Capítulo 2

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No dia seguinte, um belo domingo de sol, amanheci cercada por cinco bolinhas de pêlo pequenas e saltitantes – também conhecidos como a minha poodle Lady, e seus quatro filhotinhos ainda pequenos e frágeis, King, Queen, Prince e Dutchess. Eles estavam todos deitados na minha cama, em volta de mim, latindo pra que eu acordasse.

Ainda eram oito horas da manhã, mas meus cachorros não haviam sido a única coisa a me acordar. Havia um barulho a mais em casa. Um barulho humano, vindo do andar de baixo. Não podia ser nenhum empregado, é claro – infelizmente, ninguém trabalhava em casa aos domingos, o que significava uma cama desarrumada até a segunda-feira, nada de refeições preparadas e ser obrigada a eu mesma abrir e fechar todas as janelas da casa.

Podia ser a Melanie, é claro – ela e sua mania de madrugar mesmo durante as férias. Mas mesmo assim, decidi checar. Me espreguicei, levantei e saí pro corredor. A porta do quarto da minha irmã estava fechada, o que queria dizer que ela ainda estava dormindo. Comecei a ficar apavorada enquanto descia as escadas, tentando ficar o mais quietinha possível.

Lá embaixo, o barulho estava mais alto. Vinha da cozinha. Respirei fundo, tentando imaginar o que alguém poderia estar fazendo na cozinha de casa. Na ponta dos pés, fui até o arco que dividia a cozinha e a sala de jantar, e então dei um grito.

- PAI!

Corri até meu pai e o abracei com força. Arthur Schreiber, primeiro e único, estava finalmente em casa após uma longa viagem de uma semana e meia para cuidar de negócios. Papai retribuiu meu abraço, e eu fui envolta em seu cheiro habitual de charutos e roupas guardadas, dos quais eu tinha que admitir que sentia falta. Quando o soltei, seu rosto bondoso e suas roupas cafonas sorriam pra mim.

- Eu te acordei? – perguntou. Dei uma olhada na cozinha e vi que ele estava tentando fazer um café da manhã.

- Mais ou menos. – admiti, e então o abracei de novo – Como é bom ter você em casa de novo!

- A Melanie te deu muita dor de cabeça? – brincou. Revirei os olhos.

- Por incrível que pareça, sim! Mas falamos disso depois! Como foi a viagem?

- Cansativa. – e de repente ele parecia um homem que não via uma boa cama há semanas – Está com fome?

- Tudo depende do que você está aprontando pro café da manhã. – torci o nariz. Meu pai tinha cozinhado umas três vezes na sua vida inteira, e não era muito bom nisso.

- Aposto que vai ficar muito melhor do que qualquer café da manhã da sua mãe!

- Não é muito difícil.

Papai me explicou que estava tentando fazer ovos mexidos com bacon, e fiquei toda arrepiada só de pensar na quantidade de gordura e colesterol que aquilo implicaria pro meu corpinho bem conservado. Não era uma boa idéia. Eu ia precisar correr uma maratona pra me livrar daquele bacon!

Mas, afinal, papai estava em casa. E se isso significava ter que engordar um pouquinho pra ficar com ele, então por mim tudo bem.

Melanie acordou lá pelas nove horas – pasmem! – e eu pude ficar ainda mais chocada em perceber que ela estava usando mais um daqueles presentes que eu tinha dado há séculos e que ela nunca havia vestido. Dessa vez, Melanie havia desenterrado um pijama cor-de-rosa de seda, pelo qual eu tinha pagado supercaro e o qual ela nunca havia usado desde que eu o dera para ela, dois ou três anos atrás.

O fato de ela estar usando o pijaminha me serviu de base para perceber certas coisas sobre Melanie que eu certamente não conseguiria perceber num dia normal, sob o quilo de roupas cafonas que ela insistia em usar. Minha irmã havia crescido, e muito, desde a última vez que eu olhara bem pra ela – o shorts do pijama estava pelo menos um palmo acima de onde deveria estar. O que deixava um par de pernas muito bonitas e incrivelmente brancas pra fora.

Dez Coisas 2 - Patricinha em TreinamentoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora