Capítulo 3

158 36 22
                                    

A CHAMA AZUL

ALANA

A lua ainda estava cheia e brilhante, lançando sua luz sobre as árvores sombrias, criando um cenário de conto de fadas macabro. Todo o meu corpo estava em alerta; o vento parecia sussurrar segredos aos meus ouvidos que eu não conseguia entender. Desde aquele dia mais cedo, parecia que tudo estava me levando até ela, a floresta. Observei-a com cautela, enquanto o meu coração batia descompassadamente. A mata era densa, com muitos galhos retorcidos de árvores centenárias, como se pudessem alcançar o céu. Algumas dessas árvores, as mais próximas de nós, pareciam mortas, com galhos que mais pareciam mãos esqueléticas, ansiosas por agarrar quem quer que ousasse entrar ali.

Maeve pareceu lembrar de algo e se aproximou mais de mim, levando a mão ao meu cotovelo suavemente e puxou a manga do meu vestido duas vezes.

— Lana... vê essas árvores mais secas? Estas que parecem ter saído de um dos mundos do Tim Burton? — perguntou ela.

— Sim... — confirmei com a cabeça sem tirar os olhos delas.

— Enquanto me trocava, minha colega de quarto estava falando algo sobre elas... Sei que pode não ser o momento certo para isso, mas você prefere ouvir sobre elas agora ou só amanhã, quando estiver de dia? — perguntou ela, sabendo que, embora eu adorasse coisas do tipo, ironicamente, tanto eu como ela, ficávamos sendo assombradas pela nossa própria criatividade.

Mordi o lábio enquanto considerava o que decidir, afinal, sempre foi assim... Eu tinha a sensação de que uma porta se abria quando eu entrava nesses assuntos, como se fosse a personificação da frase de Friedrich Nietzsche: "Quando você olha por muito tempo para um abismo, o abismo também olha para dentro de você." Por momentos, parecia impossível me aproximar de algo sem que aquilo voltasse dez vezes mais forte, e eu sei que deveria ter medo e me afastar de tudo relacionado. No entanto, aquilo me fascinava de forma sem igual.

— Bom, já estou no ciclo de coisas macabras hoje. Me diga...

Ela pigarreou e se inclinou mais em minha direção.

— Dizem que na época das cruzadas, todas as mulheres da região que foram acusadas de bruxaria foram mortas enforcadas nessas árvores. Por isso essas árvores, ao contrário das outras, secaram e tomaram essas formas sinistras. Dizem até que uma das últimas bruxas que apareceram por aqui foi a responsável pela morte do lorde que era dono dessas terras.

— Por que ela fez isso? — questionei.

— Bem... dizem que ele tinha um caso com a mãe da garota, que foi assim que o lorde descobriu que era bruxa e, logo que teve certeza, mandou a matar em uma dessas árvores. Inclusive, a bruxa que o matou, queimou-o amarrado na mesma árvore em que a mãe dela foi executada.

Assim que ela terminou de contar, um zunido forte e ensurdecedor invadiu meus ouvidos, acompanhado de uma dor de cabeça insuportável. Minhas pernas fraquejaram, e eu caí de joelhos no chão, com Maeve ao meu lado, visivelmente desesperada. De forma estranha, por trás desse zunido, percebi os sons de gritos ecoando, como se emanassem de dentro de mim.

— Lana! Lana! — Maeve exclamava, mas sua voz parecia distante, como se estivesse a muitos metros de mim.

Lágrimas quentes rolaram pelo meu rosto e, então, como se tudo tivesse sido apenas uma ilusão, o zunido passou, e a dor desapareceu. Ofegante, ergui o olhar e o fixei na Maeve que estava abaixada na minha frente, exibindo uma expressão preocupada.

Senti-me mal por tê-la preocupado e, quando estava prestes a dizer que estava me sentindo melhor, percebi, por cima do ombro dela, uma pequena chama azul que parecia estar aumentando. O sangue gelou nas minhas veias, pois não havia explicação para aquela chama ali. Pior ainda, assim que meus olhos se fixaram na chama, ela se moveu em direção à floresta. Maeve notou minha surpresa e voltou seu olhar para trás, também percebendo o movimento da chama azul.

O preço de um Contrato | Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora