— Oi, pequetito! — Ramiro diz ao sair do banco do motorista, indo até Kelvin para deixar um selinho rápido naquele bico chateado e logo volta para buscar as compras. Kelvin o acompanha para tentar pegar algumas das sacolas, mas acaba ficando com apenas duas nas mãos, das mais leves, pois Ramiro junta quase todas consigo, ainda conseguindo se equilibrar para buscar a chave do carro em seu bolso e trancar-lo.

— Cê demorou demais, Rams... — Logo vem a reclamação de Kelvin enquanto os dois caminham para dentro do Naitandei, com Ramiro sendo cumprimentado rapidamente pelos funcionários, que finalizam os últimos detalhes da decoração. — E a gente ainda tem que arrumar tudo antes do bar abrir. — Kelvin continua, subindo a escada para o andar dos quartos junto do namorado.

Kelvin e Ramiro deixam os sapatos na entrada do quarto que agora pertence a ambos e o adentram, colocando as sacolas de compras em um canto do compartimento. Ultimamente, depois de quase um ano desde que começaram a morar juntos, aquele lugar parece ter cada vez mais a cara dos dois: os cremes capilares de Kelvin misturados com os shampoos "de macho" de Ramiro no banheiro, as roupas coloridas e brilhosas junto com camisetas e calças monocromáticas, além dos sapatos altos cedendo espaço às botas desgastadas na sapateira ao lado da porta.

— Tinha muita gente lá, benzinho, foi um sufoco só. — Ramiro explica, já tirando a roupa do dia para trocar por uma mais confortável. Ele até correria ao banheiro para tirar o suor do corpo com um banho demorado, mas Kelvin tem planos para aquele fim de tarde que provavelmente ainda o farão suar, então Ramiro não se dá ao trabalho. — Mas eu trouxe tudo o que ocê pediu. — Complementa, não falando sobre a última coisa que comprou naquela tarde, que havia ficado bem guardada no porta-luvas da caminhonete.

Depois de vestir uma camisa mais leve e um dos shorts que Kelvin o presenteou há algum tempo, Ramiro ajuda o namorado a tirar cada item das sacolas e os espalhar pelo chão para que eles os organizem. Ele também pega as compras da semana anterior e tira de lá uma caixa de papelão alta e estreita. Ali dentro, está a árvore de Natal de Kelvin e Ramiro. Apenas deles.

Há alguns meses, Ramiro e Kelvin conversaram sobre o que fariam naquele Natal, considerando todos os problemas que tiveram no ano anterior. Aquela época é algo que nenhum dos dois gosta muito de se lembrar – a situação extrema de abuso em que Ramiro estava e as medidas drásticas que Kelvin precisou tomar para tirar-lo dela não são exatamente o que se considerariam boas lembranças para o casal –, mas, como aprenderam a fazer depois de vários desentendimentos, eles usaram o diálogo para s decidirem o que fazer.

E foi ali, abraçados na cama em uma noite comum para os dois, que o casal decidiu fazer um Natal para eles próprios. O bar seguiria a rotina normal daquela época, a comemoração no andar debaixo continuaria a mesma, mas Kelvin e Ramiro fariam o Natal mais tradicional que conseguissem naquele quartinho e com a música alta do Naitandei atravessando as paredes finas. Porque agora eles eram uma família – composta por apenas duas pessoas, sim, mas, ainda assim, uma família. E eles só tem um ao outro.

— Amor, eu acho que essa parte encaixa aqui. — Kelvin diz, segurando o manual de instruções que veio junto com a árvore e apontando para uma das peças do objeto. Ele está em pé na cama para chegar à altura do topo da árvore e ver o que está faltando, enquanto Ramiro segura um dos ramos e tenta encontrar o local que Kelvin está indicando. — Ai, que dificuldade, pra quê tanta coisa! — Ele reclama, mas acaba rindo junto de Ramiro.

— Pronto, pelo menos a árvore tá montada! — Ramiro comemora quando eles finalmente conseguem encaixar cada parte da árvore de Natal uma na outra e ela fica em pé no chão do quarto sem cambalear.

Entre risadas felizes, os dois trocam um olhar carinhoso, sabendo que ambos estão sentindo o mesmo; uma felicidade genuína misturada com a realização de poder estar fazendo isso com quem amam.

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⏰ Last updated: Dec 26, 2023 ⏰

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