021. Dilema Emocional

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Foi dito e feito. Em cerca de quarenta e cinco minutos eu já estava parada em frente ao lugar que eles geralmente ficavam, plantada do lado de fora, os ouvindo tocar "Tempo Perdido" do Legião Urbana do lado de dentro e criando coragem para abrir a porta e dar as caras na frente dos meninos. Muito felizmente, também, não percebi olhares negativos sobre mim no momento em que ouvi a música parando e tomei coragem de entrar de uma vez, sem pestanejar. Apenas olhares confusos e ansiosos repousaram sobre a minha pessoa. Eu, por outro lado, me sentia insegura, mas convicta de que eu não poderia amarelar na frente dos cinco (os quatro membros definitivos e o Júlio, que estava lá auxiliando o ensaio nas regulagens dos equipamentos de som). Então, assim que os fitei tentando esconder o meu nervosismo interno, eu abri a boca e involuntariamente saíram as seguintes palavras:

— Eu quero bater um papo com todos vocês mais tarde — em seguida, me virei para o Bento e o fitei severamente nos olhos antes de pronunciar: — Primeiro eu quero conversar a sós com você.

Eu esperava que ele dissesse que estava ocupado ou alguma outra coisa que adiasse a nossa conversa, mas não, ele não me respondeu nada. Apenas retirou a sua guitarra de si e a colocou em um canto encostada numa parede antes de vir caminhando na direção em que eu estava até passar por mim e me esperar do lado de fora da garagem.

— Aconteceu alguma coisa?

No momento seguinte em que fechei a porta e o acompanhei até a calçada da rua, ele me deferiu tal pergunta. Antes de respondê-la, eu me pus na sua frente e repousei ambas as minhas mãos sobre os seus ombros, de modo que o fizesse permanecer virado para mim, e em seguida levantei mais uma vez o meu olhar para encontrar o seu.

Sabe, a minha cabeça estava a mil naquele momento. Eu me sentia como se fosse explodir a qualquer hora se eu não falasse logo o que eu tinha para falar. Foi neste momento em que eu comecei a pensar em como me comunicaria com ele, mas sabe quando tudo o que você pensa parece errado? Isso estava começando a me dar uma crise severa de ansiedade. Eu senti a pontada de explosão querendo extravasar de dentro do meu peito. E para conseguir controlar ela, eu, primeiramente, tive que controlar a minha mente e deixar de lado aqueles pensamentos que a invadiam a cada segundo que se passava. Em seguida eu respirei fundo e decidi soltar a fala de uma vez e sem pensar muito:

— Me perdoa, amor. Eu fui uma idiota com você durante os últimos meses.

Eu confesso que estava ficando ansiosa enquanto esperava por uma resposta vinda dele. No momento em que terminei de falar, o rapaz me encarou nos olhos seriamente por longos segundos, sem se esforçar sequer para pronunciar qualquer coisa. Eu, no entanto, mesmo que quisesse não demonstrar o quanto estava abalada emocionalmente, não conseguia evitar isso. Na verdade, eu estava a ponto de não conseguir me conter e acabar derrubando muitas lágrimas. E não, essa parte era a que eu menos queria que o Bento tivesse algum tipo de contato. Por este motivo, quando senti que não ia acabar aguentando mais, abaixei a minha cabeça para tentar impedir o choro silencioso que insistiu em ousar escapar pelos meus olhos. Mas eu não fiquei por muitos segundos de cabeça baixa. Isso porque o guitarrista repousou gentilmente ambas as suas mãos sobre o meu rosto e o ergueu novamente na direção do seu. Neste momento, eu pude notar o seu olhar aflito sobre mim.

— Você 'tá chorando por minha causa? — Essa foi uma daquelas perguntas que eu não precisei responder, porque logo em seguida ele a emendou com a seguinte frase: — Não, não chora! Eu não tô com raiva e nem nada do tipo, eu não quero te ver chorando de jeito nenhum!

— Não é por você, Alberto. É por mim — sim, era mesmo. Eu só conseguia, neste momento, me culpar por ter sido a pior pessoa do planeta com ele. Foi exatamente neste momento que eu me lembrei de um adendo que não tinha levado em consideração anteriormente: durante a minha fase de "crise dos estudos", Bento ficou tão atencioso e preocupado comigo que sinceramente me irritou. Não sei como, mas irritou. E foi por isso que eu, Ahri Aikyo, pedi para que ele me desse um tempo. Não tinha como ninguém defender a minha atitude porque, assim que me lembrei disso, nem eu mesma me defendi. — Eu devo ter feito você se sentir inseguro com as minhas atitudes bruscas. Eu realmente estive fora de mim e não soube nem o que queria da minha vida durante aqueles dias! E eu te conheço, o seu semblante está carregado. Você deve estar até agora achando que você me coloca em um pedestal na sua vida apenas para que eu te retribua com nada.

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Where stories live. Discover now