Capítulo 01

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|Anelise|

[...]

— Você está me machucando, Aron! — tentei soltar meu pulso de sua mão que me apertava com brutalidade.
— Eu nem comecei, Anelise! — abriu a porta do quarto de uma vez e nós dois entramos.

[...]

Sentei de uma vez na cama, ofegante, suando frio e trêmula, minhas mãos, minhas pernas, eu tremia como se Aron estivesse ali dentro daquele quarto.
— Seja o que for, foi só um pesadelo! — Agatha afastou os cobertores, sentou-se ao meu lado na cama e me abraçou apertado.
— Sim, foi um pesadelo, só isso, meu amor! — retribui seu abraço apertado. Eu não contava dos meus pesadelos para Agatha, mas imagino que ela já sabe quem atormenta minhas noites de sono.
— Já amanheceu! Temos que levantar, hoje é a inauguração da sua floricultura. — deixou um beijo na minha bochecha.
— Nossa floricultura! — a corrigi e ela assentiu, esticando seu braço até o criado-mudo, onde tinha um panfleto da nossa floricultura.
— Flor da Manhã Floricultura.
— Ainda não sei se gosto desse nome. — me deitei novamente e escutei sua risada.
— Mas é melhor que aquele parecia mais o nome de uma igreja do que de uma floricultura. — se jogou ao meu lado, me fazendo rir. Ela tinha razão, Jardim do Paraíso não era muito bom. — As pessoas gostaram muito da sua ideia de abrir uma floricultura na cidade, você viu os elogios?
— Eu vi, fiquei animada por isso. — virei na sua direção e ela sorriu pra mim. — Acho que nossa floricultura vai abalar as estruturas dessa cidade, em um bom sentido, claro!
— Tomara! — cruzou os dedos. — E nunca mais vamos voltar para onde o Aron está.
— Nunca mais! — beijei sua testa.
Agatha deixou de chamar Aron de pai, não influenciei, não disse nada para que isso acontecesse, o próprio Aron fez com que sua filha não o chamasse, nem o tratasse como pai. Ela ainda é uma criança de nove anos, mas já sabe muito bem como Aron é, ela viu e viveu todo o inferno que passamos até sair daquela casa.
Espero que Lauterbrunnen nos traga o recomeço que tanto buscamos.

Nossa floricultura ficava ao lado da nossa casa, era só sair pelo portão, dar alguns passos e estávamos na porta da floricultura. Eu precisei reformar todo o salão e algumas coisas, eu mesma fiz, como colar os papéis de parede, pintar algumas prateleiras que ficavam presas às paredes e outros detalhes importantes.
É verão em Lauterbrunnen, fazia dezesseis graus e o tempo marcava chuva. As pessoas saíam nas ruas agasalhadas e levavam guarda-chuvas debaixo dos braços. Verão é sempre a melhor época para as flores na Suíça, elas desabrocham e florescem tão perfeitas, como se estivessem em um grande jardim paradisíaco.
Agatha foi matriculada em uma escola que tinha aqui na cidade mesmo, mas eram férias de verão, então ela ficava em casa comigo, andando atrás de mim o dia todo e perguntando quando iríamos distribuir mais panfletos da floricultura pela cidade.
— Você só vai me ajudar na floricultura até suas aulas começarem. Depois disso, você tem que focar no estudos! — destranquei a porta e antes que eu entrasse, Agatha colocou a mão na frente da minha perna e fez sinal de negativo.
— Vamos entrar com a perna direita pra dar sorte! — me advertiu.
Entramos na floricultura com a perna direita, senti que já era um grande e maravilhoso começo para nós duas.
Eu não preparei uma grande inauguração, apenas separei alguns botões de rosa em específico e alguns docinhos embalados, como uma lembrancinha para os nossos primeiros clientes.
— Bom dia! — uma moça entrou na floricultura minutos depois que abrimos.
— Bom dia, seja bem-vinda a nossa floricultura! Aqui com certeza é o lugar mais colorido de Lauterbrunnen. — Agatha fez uma recepção sem pausa, o que fez a moça com o semblante simpático, rir.
— Bom dia, seja bem-vinda! — dei a volta no balcão e me aproximei para cumprimentá-la com um aperto de mãos.
— Eu que dou as boas vindas a vocês, nossas novas moradoras de Lauterbrunnen. — respondeu sorridente. — Meu nome é Agnes, sou professora e nas horas vagas ajudo minha mãe. Eu amei o fato de trazerem uma floricultura pra essa cidade e como a mocinha disse, é sem sombra de dúvidas o lugar mais colorido e alegre da cidade!

Agnes foi nossa primeira cliente, ela realmente amava flores e levou vários pequenos ramalhetes, sendo eles: rosas, orquídeas e um girassol, e pra completar, levou alguns pequenos vasos de decoração.
— Eu amei muito o fato de ter uma floricultura em Lauterbrunnen, nunca tivemos uma e eu sempre amei flores. Toda vez que eu precisava buscar flores, eu tinha que pegar o trem e viajar umas duas horas, quando eu voltava, as flores não duravam muito tempo e logo murchavam por causa da viagem.
— Bom, então espero que nossa floricultura resolva esse grande problema. — respondi e ela assentiu, rindo.
— Pra mim, já resolveu muito! Boa sorte em suas vendas, tenho certeza que a floricultura vai ser um sucesso. Eu mesma farei propaganda dela pra cidade inteira.
— Muito obrigada, eu fico muito feliz mesmo!
Antes que Agnes fosse embora, entreguei o cartãozinho da loja, um botão de rosa e o docinho como lembrancinha.
— Primeiro cliente do dia satisfeito! — Agatha anotava em um caderno o nome da cliente e o quanto ela gastou na loja.
Depois que Agnes saiu da loja, recebemos outras pessoas, inclusive um senhor de oitenta anos, que estava muito feliz com a floricultura, disse que assim poderia presentear sua esposa com buquês e flores, com mais frequência do que antes.
— Eu acho que a cidade inteira realmente gostou da floricultura, mamãe. — Agatha anotava novamente o nome de mais um cliente.
— Eu também acho. Notei que nossos vizinhos vieram aqui nos dar boas vindas...
— Menos o motoqueiro. — balançou a caneta.
— Motoqueiro?
— Eu vi ele chegando hoje na casa da frente, fez cara de poucos amigos quando viu nossa floricultura e entrou em casa. Será que ele achou ruim uma floricultura na frente da casa dele?
— Ele vai acabar gostando, você vai ver!

...

MIDNIGHT SKYWhere stories live. Discover now