no poço escuro e brilhante que eram os seus olhos, reconheceu-o no mesmo segundo.

O Ceifador era o maior assassino em série da atualidade. Colecionando várias mortes e nunca deixando uma pista que o entregasse, sempre se safando. O assassino tinha sumido por seis meses, nenhuma morte durante esse tempo, nenhum sinal de sua existência. Até agora. A realização de quem era seu convidado fez os olhos de Mason se arregalaram de pavor.

— Seja muito bem-vindo, Michaels — disse o Ceifador. — Você é a vítima número... — Ele ergueu a mão enluvada, subindo e descendo os dedos, pensativo, contando mentalmente. — Vítima número onze. Isso. Desculpe-me. O tempo afastado me deixou um pouco enferrujado e com a memória fraca. Então, está feliz? Você foi o escolhido para marcar o meu retorno. Não é incrível?!

Michaels arregalou ainda mais os olhos, engolindo em seco e deixando as lágrimas rolarem por seu rosto oleoso e enrugado.

— Por favor...

— Engraçado... Você sabe qual o significado dessas palavras, senhor Michaels? — Semicerrou os olhos, tirando a faca do pescoço do homem e a girando nas mãos. — Eu te fiz uma pergunta!

— S-sim...

— Resposta errada! — Um corte profundo foi feito do peito até a barriga do homem, que urrou de dor. — Levanta!

Mason olha ao redor, desesperado, e cai da cadeira. O seu peito ensanguentado manchando o carpete de sua sala e os móveis brancos e de vidro. No chão, o empresário rolou no chão, erguendo a mão para alcançar o telefone sobre a mesa, precisava de ajuda, precisava da polícia, precisava de alguém. Porém, o Ceifador era bem mais esperto que ele, notando a sua tentativa embaraçosa e cravando a faca em sua mão.

Midnight Rain (ATO I) • Bucky BarnesWhere stories live. Discover now