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Já era a terceira vez nessa semana que eu me encontrava no pequeno corredor silencioso, esperando que a psicóloga me chamasse pra conversar. Infelizmente a necessidade de ser excelente em tudo na faculdade, acabou desencadeando alguns traumas e gatilhos do passado.

Tudo ao meu redor não fazia o mínimo sentido, era como um silêncio profundo e um barulho irritante que nunca mais parava. Eu só queria paz na minha mente e sossego para minha alma.

Graças à Deus o campus tinha uma psicóloga, praticamente uma mãe para todos os universitários, ela sempre estava disposta a ouvir cada um de nós e eu fazia proveito disso. Depois de cinco meses fazendo terapia com ela, uma suspeita de ansiedade generalizada surgiu, mas nada era confirmado.

Após eu me despedir de Miguel naquela noite, tudo não foi como planejado, ele não conseguiu vaga na mesma faculdade que a minha e continuava morando longe, foi necessário um término. Só conseguíamos nos ver durante os fins de semana, mas isso acabou se tornando cansativo para ambos e a insegurança das duas partes surgiu à tona.

Miguel têm fãs na nova faculdade, fãs que o seguem e enviam cartinhas com presentes para ele toda hora. Eu sei que Miguel não dá bola, mas eu sabia que uma hora ele iria acabar se interessando por outra garota e não ser totalmente fiel à mim.

Embora eu ainda sinta algo por ele, eu acho melhor essa distância e evitar qualquer tipo de contato, sentia que estava criando certa dependência emocional no Miguel, o que não era coisa boa.

— Liz? – a doutora apareceu na fresta da porta e deu um longo sorriso ao me ver. – Pode entrar.

— Boa tarde, dra. Sol – eu adentrei em seu consultório com um sorriso amarelo. – Desculpa por incomodar novamente, mas aconteceu de novo.

— Eu sei – Sol fechou a porta e sentou-se em sua poltrona de frente para mim. – Brady me falou.

— Ele te falou? Ai que vergonha! – eu cobri o rosto totalmente vermelho. – Eu já não sei o que fazer, não queria que ninguém escutasse.

— Liz, eu não vou dizer que é totalmente normal você ter uma crise a ponto de você se auto agredir, mas não precisa ter vergonha – Sol se esticou pegando seu caderninho que estava sobre uma mesa. – Você tem feito os exercícios?

— Sim, mas eles não tiveram resultados – eu mexi no cabelo e suspirei fundo. – Ontem eu tive uma crise porque eu não estou sabendo equilibrar tudo o que acontece na minha vida.

— Mas você se lembra do que desencadeou a crise?

— Não muito – cocei a cabeça na tentativa de lembrar do que aconteceu ontem. – Eu estava estudando pra uma prova, quando de repente eu lembrei de alguém do passado e acabou resultando nisso – Sol me olhou parecendo que já sabia que eu tinha mais coisa pra falar. – Eu não me sinto digna de receber amor verdadeiro. O único namoro que eu tive foi resultado de um namoro falso. Eu fingi namorar ele pois ele queria fazer ciúmes para uma garota, eu topei porque não sentia nada por ele na época. Depois de um tempo refletindo, percebi que talvez eu sirva pra ser aquela que os garotos usam para fazer ciúmes e nao querem nada sério. Eu sei que namoramos sério depois, mas eu percebi que se não fosse por um namoro falso, ele nunca teria me amado – meu coração estava acelerado e meus olhos cheios de lágrimas. – Foi ali que eu percebi que não nasci pra ser amada de verdade, porque depois dele, eu nunca mais namorei ou amei alguém. Eu não mereço amor.

— Liz, você sabe que é digna de amor sim, mas ainda não reconheceu isso – Sol ajeitou a postura e voltou a falar. – Você acha que não merece amor porque não se ama de verdade. Na sua cabeça, apenas o amor das pessoas é válido, menos o seu. Mas entenda uma coisa, o que vai nos fazer amar e sermos amadas é o amor próprio. Sem ele, como você vai entender como é amar e ser amada, Liz?

BOUND 2 || Miguel Cazarez Mora Donde viven las historias. Descúbrelo ahora