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- Fique quieta, me dê a folha, eu respondo isso, e então terminamos - Lauren instruiu ao pararem próxima a porta que dava para a entrada do refeitório. A grande quantidade de pessoas que passavam por elas era intensa, mas estarem no canto da parede as impedia de serem atropeladas pelos estudantes.

- Eu farei a entrevista, tal qual o professor solicitou! - Camila, literalmente, bateu o pé, arredia. - Não é porque não estamos mais em sala de aula que burlarei as condições que ele impôs!

Lauren grunhiu, extremamente irritada e sem paciência.

- Você definitivamente é irritante!

- Além disso, você não fez suas perguntas para mim, lembra? Isso é para ser bilateral, uma via de mão dupla. Literalmente dupla - riu, não se incomodando em dar atenção ao estresse de sua companheira, já notou que Lauren era esquentadinha. Isso seria um grande problema caso estivessem em uma entrevista de emprego de verdade. Graças a Deus não era, não queria sofrer com as consequências dessa contratação imprudente só porque resolveu ignorar o principal e foi fútil em priorizar a beleza da garota! - Vamos! Eu estou com fome! - Falou ao pegar na mão da mais velha e puxá-la pra dentro do grande salão.

Por segundos, Lauren teve mil diferentes tipos de surtos internos. Percebeu que a garota da qual gostava se sentaria com ela e seus amigos, que não tinha de fato feito as perguntas a ela ainda, e que, agora, elas tinham seus dedos entrelaçados.

Engolindo a seco, deixou-se ser levada pela garota que metralhava palavras como se Lauren estivesse lhe dando algum ouvido, totalmente alheia ao nervosismo e pavor da mais velha.

Lauren não era uma pessoa de contato físico gratuito, nunca foi, principalmente com estranhos, e o fato de o estar fazendo, e o fazendo com a menina que gostava, só a deixava mais em pani. Não entendia bem o que estava sentindo, se era uma coisa boa ou não. Suas emoções estavam em um conflito confuso, o terror e o prazer, a adrenalina e a inquietude, a tomando de assalto a ponto de, em dado momento, puxar sua mão com brusquidão para fora da outra.

Não podia lidar com aquilo. Era muito para digerir. Estar falando com Camila, que sempre admirou de longe, e que se revelou ser uma chata - ainda que muito engraçada, fofa e divertida, e até meiga - finalmente fez sua ficha cair. Aquele em si já era um grande passo, e, de repente, já estava até tocando-a!

Não. Definitivamente, muito para um dia só.

Alheia aos conflitos internos de sua dupla, Camila se distraiu ao perceber a presença de Grace, uma senhora que trabalhava na cantina. Acenou com genuína empolgação para a senhora, feliz por vê-la bem. Da última vez que recebeu notícias, ela estava acamada.

- Grace! - Sorriu, e não hesitou em puxar a senhorinha de cabelos já cinzas para um abraço levemente apertado. Amava o cheiro de vó que ela remetia. Por muitas vezes, pegava-se desejando que ela fosse sua avó, dessa forma, teria alguém para onde ir nas tardes de domingo, comer besteiras, assistir à  series e novelas mexicanas e fofocar. Era um sonho que nunca teria, não com suas avós verdadeiras, ao menos. Uma era uma perua pra lá de chique e botoxida, nada de realmente solido ou interessante saía de sua boca emburrachada. A outra, morava a milhas de distância, e a desprezava como neta simplesmente por conta de uma richa com a própria filha. Uma tristeza. - Que bom que está bem!

- Menina Camila - a senhora sorriu, tão feliz com sua presença quanto a outra. Era uma das poucas pessoas naquela constituição que a tratava como um ser humano e não uma simples funcionária obrigada a somente cumprir com suas funções ou servir. - Como está bonita, bambina - elogiou ao afastar-se, os dedos já um pouco estrofiados e trêmulos afastando-lhe a franjinha dos olhos. Sem os óculos de leitura suas vistas ficavam desprotegidas contra os fios teimosos.

Ossos do AmorOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz