- Vou adorar ouvir a história toda depois que você estiver na delegacia. Anda!

Sob a mira do revólver eu obedeci e o segui para fora. Na viatura havia um policial fardado no volante.

- Então tinha alguém realmente na casa, Rick! - Falou o outro policial. - Tem certeza de que ele é bandido? Não está parecendo...

O tal Rick me enfiou dentro da viatura, sem deixar o colega concluir sua fala e dirigiu-lhe uma carranca. Depois nos seguiu em seu carro particular. Eu tentei argumentar com o outro policial.

- Aconteceu um engano. Estou hospedado naquela casa.

O policial permaneceu mudo diante dos meus protestos. Pelo menos não tinha me algemado, pois seria humilhação demais.

Tentei me manter frio. Não adiantava fazer um escândalo. Eu precisava ligar para a Betina. Eles deviam ter me confundido com alguém, afinal, qual a lógica daquele homem em concluir que eu era algum criminoso?

Chegamos na delegacia. Fiquei numa sala esperando ser chamado. Com certeza o tal Rick estava fazendo a oitava do condutor. Não demorou muito e eu fui chamado a sentar na frente do escrivão. O delegado, um homem já idoso acompanhava tudo e o Rick também. Ele não parecia nada feliz.

- Vi seus documentos. É da família Servantes. É a mesma da rede de supermercados? - o delegado perguntou.

- Sim! - Me apressei em falar - A dona da casinha é a Betina e eu a conheço.

- Então você é amigo da moça grávida. - O delegado deu um riso de canto - Saiba que ela é namorada do policial Rick e por isso ele ficou furioso quando te viu lá dentro.

Namorado da Betina? Eu tinha ouvido direito ou estava delirando?

- Senhor, não sou namorado da Betina. - Rick corrigiu e eu o vi corar.

- Você passa horas enfurnado naquela casa feia com a garota...

Eu não ouvi o resto. Só conseguia pensar que o outro homem entrou na casa da Betina destrancando-a pelo lado de fora. Ele certamente tinha as chaves, o que mostrava que eram íntimos sim.

Senti meu rosto queimar de raiva. Aquela garota estava brincando comigo? Tinha transado com aquele homem estando grávida de um filho meu?

- Eu tenho direito a uma ligação, não é? - questionei irritado.

A minha vontade era ligar para a Betina e fazê-la esclarecer tim-tim por tim-tim sobre aquela história, mas fiquei frio e tentei ligar para o Augusto que não atendia.

- Você tenta mais tarde. Enquanto isso, vamos localizar a moça.

O delegado se mostrou mais compreensivo, mas o segundo homem tinha uma carranca difícil de arrancar da cara. E a minha não era melhor que a dele, mas eu tinha a satisfação de ter dado um soco naquela boca arrogante.

- Sr. Servantes, enquanto não localizarmos a senhorita Betina para confirmar sua história, o senhor permanece detido. Sinto muito e sei que logo tudo estará esclarecido. Aceita um café?

- Por que está babando ovo para esse cara? - Rick se aproximou - Ele pode estar inventando tudo isso. Todo mundo na cidade sabe que a Betina mora sozinha e esse cara bem pode ser um maníaco!

Procurei segurar dentro de mim a raiva ou eu avançaria violentamente contra aquele policial de meia tigela.

- Você está de folga Rick, pode voltar para casa que cuidamos de tudo por aqui. - O outro policial falou, dando um tapinha camarada no braço do homem.

- Eu vou ficar aqui, não tenho nada de importante para fazer em casa. - Respondeu o homem, me encarando de longe.

Eu não via a hora daquele pesadelo acabar. E o Augusto parecia ter desaparecido da face da Terra. Justo agora!

Demorou muito tempo e finalmente ouvi o delegado falando ao telefone. Parecia que finalmente tinha feito contato com a Betina. Não demorou muito e a vi entrando pela porta principal, os cabelos desalinhados pela correria. Se apoiou no balcão e perguntou por mim. Quando me avistou sentado num banco no canto da delegacia, começou a vir em minha direção, mas foi interceptada.

- Você está bem? - Rick a bloqueou, colocando as mãos em seus ombros.

- O que está acontecendo? Porque ele está aqui? - Betina perguntou, apontando para mim.

- Eu cheguei nessa madrugada de São Paulo. De manhã fui passar na sua casa e percebi uma movimentação estranha. E esse homem estava lá, de bermuda, desalinhado... - Rick parecia impaciente. - Deduzi que fosse alguém que tentaria fazer mal para você. Sei que veio fugida pra cá...

- Não, é um engano. - Explicou e tentou vir em minha direção, mas o policial a impediu e a conduziu pelo braço até a sala do delegado e lá ficaram por um bom tempo até que todos saíram.

- Soltem o rapaz e devolvam a carteira dele. - Ordenou o delegado. - A moça confirmou que houve um engano.

- Você tem certeza de que esse cara não é uma ameaça? Não sei porquê, mas não vou com a cara dele...

Quando me soltaram eu peguei minha carteira e sai andando, sem falar com ninguém. Estava furioso. Nunca fui tão humilhado! Não tinha a menor ideia de como voltar para a casa da Betina e meu carro estava estacionado na praça. Nada estava cooperando.

Escutei passos atrás de mim. Era ela, a infeliz que conseguiu arruinar ainda mais meus dias.

- Espera Cristian, eu não consigo te acompanhar.

- Pede para o seu namorado te levar para casa!

- Não seja babaca! - Betina falou, com urgência. - Você está sem camisa, no sol e certamente perdido. Eu vou chamar um táxi e vamos para casa.

Eu parei de andar porque ela tinha razão. Havia um táxi logo na esquina e entramos nele, em silêncio. Em sete minutos chegamos em nosso destino. Ela destrancou a porta, eu entrei como um furacão e comecei a procurar minhas coisas.

- O que você está fazendo, Cristian?

- Estou indo embora, não é óbvio?

INABALAVEL: Me Rendendo ao Ex-cunhado Onde as histórias ganham vida. Descobre agora