020. Albert Einstein

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Ao escutar tudo o que eu disse, ela não respondeu mais nada em palavras, apenas balançou a cabeça ainda repousada no meu ombro em um sinal afirmativo. Ficamos mais alguns segundos em pleno silêncio. E confesso que, por mim, teríamos ficado ainda mais tempo por ali se ela não tivesse tido a brilhante ideia de quebrar o nosso singelo momento fofo com os seguintes dizeres:

— Você está fedendo querosene — só isso aqui foi o suficiente para eu me afastar dela o mais rápido que pude. Ao esticar os meus braços por cima de seus ombros, com as minhas mãos repousadas neles e portando uma expressão séria no meu rosto, pude perceber que a face dela estava, na verdade, confusa. Logo após me fitar nos olhos, perguntou: — Você estava trabalhando ou fazendo algum tipo de teste para começar em um novo emprego?

E a ninja Ayumi ataca novamente. Dessa vez, ela conseguiu me pegar totalmente desprevenida.

— Está tão na cara assim? — Eu a perguntei, e assim, aproveitei que já estava com o braço esticado para esticar um pouco mais para cima e dar uma cheirada em mim mesma. De fato, eu estava fedendo querosene.

Percebi a minha irmã dando de ombros na minha direção após ouvir a minha pergunta. Isso antes de me fazer uma interrogação, também:

— E você tem uma margem de quando vai sair o resultado?

— Pior que não — e foi neste momento que eu me lembrei de um ponto bem importante: durante a entrevista, eu de fato não havia perguntado ao moço que estava acompanhando a mim e ao Bento quando eu receberia uma resposta. Quando foi que eu comecei a ser tão desatenta assim? Eu não era desse jeito na faculdade. — Mas creio que na próxima semana eu já estarei fichada.

Eu esperava isso, pelo menos. Se desse certo, eu estaria dentro da empresa de Táxi Aéreo contratada pela assessoria dos meninos e junto do jatinho que eu estaria tentando impedir de cair futuramente! Isso era muita coisa. Seria um passo muito grande e muito bem dado para que o meu plano saísse como o planejado.

É, eu com certeza devo ter feito alguma cara muito óbvia depois da minha última fala. Isso porque, nos segundos que fiquei viajando na maionese em relação ao meu talvez futuro emprego, a minha irmã estava me encarando de uma forma como se fosse capaz de ler os meus pensamentos — vindo dela, eu não duvidava que estaria mesmo, mas enfim... Quando voltei a fixar o meu olhar sobre a minha caçula, eu pude ver claramente estampado na sua face que ela desconfiava da minha pessoa. Tal tese foi reforçada no exato momento em que ela abriu a boca e pronunciou as seguintes palavras:

— Não é em dois mil e vinte e três, né?

Sabe aquela pergunta que soa mais como se fosse uma afirmação? Sim, era exatamente essa. Ela não queria tirar a dúvida de que era nos anos dois mil. Ela simplesmente tinha a certeza de que aquela entrevista de emprego aconteceu nos anos noventa. E como vocês sabem tão perfeitamente quanto eu, queridos leitores, ela estava totalmente certa. Como sempre. Tudo o que me restou foi revirar rapidamente os meus olhos e negar com a cabeça, para ver se eu conseguia tapear ela de alguma forma. Infelizmente não deu certo.

— Ahri, você está ciente da merda que está fazendo? — Agora essa frase realmente me deu medo. Ela pronunciou isso de uma forma tão grosseira que mesmo que não tenha sequer se movido do seu lugar, eu senti como se ela estivesse me dando uma surra. — Você por acaso perdeu totalmente a noção do certo e do errado? Virou uma delinquente?

— E você sabe qual é o seu problema? — Ah, para. Me chamar de delinquente foi o cúmulo do ridículo. Confesso que isso me fez perder a paciência na hora e partir para cima dela com palavras, da mesma forma como ela estava tentando fazer comigo. — Você simplesmente não escuta o que os outros têm a dizer e sai tirando conclusões precipitadas! Por acaso me perguntou o que tem a ver uma coisa com a outra e por que eu fiz a entrevista de emprego lá?

Playing Against Time | Bento Hinoto [SENDO REPOSTADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora