Deixo o local e, em poucos minutos, estou cruzando a porta do escritório.

_ Mandou me chamar! - sou rude, mando a educação às favas.

_ Boa tarde, meu filho. Pedi sim. Fecha a porta e sente-se.

Tomo uma lufada de ar para não perder o resto das estribeiras.

_ Estou bem de pé. Fala rápido que estou com muito serviço para ser feito.

_ Quero saber de você e da menina, como é que estão? - pergunta, saindo de seu assento e indo até a porta.

_ Gennaro, vamos deixar uma coisa bem clara aqui: só me chame se for algo relacionado ao trabalho, fora isso não.

Escuto a porta ser fechada, o barulho do trinco.

_ Mesmo que me rejeite, eu sou seu pai! Faz três semanas que você bagunçou a vida da garota, estou preocupado com ambos. Aurora não me parece ser uma moça fácil de lidar. Reparei nos seus trejeitos, é uma jovem mulher que gosta de luxo e dinheiro.

Mesmo não querendo dar o braço a torcer, ele estava certíssimo. A mulher não gosta da vida humilde que levamos, menos ainda de cuidar da casa e executar simples tarefas domésticas. Venho cortando um dobrado com ela.

- Estamos bem. Obrigada por sua preocupação, mas dispenso-a.

- Negar algo que posso ver a distância é burrice, meu filho. Olhe para você! Sempre tem chegado para trabalhar com as roupas amarrotadas, suas botas estão  mais sujas que os pneus do meu carro. Essa blusa que veste, que era para ser branca, está da cor do chão.

Realmente, eu estava literalmente um caco. Antes, minhas roupas eram lavadas e passadas pela minha funcionária, Maria. Assim como o serviço doméstico em minha cabana, era ela que fazia. Agora, com Aurora morando comigo, não tem como Maria aparecer todos os dias para cuidar de tudo. Ficaria uma situação sem sentido ou até mesmo embaraçosa.

Sem ter mais saída diante dos fatos, joguei a toalha. Não pretendia falar sobre tudo com meu pai.

- Ela é nova. Não sabe muito dos serviços de um lar. Creio que, com o tempo, Aurora vai aprender.

- Tomara que sim. Não quero ver você sofrendo por uma mulher que sequer cuida decentemente de suas coisas. Certos tipos de amor, Rafaello, destroem.

- Terminou?

- Não! Quero saber se pretende casar com a menina. Manoel ainda não conseguiu acalmar os nervos. Sei que tudo ainda é muito recente, mas penso na honra da jovem. Você mesmo me disse que fez dela sua mulher, agora a faça sua esposa.

_ Dê seus conselhos ao seu enteado. Sou um homem e, como tal, sei dos meus deveres. Não estou usando Aurora como um passatempo, uma diversão. Amo-a, ela é minha!

- Não é um conselho. É uma ordem!

- Você não é ninguém para me dar ordens.

- Pode pensar o que quiser de mim, mas nunca esqueça que é meu sangue que corre em suas veias. É meu DNA que está em você!

- Infelizmente, Genaro! Infelizmente!

Abro a porta e saio. Meus nervos estão piores do que antes.

"Caralho, que período horrível que estou passando" - penso, indo direto para o galpão.

A cada passo que dou, brotam na minha memória as coisas que a menina vem aprontando.

Aurora se nega a limpar a casa. Quando chego do trabalho, o meu cantinho sagrado está uma completa desorganização: louças sujas, uma pilha de roupas sujas no cesto do banheiro, cama bagunçada. Os tambores de água estão vazios, o fogão está apagado e não há nenhum alimento preparado.

Na primeira vez, deixei passar. Na segunda vez também. Agora, na terceira, briguei feio com ela.

A menina foi audaciosa, disse que não moveria um dedo para cuidar de nada que fosse meu, que eu me virasse.

Fui enfático, disse-lhe que não a sustentaria se fosse preguiçosa. Ela, por sua vez, vociferou que se está na merda, a culpa é totalmente minha e que, por eu ter feito perder a morada de seus pais, tinha a obrigação de sustentá-la.

Agora não sei se ela faz isso por pura pirraça ou se sempre foi uma mulher sem habilidades para o serviço doméstico.

Sábado passado, durante outra discussão porque ela se negava a lavar roupas, inclusive as dela. Fiquei tão cheio de raiva que peguei as peças e fiz uma fogueira. A garota ficou fora de si quando viu o fogo devorando tudo, me acusou de destruir suas coisas, peças caras, como ela disse.

Não dei a mínima e fui mais transparente que a água quando afirmei que vou voltar a queimar se ela não as lavar.

Respiro fundo, me aproximando do galpão. Estou muito cansado. Quando termino o expediente aqui, começa o de casa. Tenho que encher os galões, lavar louça, fazer comida, cuidar dos meus animais, coisas que ela se nega a fazer, molhar minha horta, arrumar a casa, lavar o banheiro. Enfim, estou tendo uma dupla jornada todos os dias.

Hoje ainda é pior, pois tenho que buscar água para beber na sede. Anselmo está de sobreaviso e aposto que os galões de vinte litros reservas estão cheios, só me esperando.

 Anselmo está de sobreaviso e aposto que os galões de vinte litros reservas estão cheios, só me esperando

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
FOREVER Mine (Para sempre minha).Where stories live. Discover now