Prólogo

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Eram 03:47 da madrugada quando meus olhos decidiram se abrir lentamente e perceber que mais uma vez eu havia falhado em regular o meu sono e manter uma rotina saudável.

Sem nem ter chances de me situar do que eu faria em seguida logo percebi que dormi com meus braços encima do teclado, me deixando com várias marcas de pressão na pele e uma aba do Word aberta com vários "MQUVLivwoevflxnMQLWPWHCOCN7728W9999999999999999hbwiwbdodBPPPPPPOOOSMS000nnn" escritos por pelo menos 200 páginas.

Respirei fundo e deletei todo o arquivo, as últimas cinco frases que eu havia escrito não me tornariam uma escritora de sucesso de qualquer forma.
Levantei a caminho do banheiro pensando em quanto era mais fácil escrever quando eu ainda estava na faculdade, meus professores e colegas sempre tinham como me ajudar de alguma maneira, até os alunos de filosofia liam meus trabalhos vez ou outra. Mas de um tempo pra cá tem sido cada vez mais difícil, é como se tudo o que me restasse como suporte fosse o piso amadeirado do meu apartamento, os discos de vinil empoeirados na estante e o sofá azul-marinho rasgado pelas garras da Pepe na sala.

De qualquer forma eu ainda era uma escritora, eu só não conseguia finalizar nenhum trabalho desde que saí da faculdade, tanto faz, eu acho.

O espelho manchado do banheiro é sempre o meu pior inimigo, e dessa vez ele não teve piedade, me entregou todas as falhas de um cabelo frizado por pelo menos três dias o qual eu estava tentando ignorar. Minha vontade era deitar na cama e voltar a dormir, mas aquela era a oportunidade perfeita para um banho perfeito.

Banhos de madrugada sempre foram minha paixão, é como se a noite pertencesse completamente à mim e ao meu corpo. Pensei brevemente em tomar um banho rápido e disperso para não pesar na conta de luz, mas eu estava tão exausta que permiti que aquele momento durasse um pouco mais de dez minutos.

Pude ouvir do outro lado da porta Pepe arranhando a madeira pedindo para entrar, logo desliguei o chuveiro deixando apenas o vapor e o cheiro de pêssego do meu shampoo favorito sobrevoar o ambiente.

Eu e Pepe estávamos igualmente cansadas, vesti um pijama confortável e finalmente encontrei minha cama.

Coloquei o despertador para me acordar às 10h, horário em que eu e Tate havíamos marcado de tomar café em frente ao nosso ponto de encontro favorito. Já espero a decepção no olhar dele quando eu disser mais uma vez que não tenho nada de novo para saciar sua fome de leitor, mas ainda sim vai ser divertido comentar sobre as 200 páginas de infinitos dígitos que escrevi essa madrugada.

Me viro proxima de Pepe e sinto minhas pálpebras pesaram, amanhã o Roller Mazer vai estar lotado, espero que dessa vez eu encontre uma inspiração que valha a pena.

Amor sobre rodas Where stories live. Discover now